Biemel (1987:134-135) – tempo temporalizado em cada existencial

A estrutura desse parágrafo §68 é, de fato, bastante complicada. Heidegger mostra como o tempo é temporalizado em cada um dos existenciais: a compreensão autêntica é temporalizada a partir do futuro, a disposição afetiva a partir do passado e a linguagem a partir do presente. Em cada um desses modos de temporalização, portanto, um dos três êxtases predomina: mas os outros permanecem presentes, porque um êxtase isolado não pode, por si só, gerar temporalização. Os três êxtases intervêm em cada um dos modos de temporalização, mas suas respectivas contribuições variam de acordo com o existencial que é temporalizado. Teríamos, é claro, que dedicar um comentário especial a esse entrelaçamento recíproco dos diferentes êxtases e às diferentes maneiras pelas quais ele é realizado; mas não podemos insistir mais nessa questão aqui.

Tudo o que acabamos de dizer mostra claramente que o tempo não é um ente. O Dasein é ele próprio temporalizante. O tempo não vem de fora, fornecendo uma estrutura simples para o desenrolar dos acontecimentos.

Se é o próprio ser do Dasein que se realiza na temporalidade, se os diferentes modos de ser são meramente diferentes modos de temporalização e se, por outro lado, há uma relação entre o Dasein e o Ser como tal, podemos argumentar legitimamente que deve haver alguma relação entre o Ser e o tempo. O “e” no título de Sein und Zeit   não expressa, portanto, uma relação arbitrária; ele não justapõe simplesmente o tempo à noção de Ser. A função desse “e” é indicar a conexão fundamental entre Ser e tempo  , uma conexão que já era suspeitada pelos gregos e que, pela primeira vez, é considerada tematicamente na obra de Heidegger.

[BIEMEL  , Walter. Le concept de monde chez Heidegger. Paris: Vrin, 1987]