Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Gadamer (VM2:361-362) – destruição e desconstrução

domingo 25 de junho de 2023

Meurer

Quando Heidegger elevou o tema da compreensão de uma metodologia das ciências do espírito à condição de um existencial e fundamento de uma ontologia da “pre-sença”, a dimensão hermenêutica já não representou um estrato superior na investigação da intencionalidade fenomenológica, baseada na percepção física, mas fez aflorar sobre uma base europeia e dentro da orientação da fenomenologia o que na lógica anglo-saxônica aparecia quase simultaneamente como a linguistic turn. No desenvolvimento originário da investigação fenomenológica levada a efeito por Husserl   e Scheler  , a linguagem permaneceu na penumbra, apesar da guinada que se deu rumo à Lebenswelt   (”mundo da vida”).

Na fenomenologia repetira-se o abissal esquecimento da linguagem que já havia caracterizado o idealismo transcendental   e que parecia encontrar respaldo na infeliz crítica de Herder à guinada transcendental kantiana. A linguagem não encontrou um lugar de honra nem sequer na dialética e na lógica hegelianas. Por outro lado, Hegel   mencionou ocasionalmente o instinto lógico da linguagem, cuja antecipação especulativa do absoluto impôs a tarefa da obra genial da Lógica hegeliana. Na verdade, por trás da germanização da linguagem escolar da metafísica, imposta por Kant   no estilo rococó, a contribuição de Hegel à linguagem da filosofia foi de inegável relevância. Hegel destacou formalmente a grande energia de Aristóteles   na formação da linguagem e dos conceitos, e seguiu de perto seu egrégio exemplo ao procurar salvar na linguagem do conceito muito do espírito de sua língua materna. Essa circunstância acarretou-lhe o inconveniente da intradutibilidade, uma barreira que tem sido insolúvel durante mais de um século e que hoje continua constituindo um obstáculo difícil de ultrapassar. Mas o certo é que tampouco Hegel outorgou à linguagem um posto central.

Em Heidegger repetiu-se uma irrupção parecida, e até mais vigorosa, do impulso originário da linguagem na esfera do pensamento. O que contribuiu muito para isso foi seu recurso consciente à originalidade da linguagem filosófica grega. Assim, em virtude da força intuitiva de suas raízes plantadas no mundo da vida, a “linguagem” retomou toda sua virulência e penetrou decisivamente no sutil artifício descritivo da fenomenologia husserliana. Era [362] inevitável que a própria linguagem se convertesse em objeto de sua auto-compreensão filosófica. Quando já em 1920, como eu mesmo posso testemunhar, partindo de uma cátedra alemã, um jovem pensador — Heidegger — começou a meditar sobre o significado de “mundear” (es weltet), isso representou uma brecha aberta na linguagem escolar da metafísica, que se pautava por uma linguagem sólida, mas inteiramente distanciada de suas origens. Esse fato representou ao mesmo tempo um acontecimento no âmbito da linguagem e a conquista de uma compreensão mais profunda da própria linguagem. A atenção que a tradição do idealismo alemão dedicou ao fenômeno da linguagem, desde Humboldt  , os irmãos Grimm, Schleiermacher  , Schlegel e por último Dilthey  , e que deu um claro impulso à nova ciência da linguagem, sobretudo à linguagem comparada, permaneceu no âmbito da filosofia da identidade. A identidade do subjetivo e o objetivo, de pensamento e ser, de natureza e espírito se manteve até a filosofia das formas simbólicas inclusive, entre as quais destaca-se a linguagem. Como o ponto extremo desse fenômeno, encontramos a obra sintética da dialética hegeliana, que através de todas as contradições e diferenciações imagináveis, buscava restabelecer a identidade e elevar a originária ideia aristotélica do noesis   noeseos a sua perfeição mais apurada. Foi assim que o parágrafo final da Enciclopédia de ciências filosóficas de Hegel o formulou, de um modo um tanto insolente. Como se a longa história do espírito tivesse dirigido todo seu esforço a uma única meta: tantae molis erat se ipsam cognoscere mentem, conclui Hegel evocando um verso de Virgílio.

Original

Als Heidegger das Thema   des Verstehens von einer Methodenlehre der Geisteswissenschaften   zum Existenzial   und Fundament   einer Ontologie   des Daseins erhob, stellte die hermeneutische Dimension nicht   länger eine höherstufige Schicht der phänomenlogischen Intentionalitätsforschung dar, die in der leibhaftigen Wahrnehmung   fundiert ist, sondern brachte auf   europäischem Boden und in der Forschungsrichtung der Phänomenologie   das zum Durchbruch, was als der »linguistic turn‟ in der angelsächsischen Logik   fast gleichzeitig zum Zuge gelangte. In der ursprünglichen Husserl-Schelerschen Entfaltung der phänomenlogischen Forschung   war trotz aller Wendung zur Lebenswelt die Sprache   ganz verschattet geblieben.

In der Phänomenologie hatte sich die abgründige Sprachvergessenheit wiederholt, die bereits den transzendentalen Idealismus   kennzeichnete und die durch die unglückliche Kritik   Herders an der kantischen transzendentalen Wendung beglaubigt schien. Selbst   in der Hegelschen Dialektik und Logik fand die Sprache keinen ausgezeichneten Platz  . Auf der anderen   Seite wies Hege] gelegentlich auf den logischen Instinkt der Sprache hin, dessen spekulative Antizipation des Absoluten dem genialen Werk   der Hegelschen Logik seine Aufgabe stellte. Tatsächlich   war nach Kants rokokohaft-zierlicher Eindeutschung der Schulsprache der Metaphysik   der Beitrag   Hegels zur Sprache der Philosophie   von unverkennbarer Bedeutung  . Er erinnerte förmlich an die sprach- und begriffsbildende Energie des Aristoteles und kam diesem größten Vorbild auch insofern am nächsten, als er in die Sprache des Begriffs viel vom Geiste seiner Muttersprache hinüber zu retten   vermochte. Dieser Umstand hat freilich für ihn die Schranke der Unübersetzbarkeit aufgerichtet, die über mehr als ein Jahrhundert unübersteigbar war und bis heute   ein schwer   zu nehmendes Hindernis bildet. Aber eine Zentralstellung hatte auch bei   Hegel die Sprache nicht gewonnen.

In Heidegger wiederholte sich ein ähnlicher, ja sogar noch stärkerer Ausbruch ursprünglicher Sprachkraft im Reiche des Gedankens. Dazu   trat sein   bewußter Rückgriff auf die Ursprünglichkeit   der griechischen Philosophensprache. So wurde »Sprache« in der ganzen Anschauungskraft ihrer lebensweltlichen Bodenständigkeit   virulent und brach in die hochverfeinerte [362] Deskriptionskunst der husserlschen Phänomenologie machtvoll ein. Es konnte nicht ausbleiben, daß   die Sprache selbst zum Gegenstand   ihrer philosophischen Selbstbegreifung wurde. Wenn schon im Jahre 1920, wie ich   bezeugen kann, von einem deutschen Katheder ein junger Denker  , eben Heidegger, darüber nachzudenken begann, was cs heißt, daß »es weltctt, so war das der Durchbruch durch eine gediegene, aber ihren eigenen   Ursprüngen ganz entfremdete Schulsprache der Metaphysik und bedeutete im selben Atem ein Sprachereignis und den Gewinn eines tieferen Verständnisses von Sprache überhaupt. Was in der Tradition   des deutschen Idealismus von Humboldt, den Brüdern Grimm, Schleiermacher und den Schlegels und zuletzt von Dilthey dem Phänomen der Sprache zugewandt wurde und der neueren Sprachwissenschaft, vor allem der Sprachvergleichung, einen ungeahnten Auftrieb verlieh, verblieb im Rahmen der Identitätsphilosophie. Die Identität   des Subjektiven und des Objektiven, von Denken   und Sein, von Natur   und Geist   hielt sich bis in die Philosophie der symbolischen Formen102 durch, unter denen die Sprache hervorragt. Es war in letzter Aufgipfelung die synthetische Leistung der Hegelschen Dialektik, durch alle erdenklichen Widersprüche und Differenzierungen hindurch Identität wieder herzustellen und den aristotelischen Urgedanken der Noesis noeseös zur reinsten Vollendung   zu steigern. Das hat der Schlußparagraph von Hegels Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften geradezu herausfordernd formuliert. Als ob die ganze   lange Geschichte   des Geistes, wie Hegel in Anlehnung an einen Vergilvers zum Ausdruck   brachte, die Arbeit auf ein einziges Ziel hin war: „tantae molis erat se ipsam cognoscere mentem‟.


Ver online : Hans-Georg Gadamer