Traducción de Diego Tatián, publicada por Alción Editora, Córdoba, Argentina, 1995
¿Qué significa "cuestión del ser"? ¿Frage nach dem Sein? Cuando se dice "ser", esta palabra se comprende de antemano metafísicamente, es decir a partir de la metafísica. Ahora bien, en la metafísica y su tradición ser quiere decir: lo que determina al ente en cuanto ente; la cuestión del ser significa, pues, metafísicamente: cuestión del ente en cuanto ente; dicho de otro modo: cuestión del fundamento del (…)
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aletheuein / alethes / aletheia / alêthéia / ἀλήθεια / ἀληθής / ἀληθεύω / ἀληθεύειν
Os gregos têm uma expressão característica para a verdade: ἀλήθεια (verdade — desvelamento). Ο α é um a-privativo. Eles possuem, portanto, uma expressão negativa para uma coisa que compreendemos positivamente. “Verdade” tem para os gregos o mesmo significado negativo que, em alemão, por exemplo, “Unvollkommenheit” (imperfeição). Essa expressão não é pura e simplesmente negativa, mas negativa de uma maneira específica. Aquilo que exprimimos como imperfeito não possui, em geral, nada em comum com a perfeição, mas se orienta precisamente por ela: em relação à perfeição, ele não é como deveria ser. Essa negação é uma negação totalmente peculiar. Ela se acha com frequência velada nas palavras e significados, por exemplo, na palavra “cego”, que também é uma expressão negativa. Ser cego significa não poder ver; e só pode ser cego aquele que pode ver. Silenciar só pode aquele que pode falar. Imperfeito, portanto, é aquilo que possui uma determinada orientação ontológica pela perfeição. “Imperfeito” significa: aquilo de que ele é enunciado não possui a perfeição que ele poderia, que ele deveria ter, a perfeição que se desejaria que ele tivesse. Com relação à perfeição, falta-lhe algo, esse algo lhe foi tomado, roubado — privare, tal como o a-privativo o diz. Nos gregos, a verdade, para nós o positivo, é expressa negativamente como ἀλήθεια (verdade — desvelamento), enquanto a falsidade, para nós o negativo, é expressa positivamente como ψευδός (falso), ἀλήθεια significa: [16] não estar mais velado, estar descoberto. Essa expressão privativa indica que os gregos tinham uma compreensão de que o não encobrimento do mundo precisa ser primeiro conquistado, que ele é algo que não se acha de início e na maioria das vezes disponível. O mundo está de início fechado, ainda que não completamente; inicialmente, o conhecimento descerrador ainda não avançou em geral de maneira penetrante; o mundo só se acha descerrado na esfera mais próxima do mundo circundante na medida em que os carecimentos naturais o exigem. E precisamente aquilo que talvez estivesse originariamente descerrado na consciência natural em certos limites é na maioria das vezes novamente encoberto e dissimulado por meio da fala. Opiniões solidificam-se em conceitos e proposições, e esses conceitos e proposições são passados adiante, de tal modo que aquilo que tinha sido descerrado originariamente é uma vez mais velado. Assim, o ser-aí cotidiano se movimenta em um duplo encobrimento: de início, no mero desconhecimento, e, em seguida, porém, em um encobrimento muito mais perigoso, na medida em que o descoberto é transformado em não verdade por meio do falatório. No que se refere a esse duplo encobrimento, uma filosofia se vê colocada diante da tarefa de se arremeter algum dia pela primeira vez positivamente em direção às coisas mesmas, e, por outro lado, a assumir ao mesmo tempo a luta contra o falatório. As duas tendências são os impulsos iniciais propriamente ditos do trabalho intelectual de Sócrates, Platão e Aristóteles. Sua luta contra a retórica e a sofistica é a prova disso. A transparência da filosofia grega não é conquistada, portanto, na assim chamada serenidade do ser-aí grego, como se essa transparência tivesse sido dada aos gregos durante o sono. A consideração mais detida de seu trabalho mostra precisamente que empenho foi necessário para que eles atravessassem o caminho até o próprio ser e, ao mesmo tempo, passando pelo falatório. Isso significa, contudo, que não temos o direito de esperar receber as coisas de mão beijada, sobretudo porque estamos sobrecarregados com uma tradição rica e complexa.
LÉXICO DE FILOSOFIA