Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Derrida (2008:174-175) – homem, sujeito do significante

quarta-feira 14 de fevereiro de 2024

Casanova

Ser sujeito do significante, porém, isso também quer dizer, e ainda quer dizer, duas coisas indissociáveis, que se acoplam na subjetividade do sujeito. O sujeito do significante está sujeitado ao significante. Lacan   não para de insistir sobre a “dominância” do “significante sobre o sujeito” [1], assim como sobre a “ordem simbólica que é, para o sujeito, constituinte” [2]. O “sujeito” não [186] é senhor dessa ordem. Nem a soberania. O verdadeiro soberano humano é o significante. A entrada do sujeito na ordem humana da lei supõe essa finitude passiva, essa incapacidade, essa falta da qual o animal não sofre. O animal não conhece o mal, a mentira, o engodo. O que lhe falta é justamente a falta em virtude da qual o homem é sujeito do significante, sujeito sujeitado ao significante soberano. Mas ser sujeito do significante também é ser sujeito assujeitador, sujeito mestre, sujeito ativo que decide o significante; bastante mestre em todo caso, se os senhores quiserem, para ser capaz de fingir o fingimento e, então, de poder estabelecer o seu poder de aniquilamento do rastro. Essa soberania é a superioridade do homem sobre a besta, mesmo que ela esteja assegurada segundo o privilégio da falha, da falta ou do erro, de um defeito que se reconduz tanto à prematuração genérica do nascimento quanto ao complexo de castração — que Lacan, em um texto que citarei em um instante, designa como a versão científica (em todo caso não mitológica) e freudiana do pecado original e do erro de adâmico.

É aí que a passagem do imaginário para o simbólico se determina como passagem da ordem animal para a ordem humana. É aí que a subjetidade, como ordem do significante segundo o lugar do Outro, teria passado despercebido pela filosofia tradicional do sujeito, como relações entre o homem e o animal. Tal é ao menos a alegação de Lacan no momento em que ele reintroduz sutilmente a lógica do antropocentrismo e reforça firmemente o fixismo do cogito   cartesiano como tese sobre o animal-máquina em geral.

original

Mais être sujet du signifiant, cela veut dire aussi, et encore, deux choses indissociables qui s’accouplent dans la subjectité du sujet. Le sujet du signifiant est assujetti au signifiant. Lacan ne [174] cesse d’insister sur la « dominance » « du signifiant sur le sujet » [3] comme sur « l’ordre symbolique qui est, pour le sujet, constituant » [4]. Le « sujet » n’en a pas la maîtrise. Ni la souveraineté. Le vrai souverain humain, c’est le signifiant. L’entrée du sujet dans l’ordre humain de la loi suppose cette finitude passive, cette infirmité, ce défaut dont l’animal ne souffre pas. L’animal ne connaît pas le mal, le mensonge, la tromperie. Ce qui lui fait défaut, c’est justement le défaut en vertu duquel l’homme est sujet du signifiant, sujet assujetti au signifiant souverain. Mais être sujet du signifiant, c’est aussi être sujet assujettissant, sujet maître, sujet actif et décidant du signifiant, assez maître en tout cas, si vous voulez, pour être capable de feindre de feindre et donc de pouvoir poser son pouvoir d’anéantissement de la trace. Cette souveraineté est la supériorité de l’homme sur la bête, même si elle s’assure depuis le privilège du défaut, du manque ou de la faute, d’une défaillance qu’on reconduit aussi bien à la prématuration générique de la naissance qu’au complexe de castration — que Lacan, dans un texte que je citerai dans un instant, désigne comme la version scientifique (en tout cas non mythologique) et freudienne du péché originel ou de la faute adamique.

C’est là que le passage de l’imaginaire au symbolique se détermine comme passage de l’ordre animal à l’ordre humain. C’est là que la subjectité, comme ordre du signifiant depuis le lieu de l’Autre, aurait été manquée par la philosophie   traditionnelle du sujet, comme des rapports entre l’homme et l’animal. Telle est du moins l’allégation de Lacan au moment où il réintroduit subtilement la logique de l’anthropocentrisme et renforce fermement le fixisme du cogito cartésien comme thèse sur l’animal-machine en général.

[DERRIDA  , Jacques. Séminaire La bête et le souverain. Paris: Galilée, 2008]

[DERRIDA, Jacques. A besta e o soberano I: seminário (2001-2002). Tr. Marco Casanova  . Rio de Janeiro: Via Verita, 2016]


Ver online : Jacques Derrida


[1Por exemplo, em “O seminário sobre a ‘Carta roubada”, em: Escritos, op. cit., p. 61.

[2“[…] é a ordem simbólica que é, para o sujeito, constituinte, ao vos demonstrar em uma história a determinação maior que o sujeito recebe do percurso de um significante” (Ibid, p. 12).

[3Par exemple dans « Le séminaire sur “La Lettre volée” », dans Ecrits, op. cit., p. 61.

[4« […] c’est l’ordre symbolique qui est, pour le sujet, constituant, en vous démontrant dans une histoire la détermination majeure que le sujet reçoit du parcours d’un signifiant. » (Ibid., p. 12.)