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GA12:103-106 – Vazio, ser e sentido do ser

DE UMA CONVERSA SOBRE A LINGUAGEM ENTRE UM JAPONÊS E UM PENSADOR

sábado 27 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

J — Por que então o senhor não abandona logo a palavra "ser" e não a deixa exclusivamente para uso da metafísica? Por que não deu um outro nome ao que o senhor procurava como "o sentido do ser", seguindo o caminho da essência do tempo?

Schuback

P — O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência?

J — De certo. É por isso que no Japão logo entendemos a conferência O que é metafísica? que nos chegou em 1930, numa tradução [88] feita por um estudante japonês, seu ouvinte. Ainda hoje estranhamos que os europeus pudessem ter caído na armadilha de interpretar niilisticamente o nada discutido na conferência. Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser…

P — num esforço de pensamento, cujos primeiros passos ainda hoje são inevitáveis. Sem dúvida, foi um esforço que gerou muita confusão, confusão que se funda na própria coisa e se relaciona com o emprego da palavra "ser". Pois o termo pertence, propriamente, ao acervo da linguagem metafísica embora eu o tenha utilizado como título, no esforço por deixar aparecer a essência da metafísica dentro de seus limites.

J — É este o sentido de superação da metafísica?

P — Somente este, nem destruição, nem mesmo negação da metafísica. Pretendê-lo seria pueril e uma degradação da história.

J — À distância, estranhamos sempre que se tenha atribuído ao senhor uma recusa e rejeição da história do pensamento até hoje vigente. Para nós, o senhor visa somente a uma apropriação originária da história

P — cujo êxito se pode e se deve discutir.

J — O fato dessa discussão ainda não ter encontrado uma trilha adequada resulta, além de outros motivos, sobretudo, da confusão instaurada pelo sempre ambíguo uso da palavra "ser".

P — O senhor tem razão. Estranho é que se tenha atribuído posteriormente essa confusão ao meu próprio esforço de pensar. Em sua caminhada, esse esforço faz claramente uma distinção entre "ser" como "ser dos entes", e "ser" como "ser em seu próprio sentido", isto é, em sua verdade (clareira).

J — Por que então o senhor não abandona logo a palavra "ser" e não a deixa exclusivamente para uso da metafísica? Por que não deu um outro nome ao que o senhor procurava como "o sentido do ser", seguindo o caminho da essência do tempo?

P — Como se pode dar um nome específico ao que ainda se procura? Todo achar e encontrar repousa no apelo da linguagem nomeadora.

[89] J — Nessas condições, deve-se suportar a confusão.

P — Realmente. Talvez ainda tenhamos que suportá-la por muito tempo, na condição indispensável de nos empenharmos em des-fazê-la com todo o cuidado.

J — É que somente um empenho assim pode nos levar para a liberdade.

P — O caminho até lá, no entanto, não é construído como se constrói uma estrada. O pensamento gosta de construir, eu quase diria, de maneira milagrosa, o seu caminho.

J — Neste tipo de construção, os construtores devem, às vezes, voltar para os trechos já edificados ou até mesmo para antes deles.

P — Eu admiro o quanto o senhor percebe o modo de ser dos caminhos do pensamento.

J — Dispomos de uma longa experiência. Essa não se transformou porém numa metodologia conceituai que destrói toda a vitalidade dos passos do pensamento. Ademais, o senhor mesmo me deu oportunidade de ver com maior nitidez o caminho de seu pensamento.

P — Como assim?

J — Embora ultimamente o senhor venha fazendo economia da palavra "ser", há pouco tempo a usou de novo num contexto que me parece inclusive o mais essencial de seu pensamento. Na Carta sobre o humanismo, o senhor chama a linguagem de "casa do ser". Ainda hoje, no início da conversa, o senhor se referiu a esta formulação. Mas, ao lembrar, tenho de dizer que nossa conversa se afastou muito de seu caminho.

P — É o que parece. Na verdade, estamos prestes a entrar em seu caminho. [p. 87-89]

Fédier

D. — Le vide est alors le même que le Rien, à savoir ce pur déploiement que nous tentons de penser comme l’Autre par rapport à tout ce qui vient en présence et à tout ce qui s’absente.

J. — Certes. C’est pourquoi, au Japon, nous avons aussitôt compris la conférence « Qu’est-ce que la métaphysique? », lorsqu’elle parvint jusqu’à nous en 1930 grâce à la traduction qu’en a risquée un étudiant japonais qui assistait alors à vos cours. Nous nous étonnons aujourd’hui [105] encore et nous nous demandons comment les Européens ont donné dans l’idée de prendre dans un sens nihiliste le Rien dont ladite conférence entreprend la situation  . Pour nous, le vide est le nom le plus haut pour cela que vous aimeriez pouvoir dire avec le mot : « être »…

D. — … en une tentative de pensée dont les première pas sont encore aujourd’hui incontournables. Elle devint, certes, l’occasion d’une grande confusion qui trouve son fond au cœur même de ce qui est en question, et se rattache à l’emploi du nom d’« être ». Car à proprement parler, ce nom appartient à la propriété de la langue métaphysique, alors qu’avec ce mot j’intitule la tâche qui s’efforce de porter au jour le déploiement (das Wesen  ) de la métaphysique, et par là seulement d’amener cette dernière à prendre place dans ses limites.

J. — Quand vous parlez d’un dépassement de la métaphysique, c’est cela que vous avez en vue.

D. — Cela seulement. Il ne s’agit ni de démolir, ni même de renier la métaphysique. Vouloir de telles choses, ce serait, prétention puérile, ravaler l’histoire.

J. — Pour nous, de loin, cela a toujours été un sujet d’étonnement que l’on n’arrête pas de vous prêter une attitude de rejet par rapport à l’histoire, jusqu’ici, de la pensée, alors que tout votre effort au contraire tend uniquement à préparer son originale appropriation.

D. — Quant à savoir si cette appropriation peut réussir, cela peut et doit être mis en question.

J. — Que le débat de cette question n’ait pas encore trouvé sa bonne voie tient, à côté de beaucoup d’autres motifs, principalement à la confusion qu’a instituée votre emploi ambigu du mot « être ».

D. — Vous avez raison; mais où l’on s’embrouille, c’est quand, la confusion occasionnée, on l’impute à ma propre tentative de pensée — elle qui, sur son chemin, connaît clairement la différence entre « être » entendu comme « être de l’étant » et « être » comme « être » en vue de son propre sens, c’est-à-dire de sa vérité (éclaircie).

J. — Dans quel dessein n’avez-vous pas abandonné aussitôt et catégoriquement le mot « être », le laissant exclusivement à la langue de la métaphysique? Pourquoi n’avez-vous pas aussitôt donné son propre nom à cela que, [106] par le détour à travers le déploiement du temps, vous cherchiez comme le « sens de l’être »?

D. — Comment peut-il donner le nom de ce qu’il cherche, celui qui en est encore à chercher? La trouvaille a lieu quand le mot qui nomme vient vous interpeller.

J. — Ainsi donc, la confusion engendrée, il faut tenir bon et la soutenir.

D. — Sans contredit, et peut-être pour longtemps, et seulement de telle sorte que nous tâchions soigneusement à débrouiller la confusion.

J. — Cela seul mène en plein air, dans l’espace libre.

D. — Mais le chemin jusque-là ne se laisse pas jalonner ni planifier comme une route. La pensée va au gré d’une façon de bâtir le chemin que j’aimerais presque appeler prodigieuse.

J. — Sur ce chemin, il faut que les bâtisseurs retournent quelquefois aux chantiers dépassés et abandonnés, ou même qu’ils reculent plus loin derrière.

D. — Je m’émerveille de la pénétration de votre regard sur le style des chemins de pensée.

J. — Nous avons en ce domaine une riche expérience; mais elle n’est pas mise en forme de méthodologie conceptuelle, ce qui détruirait toute la vivacité native des démarches de la pensée. En outre, c’est vous-même qui m’avez donné occasion de voir plus distinctement le chemin de votre pensée.

D. — Comment cela?

J. — Bien que vous soyez économe du mot « être », vous avez récemment employé de nouveau ce nom, dans un contexte qui me devient toujours plus proche pour m’apparaître même comme ce qu’il y a de plus essentiel dans votre pensée. Dans la Lettre sur l’humanisme, vous caractérisez la parole de la langue comme la « maison de l’être »; aujourd’hui, au début de notre entretien, vous avez vous-même fait allusion à cette tournure. Et, me remémorant cela, je dois m’aviser que notre entretien c’est fort écarté de son chemin.

D. — Ça en a l’air. Mais en vérité nous en sommes seulement à arriver sur ce chemin.

Original

F Die Leere   ist dann   dasselbe wie das Nichts  , jenes Wesende nämlich, das wir als das Andere   zu allem An- und Abwesenden zu denken   versuchen.

J Gewiß. Deshalb haben   wir in Japan den Vortrag »Was ist Metaphysik  ?« sogleich verstanden, als er im Jahre 1930 durch die Übersetzung   zu uns gelangte, die ein japanischer Student, der damals bei   Ihnen hörte, gewagt hat. – Wir wundem uns heute   noch, wie die Europäer darauf verfallen   konnten, das im genannten Vortrag erörterte Nichts nihilistisch zu deuten. Für uns ist die Leere der höchste Name für das, was Sie mit dem Wort   »Sein  « sagen   möchten . . .

F in einem Denkversuch, dessen erste Schritte auch heute noch unumgänglich   sind. Er wurde freilich zum Anlaß einer großen Verwirrung, die in der Sache   begründet ist und mit dem Gebrauch   des Namens »Sein« zusammenhängt. Denn eigentlich   gehört dieser Name in das Eigentum der Sprache der Metaphysik, während ich   das Wort in den Titel einer Bemühung setzte, die das Wesen der Metaphysik [104] zum Vorschein   und sie dadurch erst in ihre Grenzen einbringt.

J Wenn Sie von einer Überwindung   der Metaphysik sprechen, meinen Sie dies.

F Dies allein; weder eine Zerstörung noch auch nur eine Verleugnung der Metaphysik. Dergleichen zu wollen  , wäre eine kindische Anmaßung und eine Herabsetzung der Geschichte  .

J Uns war es aus der Ferne   immer schon   verwunderlich, daß   man sich nicht genug tun   kann, Ihnen ein abwehrendes Verhältnis   zur Geschichte des bisherigen Denkens anzusinnen, wo Sie doch nur eine ursprüngliche Aneignung anstreben.

F Über deren Gelingen man streiten kann und soll.

J Daß dieser Streit   noch nicht in die rechte Bahn   fand, liegt neben vielen anderen Beweggründen in der Hauptsache an der Verwirrung, die Ihr zweideutiger Gebrauch des Wortes »Sein« stiftete.

F Sie haben recht; das Verfängliche ist nur, daß man die veranlaßte Verwirrung nachträglich meinem eigenen Denkversuch zuschreibt, der auf   seinem Weg   klar den Unterschied   zwischen   »Sein« als »Sein von Seiendem« und »Sein« als »Sein« hinsichtlich des ihm eigenen Sinnes, d. h. seiner Wahrheit   (Lichtung  ) kennt.

J Weshalb überließen Sie das Wort »Sein« nicht sogleich und entschieden ausschließlich der Sprache der Metaphysik? Warum   gaben Sie dem, was Sie als den »Sinn   von Sein« auf dem Weg durch das Wesen der Zeit   suchten, nicht sogleich einen eigenen Namen?

[105] F Wie soll einer nennen, was er erst sucht? Das Finden beruht doch im Zuspruch des nennenden Wortes.

J So muß die entstandene Verwirrung ausgehalten werden  .

F Allerdings, und vielleicht lange und nur so, daß wir uns sorgfältig um die Entwirrung mühen.

J Nur sie führt ins Freie.

F Aber der Weg dahin läßt sich nicht wie eine Straße planmäßig abstecken. Das Denken huldigt einem, fast möchte ich sagen, wundersamen Wegebau.

J Bei dem die Bauenden bisweilen zu den verlassenen Baustellen oder gar noch hinter sie zurückkehren müssen.

F Ich wundere mich über Ihre Einsicht in die Art der Denkwege.

J Wir haben darin eine reiche Erfahrung  ; nur ist sie nicht auf die Form einer begrifflichen Methodenlehre gebracht, die jede Regsamkeit der Denkschritte zerstört. Überdies haben Sie selbst   mir den Anlaß gegeben  , den Weg Ihres Denkens deutlicher zu sehen  .

F Wodurch?

J Sie haben neuerdings, obgleich Sie mit dem Wort »Sein« sparsam umgehen, diesen Namen doch wieder in einem Zusammenhang   gebraucht, der mir sogar als das Wesentlichste Ihres Denkens immer näher kommt. Sie kennzeichnen im »Brief über den Humanismus  « die Sprache als das »Haus des Seins«; Sie haben heute zu Beginn   unseres Gespräches selber auf diese Wendung hingewiesen. Und während ich [106] daran erinnere, muß ich bedenken, daß unser Gespräch   weit von seinem Weg ab gekommen ist.

F So scheint es. In Wahrheit sind wir jedoch dabei, erst auf seinen Weg zu gelangen.


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