Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Abbagnano (2013) – o possível [Möglichkeit]

segunda-feira 14 de outubro de 2024

Uma das características marcantes da filosofia contemporânea é a importância e a autonomia que a categoria do possível passou a adquirir dentro dela. Por meio dos trabalhos aparentemente discordantes, mas de alguma forma concordantes, do pensamento contemporâneo, essa categoria está começando a romper sua conexão (que na verdade é uma confusão) com a do virtual e a aparecer em sua individualidade e valor autônomo. Proponho aqui fazer mais uma contribuição para esse processo de esclarecimento, que deve colocar a filosofia contemporânea em posse de sua ferramenta fundamental de pesquisa.

Como é necessário começar com algum esclarecimento terminológico, entendemos por possível aquilo que pode ou não ser e que é apenas como tal. Nesse significado terminológico, o possível não está necessariamente ligado à mudança, ao devir, ao progresso, etc. e, em geral, a uma concepção do ser como movimento. A própria quietude é um possível, se, apesar de ser tal, não for assim. O possível refere-se, em outras palavras, a qualquer condição, estado ou modo de ser que, não obstante, inclua indeterminação, instabilidade, incerteza, precariedade, transitoriedade, perigo ou risco. Por outro lado, ele também não exclui a determinação, a estabilidade, a certeza etc., se essas condições ou estados não forem absolutizados e considerados irremovíveis. Ele apenas e precisamente exclui essa absolutização, ou seja, o endurecimento ontológico dessas condições ou estados em modos de ser sem problematicidade interna. De fato, o possível expressa a estrutura de toda condição problemática, ou seja, de toda condição na qual ou com relação à qual uma dúvida, uma questão, um problema que se justifica como tal pode se enraizar. O ser (qualquer que seja a realidade, situação ou experiência a que essa palavra se refira) pode ser entendido ou interpretado por meio da categoria do possível, na medida em que a pergunta sobre o ser é considerada intrínseca e constitutiva do próprio ser. Se e na medida em que o problema do ser for considerado como não qualificando o próprio ser, a categoria do possível se torna inoperante e perde seu significado.

É evidente que a categoria do possível não suporta a co-presença de outras categorias. Onde o possível se apresenta, tudo é possível e somente possível. Se, de fato, as condições de estabilidade, certeza, segurança e necessidade não são absolutizadas (nesse caso, é claro, o possível é completamente excluído), mas o possível é reconhecido ao lado delas ou nelas como tal, o possível torna-se imediatamente a única categoria na qual essas condições encontram seu fundamento. Elas são, então, na medida em que são possíveis, ou seja, seu ser implica a possibilidade de seu não-ser.

ABBAGNANO  , Nicola. Scritti Esistenzialisti. Novara: De Agostini Libri, 2013 (epub)


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