Página inicial > Fenomenologia > Ortega y Gasset (MT:C2) – II O ESTAR E O BEM-ESTAR…

Meditação da Técnica

Ortega y Gasset (MT:C2) – II O ESTAR E O BEM-ESTAR…

A "NECESSIDADE" DA EMBRIAGUEZ. — O SUPÉRFLUO COMO NECESSÁRIO. — RELATIVIDADE DA TÉCNICA.

quinta-feira 4 de novembro de 2021

ORTEGA Y GASSET  , José. Meditação da Técnica. Tradução e Prólogo de Luís Washington Vita.

II EL ESTAR Y EL BIENESTAR. —LA «NECESIDAD» DE LA EMBRIAGUEZ. —LO SUPERFLUO COMO NECESARIO. —RELATIVIDAD DE LA TÉCNICA

português

Reatemo-nos com a lição anterior.

Atos técnicos — dizíamos — não são aqueles em que o homem procura satisfazer diretamente as necessidades que a circunstância ou natureza as faz sentir, mas precisamente aqueles que levam a reformar essas circunstâncias eliminando no possível dela essas necessidades, suprimindo ou minguando o acaso e o esforço que exige satisfazê-las. Enquanto o animal, por ser atécnico, tem que se ajustar ao que encontra dado aí e fastidiar-se ou morrer quando não encontra o que necessita, o homem, graças a seu dom técnico, faz que se encontre sempre em seu derredor o que é preciso — cria, pois, uma circunstância nova mais favorável, segrega, por assim dizer, uma sobrenatureza adaptando a natureza a suas necessidades. A técnica é o contrário da adaptação do sujeito ao meio, posto que é a adaptação do meio ao sujeito. Isto já bastaria para fazer-nos suspeitar que se trata de um movimento em direção inversa a todos os biológicos.

Esta reação contra seu contorno, este não resignar-se contentando-se com o que o mundo é, é o específico do homem. Por isso, mesmo estudado zoologicamente, reconhece-se sua presença quando se encontra a natureza deformada; por exemplo, quando se encontram pedras lavradas, com polimento ou sem ele, isto é, utensílios. Um homem sem técnica, isto é, sem reação contra o meio, não é um homem.

Mas, até agora, apresentava-se-nos a técnica como uma reação às necessidades orgânicas ou biológicas. Lembram os senhores que insisti em precisar o sentido do termo "necessidade". Alimentar-se era necessidade pois era condição sine qua non da vida, isto é, do poder estar no mundo. E o homem tem, pelo visto, um grande empenho em estar no mundo. Viver, perdurar, era a necessidade das necessidades.

Mas é o caso que a técnica não se reduz a facilitar a satisfação de necessidades deste gênero. Tão antigos como os inventos de utensílios e procedimentos para esquentar-se, alimentar-se, etc, são muitos outros cuja finalidade consiste em proporcionar ao homem coisas e situações desnecessárias nesse sentido. Por exemplo, tão velho e tão difundido como o fazer fogo é o embriagar-se — quero dizer, o uso de procedimentos ou substâncias que põem o homem em estado psicofisiológico de exaltação deliciosa ou então de delicioso estupor. A droga, o estupefaciente é um invento tão primitivo quanto o mais antigo. Tanto, que não é coisa clara, por exemplo, se o fogo se inventou primeiro para evitar o frio — necessidade orgânica e condição sine qua non — ou antes para embriagar-se. Os povos mais primitivos usam as covas para acender nelas fogo e pôr-se a suar em forma tal que entre o fumo e o excesso de temperatura caem em transe de quase embriaguez. É o que se chamou as "casas de suar". Resulta inacabável a lista de procedimentos hipnóticos, fantásticos, isto é, produtores de imagens deliciosas, de excitantes que dão prazer ao praticar um esforço. Assim, entre estes últimos, o "Kat" do Yemen e Etiópia, que faz grato o andar quanto mais se anda pelos efeitos daquela substância na próstata. Entre o "fantástico" recorda-se a coca do Peru, o meimendro, o estramônio ou daturina, etc. Parecidamente discutem os etnólogos se é o arco de caça e guerra ou o arco musical a forma primigênia do arco. A solução do debate não é coisa que agora nos importe. O simples fato de que pode ser discutido demonstra que, seja ou não o musical o arco originário, aparece entre os instrumentos mais primitivos. E isto nos basta.

Porque isso nos revela que o primitivo não sentia menos como necessidade o proporcionar-se certos estados prazerosos que o satisfazer suas necessidades mínimas para não morrer; portanto, que desde o princípio o conceito de "necessidade humana" inclui indiferentemente o objetivamente necessário e o supérfluo. Se nós nos comprometêssemos a distinguir quais dentre nossas necessidades são rigorosamente necessárias, inevitáveis, e quais supérfluas, nos veríamos na maior dificuldade. Pois encontrar-nos-íamos: 1.°) Com que diante das necessidades que pensando a priori parecem mais elementares e inevitáveis — alimento, calor, por exemplo — tem o homem uma elasticidade incrível. Não somente por força, mas até por gosto reduz a limites incríveis a quantidade de alimento e se adestra para sofrer frios de uma intensidade superlativa. 2.°) Ao contrário, custa-lhe muito ou, simplesmente, não consegue prescindir de certas coisas supérfluas e quando lhe faltam prefere morrer. 3.°) De onde se deduz que o empenho do homem por viver, por estar no mundo, é inseparável de seu empenho de estar bem. Mais ainda: que vida significa para ele não simples estar, mas bem-estar, e que somente sente como necessidades as condições objetivas do estar, porque este, por sua vez, é suposto do bem-estar. O homem que se convence a fundo e por completo de que não pode obter o que ele chama bem-estar, pelo menos uma aproximação a isso, e que teria que contentar-se com o simples e nu estar, suicida-se. O bem-estar e não o estar é a necessidade fundamental para o homem, a necessidade das necessidades. Com o que chegamos a um conceito de necessidades humanas completamente distinto do que no artigo anterior topamos, e de resto oposto ao que, por insuficiente análise e descuidada meditação, costuma-se adotar. Os livros sobre técnica que li — todos indignos por certo, de seu enorme tema (O único livro que, insuficiente também no que se refere ao problema geral da técnica, pude aproveitar num ou dois pontos é o de Gotl-Lilienfeld, Virtschaft und Technik) — começam por não levar em conta que o conceito de "necessidades humanas" é, o mais importante para esclarecer o que é a técnica. Todos esses livros, como não podia menos de ser, fazem uso da ideia dessas necessidades, mas como não veem sua decisiva importância, o tomam consoante está na tópica ambiente.

Precisemos, antes de prosseguir, a situação a que chegamos: na lição anterior considerávamos o esquentar-se e o alimentar-se como necessidades humanas, por ser condições objetivas do viver, no sentido de mero existir e simples estar no mundo. São, pois, necessárias na medida em que seja ao homem necessário viver. E notávamos que, com efeito, o homem mostrava um raro e obstinado empenho em viver. Mas esta expressão, agora o percebemos, era equívoca. O homem não tem empenho algum por estar no mundo. No que tem empenho é em estar bem. Somente isto lhe parece necessário e todo o resto é necessidade somente na medida em que faça possível o bem-estar. Portanto, para o homem somente é necessário o objetivamente supérfluo. Isto se julgará paradoxal, mas é a pura verdade. As necessidades biologicamente objetivas não são, por si, necessidades para ele. Quando se encontra preso a elas se nega a satisfazê-las e prefere sucumbir. Somente se convertem em necessidades quando aparecem como condições do "estar no mundo", que por sua vez somente é necessário em forma subjetiva; a saber, porque faz possível o "bem-estar no mundo" e a superfluidade. De onde resulta que até o que é objetivamente necessário somente o é para o homem quando é referido à superfluidade. Não tem dúvida: o homem é um animal para o qual somente o supérfluo é necessário. Aparentemente parecerá aos senhores isto um pouco estranho e sem mais valor que o de uma frase, mas se os senhores reconsideram a questão verão como por si mesmos, inevitavelmente, chegam a ela. E isto é essencial para entender a técnica. A técnica é a produção do supérfluo: hoje e na época paleolítica. É, certamente, o meio para satisfazer as necessidades humanas. Agora podemos aceitar esta fórmula que ontem repelíamos, porque agora sabemos que as necessidades humanas são objetivamente supérfluas e que somente se convertem em necessidades para quem necessita o bem-estar e para quem viver é essencialmente viver bem. Eis aqui por que o animal é atécnico: contenta-se com viver e com o objetivamente necessário para o simples existir. Do ponto de vista do simples existir o animal é insuperável e não necessita a técnica. Mas o homem é homem porque para ele existir significa desde logo e sempre bem-estar; por isso é a natividade técnico criador do supérfluo. Homem, técnica e bem-estar são, em última instância, sinônimos. Outra coisa leva a desconhecer o tremendo sentido da técnica: sua significação como fato absoluto no universo. Se a técnica consistisse somente numa de suas partes — em resolver mais comodamente as mesmas necessidades que integram a vida do animal e no mesmo sentido que possam sê-lo para este — teríamos um entrefino estranho no universo: teríamos dois sistemas de atos — os instintivos do animal e os técnicos do homem — que sendo tão heterogêneos serviriam, não obstante, à mesma finalidade: sustentar no mundo ao ser orgânico. Porque o caso é que o animal se arranja perfeitamente com seu sistema, isto é, que não se trata de um sistema defeituoso, em princípio. Não é nem mais nem menos defeituoso que o do homem.

Tudo se esclarece, ao contrário, se se adverte que as finalidades são distintas: de um lado servir à vida orgânica, que é adaptação do sujeito ao meio, simples estar na natureza. De outro, servir à boa vida, ao bem-estar, que implica adaptação do meio à vontade do sujeito.

Fiquemos, pois, em que as necessidades humanas o são somente em função do bem-estar. Somente poderemos então averiguar quais são aquelas se averiguamos que é o que o homem entende por seu bem-estar. E isto complica formidavelmente as coisas. Porque. . . vão os senhores saber tudo o que o homem entendeu, entende ou entenderá por bem-estar, por necessidade das necessidades, pela única coisa necessária de que falava Jesus a Marta e Maria (Maria, a verdadeira técnica para Jesus) .

Para Pompeu não era necessário viver, mas era necessário navegar, com o que renovava o lema da sociedade milésia dos aeinautai — os eternos navegantes — aos quais Tales pertenceu, criadores de um novo comércio audaz, uma nova política audaz, um novo conhecimento audaz — a ciência ocidental.

Existe o faquir, o asceta, de um lado; o sensual, o glutão, de outro.

Temos, pois, que enquanto o simples viver, o viver em sentido biológico, é uma grandeza fixa que para cada espécie está definida de uma vez para sempre, isso que o homem chama viver, o bom viver ou bem-estar é um termo sempre móvel, ilimitadamente variável. E como o repertório de necessidades humanas é função dele, resultam estas não menos variáveis, e como a técnica é o repertório de atos provocados, suscitados pelo e inspirados no sistema dessas necessidades, será também uma realidade proteiforme, em constante mutação. Daí ser inútil querer estudar a técnica como uma entidade independente ou como se estivesse dirigida por um vector único e de antemão conhecido. A ideia do progresso, funesta em todas as ordens, quando se a empregou sem críticas, foi aqui também fatal. Supõe ela que o homem quis, quer e quererá sempre o mesmo, que os anelos vitais foram sempre idênticos e a única variação através dos tempos consistiu no avanço progressivo para a obtenção daquele único desideratum. Mas a verdade é exatamente o contrário: a ideia da vida, o perfil do bem-estar se transformou inumeráveis vezes, em ocasiões tão radicalmente, que os chamados progressos técnicos eram abandonados e seu rastro perdido. Outras vezes — registre-se — e é quase o mais frequente na história, o inventor e a invenção eram perseguidos como se se tratasse de um crime. O fato de que hoje sintamos em forma extrema o prurido oposto, o afã de invenções, não deve fazer-nos supor que sempre foi assim. Ao contrário, a humanidade sempre sentiu um misterioso terror cósmico para com os descobrimentos, como se nestes, ao lado de seus benefícios, ocultasse um terrível perigo. E em meio de nosso entusiasmo pelos inventos técnicos, não começamos a sentir algo parecido? Seria de enorme e dramático ensinamento fazer uma história das técnicas que, uma vez obtidas e parecendo "aquisições eternas" — ktesis eis aei — se volatizaram, se perderam por completo.

original

Enhebremos con la lección anterior.

Actos técnicos —decíamos— no son aquéllos en que el hombre procura satisfacer directamente las necesidades que la circunstancia o naturaleza le hace sentir, sino precisamente aquéllos que llevan a reformar esa circunstancia eliminando en lo posible de ella esas necesidades, suprimiendo o menguando el azar y el esfuerzo que exige satisfacerlas. Mientras el animal, por ser atécnico, tiene que arreglárselas con lo que encuentra dado ahí y fastidiarse o morir cuando no encuentra lo que necesita, el hombre, merced a su don técnico, hace que se encuentre siempre en su derredor lo que ha menester —crea, pues, una circunstancia nueva más favorable, segrega, por decirlo así una sobrenaturaleza adaptando la naturaleza a sus necesidades. La técnica es lo contrario de la adaptación del sujeto al medio, puesto que es la adaptación del medio al sujeto. Ya esto bastaría para hacernos sospechar que se trata de un movimiento en dirección inversa a todos los biológicos.

Esta reacción contra su contorno, éste no resignarse contentándose con lo que el mundo es, es lo específico del hombre. Por eso, aun estudiado zoológicamente, se reconoce su presencia cuando se encuentra la naturaleza deformada, por ejemplo, cuando se encuentran piedras labradas, con pulimento o sin él, es decir, utensilios. Un hombre sin técnica, es decir, sin reacción contra el medio, no es un hombre.

Pero hasta ahora se nos presentaba la técnica como una reacción a las necesidades orgánicas o biológicas. Recuerden ustedes que insistí en precisar el sentido del término «necesidad». Alimentarse era necesidad porque era condición sine qua non de la vida, es decir, del poder estar en el mundo. Y el hombre tiene, por lo visto, un gran empeño en estar en el mundo. Vivir, perdurar, era la necesidad de las necesidades.

Pero es el caso que la técnica no se reduce a facilitar la satisfacción de necesidades de ese género. Tan antiguos como los inventos de utensilios y procedimientos para calentarse, alimentarse, etcétera, son muchos otros cuya finalidad consiste en proporcionar al hombre cosas y situaciones innecesarias en ese sentido. Por ejemplo, tan viejo y tan extendido como el hacer fuego es el embriagarse… —quiero decir, el uso de procedimientos o sustancias que ponen al hombre en estado psicofisiológico de exaltación deliciosa o bien de delicioso estupor. La droga, el estupefaciente, es un invento tan primitivo como el que más. Tanto, que no es cosa clara, por ejemplo, si el fuego se inventó primero para evitar el frío —necesidad orgánica y condición sine qua non— o más bien para embriagarse. Los pueblos más primitivos usan las cuevas para encender en ellas fuego y ponerse a sudar en forma tal que entre el humo y el exceso de temperatura caen en trance de cuasi embriaguez. Es lo que se ha llamado las «casas de sudar». Resulta inacabable la lista de procedimientos hipnóticos, fantásticos —es decir, productores de imágenes deliciosas, de excitantes que dan placer al ejercitar un esfuerzo. Así, entre estos últimos, el «Kat» del Yemen y Etiopía, que hace grato el andar cuanto más se anda por los efectos de aquella sustancia en la próstata. Entre lo «fantástico» recuérdese la coca del Perú, el beleño, el estramonio o datura, etcétera. Parejamente discuten los etnólogos si es el arco de caza y guerra o el arco musical la forma primigenia del arco. La solución del debate no es cosa que ahora nos importe. El simple hecho de que quepa discutirlo demuestra que, sea o no el musical el arco originario, aparece entre los instrumentos más primitivos. Y esto nos basta.

Porque ello nos revela que el primitivo no sentía menos como necesidad el proporcionarse ciertos estados placenteros que el satisfacer sus necesidades mínimas para no morir; por lo tanto, que desde el principio, el concepto de «necesidad humana» abarca indiferentemente lo objetivamente necesario y lo superfluo. Si nosotros nos comprometiésemos a distinguir cuáles de entre nuestras necesidades son rigorosamente necesarias, ineludibles, y cuáles superfluas, nos veríamos en el mayor aprieto. Pues nos encontraríamos: 1.º Con que ante las necesidades que pensando a priori parecen más elementales e ineludibles —alimento, calor, por ejemplo—, tiene el hombre una elasticidad increíble. No sólo por fuerza sino hasta por gusto reduce a límites increíbles la cantidad de alimento y se adiestra a sufrir fríos de una intensidad superlativa. 2.º En cambio, le cuesta mucho o sencillamente no logra prescindir de ciertas cosas superfluas y cuando le faltan prefiere morir. 3.º De donde se deduce que el empeño del hombre por vivir, por estar en el mundo, es inseparable de su empeño en estar bien. Más aún: que vida significa para él no simple estar, sino bienestar, y que sólo siente como necesidades las condiciones objetivas del estar, porque éste, a su vez, es supuesto del bienestar. El hombre que se convence a fondo y por completo de que no puede lograr lo que él llama bienestar, por lo menos una aproximación a ello, y que tendría que contentarse con el simple y nudo estar, se suicida. El bienestar y no el estar es la necesidad fundamental para el hombre, la necesidad de las necesidades. Con lo cual llegamos a un concepto de necesidades humanas completamente distinto del que en el artículo anterior topamos, y además opuesto al que, por insuficiente análisis y descuidada meditación, suele adoptarse. Los libros sobre técnica que he leído —todos indignos, por cierto, de su enorme tema— comienzan por no hacerse cargo de que el concepto de «necesidades humanas» es el más importante para aclarar lo que es la técnica. Todos esos libros, como no podía menos de ser, hacen uso de la idea de esas necesidades, pero como no ven su decisiva importancia, lo toman según está en la tópica ambiente.

Precisemos, antes de proseguir, la situación a que hemos llegado: en la lección anterior considerábamos el calentarse y el alimentarse como necesidades humanas, por ser condiciones objetivas del vivir, en el sentido de mero existir y simple estar en el mundo. Son, pues, necesarias en la medida en que sea al hombre necesario vivir. Y notábamos que, en efecto, el hombre mostraba un raro y obstinado empeño en vivir. Pero esta expresión, ahora lo advertimos, era equívoca. El hombre no tiene empeño alguno por estar en el mundo. En lo que tiene empeño es en estar bien, sólo esto le parece necesario y todo lo demás es necesidad sólo en la medida en que haga posible el bienestar. Por lo tanto, para el hombre sólo es necesario lo objetivamente superfluo. Esto se juzgará paradójico, pero es la pura verdad. Las necesidades biológicamente objetivas no son, por sí, necesidades para él. Cuando se encuentra atenido a ellas se niega a satisfacerlas y prefiere sucumbir. Sólo se convierten en necesidades cuando aparecen como condiciones del estar en el mundo, que a su vez sólo es necesario en forma subjetiva; a saber, porque hace posibles el «bienestar en el mundo» y la superfluidad. De donde resulta que hasta lo que es objetivamente necesario sólo lo es para el hombre cuando es referido a la superfluidad. No tiene duda: el hombre es un animal para el cual sólo lo superfluo es necesario. Al pronto parecerá a ustedes esto un poco extraño y sin más valor que el de una frase, pero si repiensan ustedes la cuestión verán cómo por sí mismos, inevitablemente, llegan a ella. Y esto es esencial para entender la técnica. La técnica es la producción de lo superfluo: hoy y en la época paleolítica. Es, ciertamente, el medio para satisfacer las necesidades humanas. Ahora podemos aceptar esta fórmula que ayer rechazábamos, porque ahora sabemos que las necesidades humanas son objetivamente superfluas y que sólo se convierten en necesidades para quien necesita el bienestar y para quien vivir es esencialmente vivir bien. He aquí por qué el animal es atécnico: se contenta con vivir y con lo objetivamente necesario para el simple existir. Desde el punto de vista del simple existir el animal es insuperable y no necesita la técnica. Pero el hombre es hombre porque para él existir significa desde luego y siempre bienestar; por eso es a nativitate técnico creador de lo superfluo. Hombre, técnica y bienestar son, en última instancia, sinónimos. Otra cosa lleva a desconocer el tremendo sentido de la técnica: su significación como hecho absoluto en el universo. Si la técnica consistiese sólo en una de sus partes —en resolver más cómodamente las mismas necesidades que integran la vida del animal y en el mismo sentido que puedan serlo para éste—, tendríamos un doblete extraño en el universo: tendríamos dos sistemas de actos —los instintivos del animal y tos técnicos del hombre—, que siendo tan heterogéneos servirían, no obstante, la misma finalidad: sostener en el mundo al ser orgánico. Porque el caso es que el animal se las arregla perfectamente con su sistema, esto es, que no se trata de un sistema defectuoso, en principio. No es ni más ni menos defectuoso que el del hombre.

Todo se aclara en cambio si se advierte que las finalidades son distintas: de un lado servir a la vida orgánica, que es adaptación del sujeto al medio, simple estar en la naturaleza. De otro, servir a la buena vida, al bienestar, que implica adaptación del medio a la voluntad del sujeto.

Quedamos, pues, en que las necesidades humanas lo son sólo en función del bienestar. Sólo podremos entonces averiguar cuáles son aquéllas si averiguamos qué es lo que el hombre entiende por su bienestar. Y esto complica formidablemente las cosas. Porque… vaya usted a saber todo lo que el hombre ha entendido, entiende o entenderá por bienestar, por necesidad de las necesidades, por la sola cosa necesaria de que hablaba Jesús a Marta y María. (María, la verdadera técnica para Jesús).

Para Pompeyo no era necesario vivir, pero era necesario navegar, con lo cual renovaba el lema de la sociedad milesia de los aeinautai —los eternos navegantes—; a que Tales perteneció, creadores de un nuevo comercio audaz, una nueva política audaz, un nuevo conocimiento audaz —la ciencia occidental.

Hay el faquir, el asceta, de un lado; el sensual, el glotón, por otro.

Tenemos, pues, que mientras el simple vivir, el vivir en sentido biológico, es una magnitud fija que para cada especie está definida de una vez para siempre, eso que el hombre llama vivir, el buen vivir o bienestar es un término siempre móvil, ilimitadamente variable. Y como el repertorio de necesidades humanas es función de él, resultan éstas no menos variables, y como la técnica es el repertorio de actos provocados, suscitados por e inspirados en el sistema de esas necesidades, será también una realidad proteiforme, en constante mutación. De aquí que sea vano querer estudiar la técnica como una entidad independiente o como si estuviera dirigida por un vector único y de antemano conocido. La idea del progreso, funesta en todos los órdenes, cuando se la empleó sin críticas, ha sido aquí también fatal. Supone ella que el hombre ha querido, quiere y querrá siempre lo mismo, que los anhelos vitales han sido siempre idénticos y la única variación a través de los tiempos ha consistido en el avance progresivo hacia el logro de aquel único desideratum. Pero la verdad es todo lo contrario: la idea de la vida, el perfil del bienestar se ha transformado innumerables veces, en ocasiones tan radicalmente, que los llamados progresos técnicos eran abandonados y su rastro perdido. Otras veces —conste—, y es casi lo más frecuente en la historia, el inventor y la invención eran perseguidos como si se tratase de un crimen. El que hoy sintamos en forma extrema el prurito opuesto, el afán de invenciones, no debe hacernos suponer que siempre ha sido así. Al contrario, la humanidad ha solido sentir un misterioso terror cósmico hacia los descubrimientos, como si en éstos, junto a sus beneficios, latiese un terrible peligro. Y en medio de nuestro entusiasmo por los inventos técnicos, ¿no empezamos a sentir algo parecido? Sería de enorme y dramática enseñanza hacer una historia de las técnicas que una vez logradas y pareciendo «adquisiciones eternas» —ktesis eis aéi—, se volatilizaron, se perdieron por completo.


Ver online : ORTEGA Y GASSET