Casanova
Por meio de que nossa existência como um todo é agora determinada de modo decisivo? Por meio do fato de podermos reivindicar nosso direito de cidadão de ter acesso à universidade. E com o exercício desse direito conferimos ao nosso ser-aí um liame [Bindung]. Com esse liame orientamos nosso ser-aí para uma determinada direção, algo se decidiu em nosso ser-aí. Isso pode acontecer tanto quando temos uma visão clara de nossa existência como também quando nos falta tal visão – podemos ter caído no círculo existencial da universidade por convenção, ou até mesmo por algum embaraço.
Mas se não estamos simplesmente vagando por aí, em parte para aprender toda a sorte de coisas úteis, em parte para nos divertirmos de uma maneira nova, então é preciso que algo tenha se decidido em nós. Toda e qualquer decisão relativa à existência é uma irrupção no futuro do ser-aí.
O que se decidiu? Nossa vocação profissional [Beruf]. Por vocação profissional não entendemos, contudo, a posição social exterior e mesmo a sua alocação em uma classe social determinada e quiçá elevada. Por vocação profissional compreendemos a tarefa interna que o ser-aí reserva para si no todo e no essencial de sua existência. O efeito histórico e fático da vocação profissional carece sempre de uma posição social exterior. No entanto, essa posição continua tendo, em primeira e última escalas, um sentido secundário.
Em que medida, porém, demos uma vocação profissional particular ao nosso ser-aí, ao exigirmos nosso direito de acesso à universidade? Com o exercício desse direito – até o ponto em que em geral o compreendemos – estabelecemos em nosso ser-aí o compromisso de assumir algo como uma liderança [Führerschaft] no todo correspondente de nosso ser-um-com-o-outro [Miteinandersein] histórico. Com uma tal liderança não estamos nos referindo à assunção exterior de um, por assim dizer, posto de chefia no âmbito da vida pública – o que está em jogo nesse caso não é que precisemos desempenhar aqui e acolá o papel de superiores ou diretores. Ao contrário, a liderança é o comprometimento com uma existência que, em certa medida, compreende de maneira mais originária, global e definitiva as possibilidades do ser-aí humano, devendo, a partir dessa compreensão, funcionar como modelo. Para ser um tal modelo, não é de forma alguma necessário que a pessoa pertença ao círculo dos proeminentes. Nem se pode dizer que essa liderança já comporte facilmente uma superioridade moral diante dos outros. Ao contrário, a responsabilidade que justamente uma tal liderança incontrolável e absolutamente não manifesta traz consigo acaba por se mostrar como uma ocasião constante e muito propícia ao fracasso moral do indivíduo.
E por que justamente o fato de pertencer realmente à universidade comporta então um direito do indivíduo de requerer uma tal liderança? Isso decorre do fato de a universidade, ao cultivar a pesquisa científica e ao transmitir uma formação científica, conferir ao ser-aí a possibilidade de alcançar uma nova posição na totalidade do mundo. Nessa nova posição, todas as relações do ser-aí com o ente podem experimentar uma mudança e ele pode conquistar assim uma nova familiaridade com todas as coisas (ainda que isso não precise necessariamente acontecer), porque o ser-aí é tomado por uma transparência e um esclarecimento próprios.
O fato de determos mais conhecimento do que outros e de sabermos algumas coisas melhor, na medida em que nos achamos na posse de autorizações e certificados, é completamente insignificante. No entanto, o fato de o ser-aí como um todo ser dominado por um primado interno que em si nenhum de nós conquistou, o fato de, portanto, em um fundamento mais originário, a ciência desenvolver em nós a possibilidade de uma liderança discreta e por isso tanto mais eficaz no todo da comunidade humana determina o instante de nosso ser-aí atual.
Ciência e liderança, formando uma unidade, são por conseguinte os poderes aos quais o nosso ser-aí está agora sujeito – se é que ele possui realmente alguma clareza quanto a isso. E tal sujeição não deve ser entendida no sentido de um episódio fugaz, mas como um estágio único que determina essencialmente o caráter peculiar de nosso ser-aí. Se quisermos deixar a filosofia se tornar livre aqui e agora em nosso ser-aí e se a tarefa da introdução é colocar o filosofar em curso, então também conquistaremos a partir dessa situação uma certa compreensão do que significa filosofia. E essa compreensão prévia de que necessitamos inicialmente precisa ser retirada do esclarecimento da essência da filosofia em sua relação com a ciência e com a liderança. [GA27MAC:6-9]
Original
Wodurch ist jetzt unsere ganze Existenz entscheidend bestimmt? Dadurch, daß wir das Bürgerrecht an der Universität beanspruchen. Mit diesem Anspruch aber haben wir unserem Dasein eine Bindung gegeben; mit dieser Bindung ist in unser Dasein eine bestimmte Richtung geschlagen, in unserem Dasein hat sich etwas entschieden. Das kann entweder in der Klarheit über unsere Existenz geschehen oder auch nicht — wir können aus Konvention, sogar aus Verlegenheit in den Daseinskreis der Universität geraten sein.
Wenn wir uns hier nicht lediglich herumtreiben, teils um allerlei brauchbare Dinge zu lernen, teils um uns in einer neuen Form zu amüsieren, dann muß sich in uns etwas entschieden haben. Jede Entscheidung der Existenz ist ein Einbruch in die Zukunft des Daseins.
Was hat sich entschieden? Unser Beruf. Unter Beruf verstehen wir aber nicht die äußere Lebensstellung und gar ihre Einstufung in eine bestimmte und gar gehobene Gesellschaftsklasse. Unter Beruf verstehen wir die innere Aufgabe, die sich das Dasein im Ganzen und Wesentlichen seiner Existenz vorgibt. Die geschichtliche faktische Auswirkung des Berufs bedarf immer einer äußeren Lebensstellung, aber erstlich und letztlich bleibt diese von nachgeordneter Bedeutung.
Inwiefern haben wir aber unserem Dasein mit dem Anspruch auf das akademische Bürgerrecht einen besonderen Beruf gegeben? Mit diesem Anspruch — sofern wir ihn überhaupt verstehen — haben wir die Verpflichtung in unser Dasein gepflanzt, im jeweiligen Ganzen des geschichtlichen Miteinanderseins so etwas wie eine Führerschaft zu übernehmen. Darunter verstehen wir nicht die äußere Übernahme eines sogenannten leitenden Postens im Gebiet des öffentlichen Lebens, nicht, daß wir vielleicht da und dort die Rolle des Vorgesetzten oder Direktors Spielen, sondern Führerschaft ist die Verpflichtung zu einer Existenz, die in gewisser Weise die Möglichkeiten menschlichen Daseins im Ganzen und Letzten ursprünglicher versteht und in diesem Verstehen Vorbild sein soll. Um das zu sein, ist keineswegs erforderlich, daß jemand zu den Prominenten gehört. Noch weniger aber schließt diese Führerschaft schon ohne weiteres irgend eine moralische Überlegenheit gegenüber anderen in sich — im Gegenteil, die Verantwortung, die gerade solche unkontrollierbare und schlechthin unöffentliche Führerschaft bei sich trägt, ist eine ständige und verschärfte Gelegenheit zum moralischen Versagen des Einzelnen.
Warum liegt nun aber gerade in der wirklichen Zugehörigkeit zur Universität ein eigener Anspruch auf solche Führerschaft? Er ergibt sich daraus, daß die Universität durch die Pflege der wissenschaftlichen Forschung und in der Mitteilung einer wissenschaftlichen Bildung dem Dasein die Möglichkeit zu einer neuen Stellung im Ganzen der Welt bereitlegt, in der alle Bezüge des Daseins zum Seienden eine Wandlung erfahren und es in neuer Weise allen Dingen verwandter werden kann, nicht muß, weil eine eigene Durchsichtigkeit und Aufklärung in das Dasein kommt.
Daß wir mehr wissen als andere und manches besser, daß wir in den Besitz von Berechtigungs- und Examensscheinen kommen, ist völlig belanglos. Daß aber das ganze Dasein von einem inneren Vorzug durchwaltet wird, den an sich keiner von uns eich verdient hat, daß also in einem ursprünglicheren Grunde die Wissenschaft in uns die Möglichkeit einer unauffälligen und darum aber umso wirksameren Führerschaft im Ganzen der menschlichen Gemeinschaft ausbildet, bestimmt den Augenblick unseres jetzigen Daseins.
Wissenschaft und Führerschaft, beide in dieser Einheit, sind demnach die Mächte, unter die jetzt unser Dasein — wenn es überhaupt irgendeine Helle hat — gestellt ist, nicht im Sinne einer flüchtigen Episode, sondern als ein einmaliges Stadium, das die Einzigkeit unseres Daseins wesentlich bestimmt. Wenn wir die Philosophie in unserem Dasein hier und jetzt frei werden lassen wollen und wenn es die Aufgabe des Einleitens ist, das Philosophieren in Gang zu bringen, dann werden wir auch aus dieser Situation heraus ein gewisses Verständnis dessen gewinnen, was Philosophie besagt. Dieses Vorverständnis, das wir zunächst benötigen, müssen wir aus einer Aufhellung des Wesens der Philosophie in ihrem Verhältnis zu Wissenschaft und Führerschaft schöpfen. [GA27 :6-8]