Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Léxico Alemão > Holzhey-Kunz (2018:86-87) – A facticidade do início [Anfang]

Holzhey-Kunz (2018:86-87) – A facticidade do início [Anfang]

terça-feira 20 de junho de 2023

Casanova

Se pensarmos no próprio início, então nos vem à cabeça normalmente as ocorrências concretas, das quais sabemos por meio de narrativas, bilhetes, fotos etc. Nós nos perguntamos em todo caso como é que a própria chegada dos outros, de nossos pais e irmãos foi experimentada, se nós fomos desejados ou não. Nós também aprontamos, com efeito, normalmente uma história sobre o tempo do início, [86] que não se baseia certamente sobre lembranças, mas sobre narrativas dos outros e suposições próprias. Também essa história tem suas inclusões pré-ontológicas. Essas não tratam do acontecimento concreto de outrora, mas dos três fatos fundamentais, que pertencem a todo início humano e que, vistos a uma luz direta, são difíceis de aceitar:

1. O fato de que não fui eu mesmo que iniciei, mas que houve um início comigo, e, em verdade, de tal modo que eu nasci a partir de uma outra pessoa, a partir da mãe, e não fui nem mesmo testemunha de meu ser-trazido-ao-mundo. Quando eu finalmente começo a concretizar conscientemente que eu existo, o início já se encontra um tempo considerável atrás de mim e dependo das informações dos outros, que estavam aí, caso queira saber alguma coisa sobre meu início.

2. O fato de que o início se deu comigo, sem que pudesse ser indicado um fundamento mais profundo do sentido. Quanto mais eu consigo sondar as circunstâncias concretas de meu acolhimento e de meu nascimento, tanto mais fica claro o quão casual foram geração e nascimento, o quanto as coisas poderiam ter se dado de maneira completamente diferente, de tal modo que devo minha existência ao acaso e também poderia muito bem não ser.

3. O fato de que o modo como o início se deu para mim é contingente (casual), e de que a questão sobre por que eu exatamente fui gerado por este homem e não por algum outro e por esta mulher e não por alguma outra e sobre por que eu nasci em meio a essas circunstâncias ou nesta época da história do mundo permanece sem resposta.

Sophie Leighton

When we consider our own beginning, we generally think of the specific events that we know about from stories, written documents, photographs and so on. At the very least, we wonder how our own arrival was experienced by other people, by parents and siblings, or whether we were wanted or not. Indeed, generally we also set out for the period of the beginning a story that is certainly not based on our own memories but on other people’s accounts and our own suppositions. Even this story has its pre-ontological inclusions.These do not involve concrete events at the time but three basic facts that apply to every human being’s beginning and that are difficult to accept in their stark reality:

a) the fact that I did not myself begin but simply was begun, and indeed that I was born from another human being, the mother, without even witnessing the event by which I was brought into the world. When I finally begin to realise consciously that I exist, the beginning is already a considerable way behind me and I am dependent on inadequate information from other people who were present if I want to know anything about my beginning.

b) the fact that I simply was begun without it having been possible to give this any deeper explanatory meaning. The more l can discover about the concrete circumstances of my conception and birth, the clearer it becomes to me how random procreation and birth were, how very differently things could also have happened, that I therefore owe my existence to chance and could just as easily not exist.

c) the fact that the details of haw I was begun are equally contingent (random): the question of why I was produced by precisely this man and no other, and by no other woman, and why I was born into these circumstances and into this period of world history remains unanswered.


Ver online : Alice Holzhey-Kunz