Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Biemel (1987:129-131) – preocupação [Sorge] e temporalidade

sexta-feira 4 de outubro de 2024

O problema inicial era saber como o Dasein, entendido como preocupação [Sorge], pode realizar a unidade perfeita de seu ser, ou reconhecer o fundamento unificador da preocupação. Agora podemos respondê-lo: o Dasein só alcançará sua unidade perfeita se ele próprio for temporalizante. A temporalização implica o futuro, o passado e o presente. Resta-nos mostrar as relações que ligam esses diferentes êxtases aos elementos estruturais da preocupação.

A estrutura da preocupação foi expressa na fórmula: se-superar-em-já-sendo-em-(um mundo)-junto-intramundanos. “A superação está enraizada no futuro. ser-já-em… manifesta o passado-presente. Ser-junto-a… é possibilitado pela presentificação (SZ  :327)”.

A progressão do pensamento heideggeriano em Sein und Zeit   é a seguinte: Heidegger começa com a análise dos elementos fundamentais do Dasein, entendido como ser-no-mundo. Esses elementos (os existenciais) são: compreensão, disposição (afetiva) e linguagem (que não abordamos em nossa apresentação). Cada existencial revela o ser do Dasein à sua própria maneira: a compreensão revela o ser do Dasein como existência; a disposição o revela como ser-jogado, ou seja, seu caráter de facticidade, e a linguagem o revela como ser-decaído. A unidade desses três elementos fundamentais constitui a preocupação. E agora podemos vislumbrar como cada um dos elementos da preocupação é fundado, por sua vez, em um êxtase do tempo: compreensão (existência) no futuro, disposição (facticidade) no passado-presente, discursividade (ser-caído) no presente.

Algumas citações tornarão essas relações mais explícitas.

“A projeção do Dasein em direção a um “para-quê final”, uma projeção que se baseia no futuro, é o caráter essencial da existencialidade; o significado original da existencialidade é o futuro (SZ  :327).

“Por outro lado, o “já” [do já-ser] diz respeito ao sentido existencial-temporal do ser do ente que, na medida em que é, é sempre já jogado.” “Na disposição (afetiva), o Dasein se descobre para si mesmo como o ente que, enquanto continua a ser, descobre-se como já tendo sido, ou seja, está continuamente em ter sido (SZ  :328).”

“A temporalidade torna possível a unidade de existência, facticidade e ser-decaído, constituindo assim originalmente a totalidade da estrutura da preocupação (SZ  :328).”

[BIEMEL  , Walter. Le concept de monde chez Heidegger. Paris: Vrin, 1987]


Ver online : Walter Biemel