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Pizzolante (2008:40) – Mundo é afeto
sábado 10 de fevereiro de 2024
Ser-no-mundo é um modo de ser em que o homem já se encontra previamente lançado. Homem não é consciência ou subjetividade autônoma. É o espaço ontológico, ou seja, é o lugar do ser e do aparecer. É através da vida do homem que o ser se dá, se mostra e se retrai. É através do homem que os entes aparecem em seu ser. E o que os entes são, ou como aparecem e se mostram, é sempre movimento, na medida em que, ao se mostrarem de uma forma ou sob uma perspectiva, o mostrar-se se retrai, abrindo-se uma nova perspectiva, um outro mostrar-se.
O homem não deve ser entendido como sujeito e o mundo como objeto. Mundo é afeto, disposição, numa compreensão orientadora de sentido. Verdade é o nome da dinâmica de realização da realidade. O mundo e a realidade vão se desvelando se houver uma participação vital do homem. O Mundo pode ser entendido como universo de significação no qual o homem se encontra. Não é possível encontrar homem fora do mundo. O mundo não tem a constituição de res, de coisa. O Dasein, a presença, é a estrutura ser-no-mundo, não na constituição ou na concepção locacional, espacial, de coisa dentro de coisa, mas é um ser junto a (noção de abertura, de ser e estar aberto ao ser, que a ele se mostra). A vida do homem espacializa, no sentido de ser o ‘lugar’ através do qual aparece o sentido das coisas, sentido que se mostra dentro de um conjunto de significados referenciais. Essa espacialização é a abertura que se apresenta como uma espécie de clareira. Clareira é o termo usado por Heidegger para designar a exposição da existência humana ao sentido dos entes e do todo, ao sentido do ser, que aparece para e através deste ente, que é o lugar do acontecer. Através desta clareira é que se revela o ser e estar junto a outros. A espacialização é o modo de ser e estar no mundo, que se distingue por poder ser e precisar ser no mundo. O homem se ocupa e age a partir do mundo, cuida dos outros e de como o mundo lhe aparece e se oferece, podendo permanecer apenas ligado a tais ocupações e afazeres, que podem o absorver quase completamente; é quando se torna inautêntico.
[PIZZOLANTE , Romulo. A Essência Humana Como Conquista: O Sentido da Autenticidade no Pensamento de Martin Heidegger. São Paulo: Annablume, 2008]
Ver online : Romulo Pizzolante