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ENSAIOS E CONFERÊNCIAS

GA7:18-19 – homem pertence à disponibilidade

A QUESTÃO DA TÉCNICA

domingo 18 de agosto de 2019, por Cardoso de Castro

Carneiro Leão

Quando tentamos aqui e agora mostrar a exploração [herausfordernde] em que se desencobre [Entbergen  ] a técnica moderna, impõem-se e se acumulam, de maneira monótona, seca e penosa, as palavras “pôr’’ [stellen  ], “dis-por” [bestellen], “dis-posição”, “dis-positivo”, “dis-ponível”, “dis-ponibilidade” [Bestand  ], etc. Isso se funda [Grund  ], porém, na própria coisa que aqui nos vem à linguagem [Sprache  ].

Quem realiza a exploração [herausfordernde] que des-encobre [Stellen] o chamado real, como dis-ponibilidade [Bestand]? Evidentemente, o homem [Mensch  ]. Em que medida o homem tem este des-encobrir [Entbergen  ] em seu poder? O homem pode, certamente, representar, elaborar ou realizar qualquer coisa, desta ou daquela maneira. O homem não tem, contudo, em seu poder o desencobrimento [Unverborgenheit  ] em que o real [Wirkliche] cada vez se mostra ou se retrai e se esconde. Não foi Platão   que fez com que o real se mostrasse à luz das ideias. O pensador apenas respondeu ao apelo que lhe chegou e que o atingiu.

Somente à medida que o homem já foi desafiado a explorar as energias da natureza é que se pode dar e acontecer o desencobrimento da dis-posição. Se o homem é, porém, desafiado e dis-posto, não será, então, que mais originariamente do que a natureza, ele, o homem, pertence à dis-ponibilidade? As expressões correntes de material humano, de material clínico falam neste sentido. O coiteiro, que, na floresta, mede a lenha abatida e que, aparentemente, como seu avô, percorre os mesmos caminhos silvestres, está hoje à dis-posição da indústria madeireira, quer o saiba ou não. Ele está dis-posto ao fornecimento de celulose, exigida pela demanda do papel, encomendado pelos jornais e revistas ilustradas. Estes, por sua vez, pre-dis-põem a opinião   pública a consumir as mensagens impressas e a tornar-se dis-ponível à manipulação dis-posta das opiniões. Todavia, precisamente por se achar desafiado a dis-por-se de modo mais originário do que as energias da natureza, o homem nunca se reduz a uma mera dis-ponibilidade. Realizando a técnica, o homem participa da dis-posição, como um modo de desencobrimento. O desencobrimento em si mesmo, onde se desenvolve a dis-posição, nunca é, porém, um feito do homem, como não é o espaço, que o homem já deve ter percorrido, para relacionar-se, como sujeito, com um objeto.

Se o desencobrimento não for um simples feito do homem, onde é e como é que ele se dá e acontece? Não carece procurar muito longe. Basta perceber, sem preconceitos, o apelo [Anspruch  ] que já sempre reivindica o homem, de maneira tão decisiva, que, somente neste apelo, ele pode vir a ser homem. Sempre que o homem abre olhos e ouvidos e desprende o coração, sempre que se entrega a pensar sentidos e a empenhar-se por propósitos, sempre que se solta em figuras e obras ou se esmera em pedidos e agradecimentos, ele se vê inserido no que já se lhe re-velou. O desencobrimento já se deu, em sua propriedade, todas as vezes que o homem se sente chamado a acontecer em modos próprios de desencobrimento. Por isso, des-vendando o real, vigente com seu modo de estar no desencobrimento, o homem não faz senão responder ao apelo do desencobrimento, mesmo que seja para contradizê-lo. Quando, portanto, nas pesquisas e investigações, o homem corre atrás da natureza, considerando-a um setor de sua representação, ele já se encontra comprometido com uma forma de desencobrimento. Trata-se da forma de desencobrimento da técnica que o desafia a explorar a natureza, tomando-a por objeto de pesquisa até que o objeto desapareça no não objeto da dis-ponibilidade [Gegenstandlose des Bestandes].

Sendo desencobrimento da dis-posição [bestellende Entbergen], a técnica moderna não se reduz a um mero fazer [Tun  ] do homem. Por isso, temos de encarar, em sua propriedade, o desafio [Herausfordern  ] que põe o homem a dis-por do real, como dis-ponibilidade. Este desafio tem o poder de levar o homem a recolher-se à dis-posição [Bestellen]. Está em causa o poder que o leva a dis-por do real, como dis-ponibilidade. [GA7CFS:21-23]

André Préau

Si en ce moment, où nous tentons de montrer la technique moderne comme le dévoilement qui provoque, les expressions « interpeller », « commettre », « fonds » s’imposent à nous et s’accumulent d’une manière sèche, uniforme, donc ennuyeuse, ce fait a sa raison d’être dans le sujet qui est en question.

Qui accomplit l’interpellation pro-voquante, par laquelle ce qu’on appelle le réel est dévoilé comme fonds? L’homme, manifestement. Dans quelle mesure peut-il opérer un pareil dévoilement? L’homme peut sans doute, de telle ou telle façon, se représenter ou façonner ceci ou cela, ou s’y adonner; mais il ne dispose point de la non-occultation dans laquelle chaque fois le réel se montre ou se dérobe. Si depuis Platon le réel se montre dans la lumière d’idées, ce n’est pas Platon qui en est cause. Le penseur a seulement répondu à ce qui se déclarait à lui.

C’est seulement pour autant que, de son côté, l’homme est déjà pro-voqué à libérer les énergies naturelles que ce dévoilement qui commet peut avoir lieu. Lorsque l’homme y est pro-voqué, y est commis, alors l’homme ne fait-il pas aussi partie du fonds, et d’une manière encore plus originelle que la nature? La façon dont on parle couramment de matériel humain, de l’effectif des malades d’une clinique, le laisserait penser. Le garde forestier qui mesure le bois abattu et qui en apparence suit les mêmes chemins et de la même manière que le faisait son grand-père est aujourd’hui, qu’il le sache   ou non, commis par l’industrie du bois. Il est commis à faire que la cellulose puisse être commise et celle-ci de son côté est provoquée par les demandes de papier pour les journaux et les magazines illustrés. Ceux-ci, à leur tour, interpellent l’opinion publique, pour qu’elle absorbe les choses imprimées, afin qu’elle-même puisse être commise à une formation d’opinion dont on a reçu la commande. Mais justement parce que l’homme est pro-voqué d’une façon plus originelle que les énergies naturelles, à savoir au « commettre », il ne devient jamais pur fonds. En s’adonnant à la technique, il prend part au commettre comme à un mode du dévoilement. Or, la non-occultation elle-même, à l’intérieur de laquelle le commettre se déploie, n’est jamais le fait de l’homme, aussi peu que l’est le domaine que déjà l’homme traverse, chaque fois que comme sujet il se rapporte à un objet.

Où et comment a lieu le dévoilement, s’il n’est pas le simple fait de l’homme? Nous n’avons pas à aller chercher bien loin. Il est seulement nécessaire de percevoir sans prévention ce qui a toujours réclamé l’homme dans une parole à lui adressée, et cela d’une façon si décidée qu’il ne peut jamais être homme, si ce n’est comme celui auquel une telle parole s’adresse. Partout où l’homme ouvre son œil et son oreille, déverrouille son cœur, se donne à la pensée et considération d’un but, partout où il forme et œuvre, demande et rend grâces, il se trouve déjà conduit dans le non-caché. La non-occultation de ce dernier s’est déjà produite, aussi souvent qu’elle é-voque l’homme dans les modes du dévoilement qui lui sont mesurés et assignés. Quand l’homme à l’intérieur de la non-occultation dévoile à sa manière ce qui est présent, il ne fait que répondre à l’appel de la non-occultation, là même où il le contredit. Ainsi quand l’homme cherchant et considérant suit à la trace [1] la nature comme un district de sa représentation, alors il est déjà réclamé par un mode du dévoilement, qui le pro-voque à aborder la nature comme un objet de recherche, jusqu’à ce que l’objet, lui aussi, disparaisse dans le sans-objet du fonds.

Ainsi la technique moderne, en tant que dévoilement qui commet, n’est-elle pas un acte purement humain. C’est pourquoi il nous faut prendre telle qu’elle se montre cette pro-vocation qui met l’homme en demeure de commettre le réel comme fonds. Cette pro-vocation rassemble l’homme dans le commettre. Pareil « rassemblant » concentre l’homme (sur la tâche) de commettre le réel comme fonds. [GA7AP:23-26]

William Lovitt

The fact that now, wherever we try to point to modern technology as the challenging revealing, the words “setting-upon," “ordering," “standing-reserve," obtrude and accumulate in a dry, monotonous, and therefore oppressive way, has its basis in what is now coming to utterance.

Who accomplishes the challenging setting-upon through which what we call the real is revealed as standing-reserve? Obviously, man. To what extent is man capable of such a revealing? Man can indeed conceive, fashion, and carry through this or that in one way or another. But man does not   have control over unconcealment itself, in which at any given time the real shows itself or withdraws. The fact that the real has been showing itself in the light of Ideas ever since the time of Plato, Plato did not bring about. The thinker only responded to what addressed itself to him.

Only to the extent that man for his part is already challenged to exploit the energies of nature can this ordering revealing happen. If man is challenged, ordered, to do this, then does not man himself belong even more originally than nature within the standing-reserve? The current talk about human resources, about the supply of patients for a clinic, gives evidence of this. The forester who, in the wood, measures the felled timber and to all appearances walks the same forest path in the same way as did his grandfather is today commanded by profit-making in the lumber industry, whether he knows it or not. He is made subordinate to the orderability of cellulose, which for its part is challenged forth by the need for paper, which is then delivered to newspapers and illustrated magazines. The latter, in their turn, set public opinion to swallowing what is printed, so that a set configuration of opinion becomes available on demand. Yet precisely because man is challenged more originally than are the energies of nature, i.e., into the process of ordering, he never is transformed into mere standing-reserve. Since man drives technology forward, he takes part in ordering as a way of revealing. But the unconcealment itself, within which ordering unfolds, is never a human handiwork, any more than is the realm through which man is already passing every time he as a subject relates to an object.

Where and how does this revealing happen if it is no mere handiwork of man? We need not look far. We need only apprehend in an unbiased way That which has already claimed man and has done so, so decisively that he can only be man at any given time as the one so claimed. Wherever man opens his eyes and ears, unlocks his heart, and gives himself over to meditating and striving, shaping and working, entreating and thanking, he finds himself everywhere already brought into the unconcealed. The unconcealment of the unconcealed has already come to pass whenever it calls man forth into the modes of revealing allotted to him. When man, in his way, from within unconcealment reveals that which presences, he merely responds to the call of unconcealment even when he contradicts it. Thus when man, investigating, observing, ensnares nature as an area of his own conceiving, he has already been claimed by a way of revealing that challenges him to approach nature as an object of research, until even the object disappears into the objectlessness of standing-reserve.

Modern technology as an ordering revealing is, then, no merely human doing. Therefore we must take that challenging that sets upon man to order the real as standing-reserve in accordance with the way in which it shows itself. That challenging gathers man into ordering. This gathering concentrates man upon ordering the real as standing-reserve. [GA7WL:17-19]

Original

Daß   sich uns jetzt  , wo wir versuchen, die moderne Technik   als das herausfordernde Entbergen zu zeigen  , die Worte »stellen«, »bestellen«, »Bestand« aufdrängen   und sich in einer trockenen, einförmigen und darum lästigen Weise   häufen, hat seinen Grund in dem, was zur Sprache kommt.

Wer   vollzieht das herausfordernde Stellen, wodurch das, was man das Wirkliche nennt, als Bestand entborgen wird? Offenbar   der Mensch. Inwiefern vermag er solches Entbergen? Der Mensch kann zwar dieses oder jenes [2] so oder so vorstellen  , gestalten und betreiben. Allein, über die Unverborgenheit, worin sich jeweils das Wirkliche zeigt oder entzieht, verfügt der Mensch nicht  . Daß sich seit Platon das Wirkliche im Lichte von Ideen zeigt, hat Platon nicht gemacht. Der Denker   hat nur dem entsprochen, was sich ihm zusprach.

Nur insofern der Mensch seinerseits schon herausgefordert ist, die Naturenergien herauszufordern, kann dieses bestellende Entbergen geschehen  . Wenn der Mensch dazu   herausgefordert, bestellt ist, gehört dann   nicht auch der Mensch, ursprünglicher noch als die Natur  , in den Bestand? Die umlaufende Bede vom Menschenmaterial, vom Krankenmaterial einer Klinik spricht dafür. Der Forstwart, der im Wald das geschlagene Holz vermißt und dem Anschein nach wie sein   Großvater in der gleichen Weise dieselben Waldwege begeht, ist heute   von der Holzverwertungsindustrie bestellt, ob er es weiß oder nicht. Er ist in die Bestellbarkeit von Zellulose bestellt, die ihrerseits durch den Bedarf an Papier herausgefordert ist, das den Zeitungen und illustrierten Magazinen zugestellt wird. Diese aber stellen die öffentliche Meinung daraufhin, das Gedruckte zu verschlingen, um für eine bestellte Meinungsherrichtung bestellbar zu werden  . Doch gerade weil der Mensch ursprünglicher [3] als die Naturenergien herausgefordert ist, nämlich in das Bestellen [4]], wird er niemals zu einem bloßen Bestand. Indem der Mensch die Technik betreibt, nimmt er am Bestellen als einer Weise des Entbergens teil. Allein, die Unverborgenheit selbst  , innerhalb   deren sich das Bestellen entfaltet, ist niemals ein menschliches Gemachte, so wenig wie der Bereich, den der Mensch jederzeit schon durchgeht, wenn er als Subjekt   sich auf   ein Objekt bezieht.

Wo und wie geschieht das Entbergen, wenn es kein bloßes Gemachte des Menschen ist? Wir brauchen nicht weit zu suchen  . Nötig ist nur, unvoreingenommen Jenes zu vernehmen  , was den Menschen immer schon   in Anspruch genommen hat, und dies so entschieden, daß er nur als der so Angesprochene jeweils Mensch sein kann. Wo immer der Mensch sein Auge   und Ohr öffnet, sein Herz aufschließt, sich in das Sinnen und Trachten, Bilden   und Werken, Bitten und Danken freigibt, findet er sich überall schon ins Unverborgene gebracht. Dessen Unverborgenheit hat sich schon ereignet  , so oft sie den Menschen in die ihm zugemessenen Weisen   des Entbergens hervorruft. Wenn der Mensch auf seine Weise innerhalb der Unverborgenheit das Anwesende   entbirgt, dann entspricht er nur dem Zuspruch der Unverborgenheit, selbst dort, wo er ihm widerspricht. Wenn also der Mensch forschend, betrachtend der Natur als einem Bezirk seines Vorstellens nachstellt, dann ist er bereits von einer Weise der Entbergung beansprucht, die ihn herausfordert, die Natur als einen Gegenstand der Forschung   anzugehen, bis auch der Gegenstand in das Gegenstandlose des Bestandes verschwindet.

So ist denn die moderne Technik als das bestellende Entbergen kein bloß menschliches Tun. Darum müssen wir auch jenes Herausfordern, das den Menschen stellt, das Wirkliche als Bestand zu bestellen, so nehmen  , wie es sich zeigt. Jenes Herausfordern versammelt den Menschen in das Bestellen. Dieses Versammelnde konzentriert den Menschen darauf, das Wirkliche als Bestand zu bestellen. [GA7  :18-20]


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[1Nachstellt. L’auteur reprendra ce terme pour caractériser l’être de la vengeance, cf. pp. 130 et suiv.

[21954: dieses oder jenes Unverborgene! aber die Unverborgenheit als solche? die Entborgenheit?

[31954: heißt? eigentlicher in das Ereignis vereignet!

[41954: heißt? metaphysisch gesprochen: in einem ausgezeichneten Geheiß des Seins und den entsprechenden Bezug, vgl. Zur Seinsfrage [in: GA Bd. 9