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MacDowell: Metafísica como Ontologia
segunda-feira 29 de maio de 2017
Embora intimamente aparentada com o pensamento escolástico pelo predomínio da dimensão da transcendência para Deus, a estrutura da Filosofia, projetada pelo jovem Heidegger, trai claramente a influência da Lógica transcendental kantiana, que lhe imprime um cunho bem diverso do da Metafísica aristotélico-escolástica. Com efeito, segundo Heidegger, a Metafísica consiste propriamente numa doutrina ontológica das categorias e a fundamentação da Metafísica em estabelecer os pressupostos de tal doutrina. Outra não será a sua posição em Sein und Zeit 298. Ainda não tendo adotado o termo Ontologia, ele fala por ora de uma concepção transcendental-ôntica da noção de objeto, ou ainda, de restituir à Filosofia a dimensão translógica, que de direito lhe compete.
Como Onto-lógica, a Metafísica se propõe seja tematizar as estruturas universais, para as quais o sujeito deve transcender, a fim de conhecer os objetos como objetos, seja determinar os fundamentos desta objetivação. Trata-se de estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento do objeto em geral e das diversas classes de objetos. Parte-se dos objetos enquanto conhecidos, não enquanto destacados do sujeito. Conceber, porém, a Metafísica como Onto-lógica significa reconhecer aos objetos, uma consistência autônoma, de modo que as formas categoriais não se reduzem a meras funções do pensar, como pareceria do ponto de vista puramente lógico; trata-se antes de estruturas entitativas, que o pensar descobre no material originalmente experimentado.
Heidegger pretende deste modo suprimir, numa síntese superior, a antinomia reinante entre as duas principais soluções contemporâneas do problema do conhecimento, o Realismo crítico e o Idealismo transcendental. O primeiro é superado pela adoção do ponto de vista da imanência, o segundo pela admissão do princípio da especificação das formas por um material que se impõe ao sujeito, como dado absoluto.
O caráter lógico-transcendental do projeto metafísico de Heidegger manifesta-se claramente na sua atitude em relação à existência e à causalidade eficiente. O existir, o surgir, transformar-se e desaparecer das coisas, as relações de causa e efeito, não constituem problema filosófico. A explicação de tais processos naturais compete às ciências naturais e à Psicologia experimental. Existência e causalidade são consideradas apenas enquanto categorias, que caracterizam determinado gênero de objetos, i. e., os objetos reais. Existência não é, portanto, uma noção universalíssima, idêntica ou conversível com o ser. Significa tão somente o estar-aí empírico dos objetos físicos e psíquicos no fluxo do tempo. A tendência a explicar o ente enquanto ente, retrocedendo para outro ente, tendência que Heidegger estigmatizará mais tarde, como o momento ôntico da Metafísica clássica, já é para ele, a esta altura, inaceitável, como processo filosófico. A ontologia interessa-se somente pelas estruturas formais do objeto, o seu movimento peculiar é a passagem do objeto à sua ideia ou essência. E se Heidegger se vê constrangido a recorrer à realidade suprema de Deus, princípio e fim do espírito humano, ele atinge-o não como causa da existência dos objetos finitos, mas como condição de possibilidade da validez absoluta do conhecimento humano. É verdade que Deus não se nos apresenta imediatamente, como os outros objetos. E o espírito humano que é experimentado nos seus julgamentos verdadeiros, como historicamente limitado e, ao mesmo tempo, afetado de valores universais e absolutos, de modo que se faz mister admitir que o sujeito está em comunicação com uma realidade absoluta, termo último de sua ascensão através dos valores.
Ver online : A Gênese da Ontologia Fundamental de Martin Heidegger