Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caeiro (2012:9-10) – Teórico e Prático

terça-feira 27 de agosto de 2019

A identificação deste horizonte [prático] e o seu isolamento são operações executadas através de um contraste sistemático com o horizonte teórico (Caeiro (2012:281-282) – arche - princípio). Se a filosofia na sua dimensão teórica visa a constituição de uma situação que permita contemplar a verdade, na sua dimensão prática [1], contudo, a filosofia tende a expressar-se no agir [2]. A diferença fundamental entre ambas as dimensões reside em que os entes que caem dentro do horizonte teórico não admitem alteração enquanto os que caem dentro do horizonte prático a admitem. Os entes que se constituem no horizonte prático, as diversas circunstâncias em que de cada vez nos encontramos, as mais diversas situações em que caímos ou que criamos, etc., etc. são sempre diferentes [3].

A par da identificação dos respectivos horizontes e dos entes que os inerem estruturalmente vai a detecção das formas específicas de lhes acedermos. O ponto de vista teórico acede aos princípios fundamentais (άρχαί) e às causas (αἰτίαι) responsáveis pelos entes que são inalteráveis em si mesmos e enquanto tais. Mas a teoria acede também a entes sujeitos à alteração, isto é, visa também os entes que são por natureza (τα φύσει όντα). Mas uma alteração deste género, natural, à qual estão sujeitos os entes naturais é necessária e conforme a uma lei. Na sua possibilidade extrema, a teoria, como contemplação, é sabedoria (σοφία), quer dizer, uma perícia, uma capacidade exímia para pôr a descoberto e compreender intuitivamente no seu isolamento os princípios e as causas das coisas. Princípios e causas das coisas que são assim o alvo visado pelo olhar contemplativo. O prático é um horizonte que admite estruturalmente variação. Como tal, os seus princípios e causas terão de ser necessariamente diferentes dos que presidem ao horizonte teórico. A sua detecção está sob a égide de uma forma diferente de acesso. A perspectiva que abre para eles não pode perder de vista nem as situações concretas em que de cada vez nos encontramos, nem o sentido orientador que planeia, orienta e assim permite agir. Esta disposição desocultante é a frónesis, a sensatez. Trata-se da possibilidade extrema do ponto de vista prático, homóloga da sabedoria no ponto de vista teórico.


Ver online : ÉTICA A NICÔMACO


[1«Por exemplo, o carpinteiro e o geómetra investigam de modo distinto o ângulo recto. Um valoriza o aspecto útil para o seu trabalho, o outro, porém, a essência e a qualidade específica [do ângulo recto]; porque está tomado pelo olhar da verdade.», EN1089a29 e ss.

[2«Os que examinam a acção e as situações humanas têm em vista o modo como algo é, não o que é eterno, mas o que é relativo e o que é agora no instante presente.» MF, 993b20.

[3as coisas que podem ser de maneira diferente/as coisas que não podem ser de maneira diferente. Esta distinção é fulcral para o isolamento do sentido do horizonte do Ético e da dimensão prática do Humano enquanto tal, cf. EN, 1139a7 e ss.