Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Biemel (1987:161) – o mundo é uma função do Dasein

quinta-feira 3 de outubro de 2024

Trata-se agora de compreender esta função final que o mundo desempenha para o Dasein e que constitui seu caráter fundamental.

Dizer que o mundo é uma função do Dasein é dizer que ele contém o conjunto de relações que o Dasein deve necessariamente implantar para existir. Essas relações foram analisadas no início de nosso estudo: são as relações referenciais.

O Dasein dá a si mesmo seu mundo ao projetar suas possibilidades de forma original. Por meio dessa projeção, que é “lançada sobre” os entes, o Dasein dá aos entes a possibilidade de se manifestarem. O ser-no-mundo nada mais é do que este acontecimento de projeção prévia, que é, ao mesmo tempo, um desvelamento do ente (GA9  ).

Para ficar mais claro, vamos dar um exemplo concreto. Estamos falando sobre o mundo do artista. O que queremos dizer com isso? Muito simplesmente, o resultado da projeção das possibilidades do Dasein como artista. Para que surja um mundo do artista e um mundo da arte em geral, o Dasein deve realizar seu poder de ser na forma de existência artística e confiar nessa existência. E esse mundo artístico só existe na medida em que há artistas (ou pessoas capazes de entrar no projeto artístico, de assumi-lo). Assim que o Dasein se lança na possibilidade da vida artística, revela o ente — que vê do ponto de vista da arte — como um ente que é “belo”. Todas as relações que encontramos no mundo são, portanto, determinadas de antemão pela escolha que o Dasein faz da existência que assume. Teremos de voltar à escolha que tal decisão pressupõe.

[BIEMEL  , Walter. Le concept de monde chez Heidegger. Paris: Vrin, 1987]


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