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Merleau-Ponty (1964:294-295) – O-que-é-Eu

quarta-feira 23 de março de 2022, por Cardoso de Castro

Gianotti

O-que-é-Eu (Je), verdadeiramente, não é ninguém, é o anônimo; é preciso que ele seja assim, anterior a toda objetivação, denominação, para ser o Operador, ou aquele a quem tudo isso acontece. O Eu denominado, o denominado Eu, é um objeto. O eu primeiro, de que este é a objetivação, é o desconhecido a quem tudo é dado ver ou pensar, para quem tudo apela diante de quem… alguma coisa existe. É portanto, a negatividade — inatingível, bem entendido em pessoa, pois que ela não é nada.

Mas é este aquele que pensa, raciocina, fala, argumenta, sofre, goza, etc? Não, evidentemente, pois que não é nada — Aquele que pensa, percebe etc. é essa negatividade como abertura pelo corpo, ao mundo — É preciso compreender a reflexividade através do corpo, pela relação a si do corpo, da fala. A dualidade falar-ouvir permanece no âmago do Eu, a sua negatividade não é senão o vazio entre falar e ouvir, o ponto em que se processa a sua equivalência — A dualidade negativo-corpo ou negativo-linguagem é o sujeito — o corpo, a linguagem como alter-ego   — O “entre-nós” (Michaux) de meu corpo e eu (moi) — minha duplicação — que não impede que o corpo passivo e o ativo se cosam na Leistung: — se recubram, sejam não-diferentes — E isso, se bem que toda a Leistung realizada (discussão animada etc.), me dê sempre a impressão de ter “saído de mim” —

Original

Je, vraiment, c’est personne, c’est l’anonyme ; il faut qu’il soit ainsi, antérieur à toute objectivation, dénomination, pour être l’Opérateur, ou celui à qui tout cela advient. Le Je dénommé, le dénommé Je, est un objet. Le Je premier, dont celui-ci est l’objectivation, c’est l’inconnu à qui tout est donné à voir ou à penser, à qui tout fait appel, devant qui… il l’a quelque chose. C’est donc la négativité, – insaisissable, bien entendu, en personne, puisqu’elle n’est rien.

Mais est-ce là celui qui pense, raisonne, parle, argumente, souffre, jouit, etc.? Non évidemment, puisque ce n’est rien – Celui qui pense, perçoit, etc. c’est cette négativité comme ouverture, par le corps, au monde – Il faut comprendre la réflexivité par le corps, par le rapport à soi du corps, de la parole. La dualité parler-entendre demeure au cœur du Je, sa négativité n’est que le creux entre parler et entendre, le point où se fait leur équivalence – La dualité négatif-corps ou négatif-langage est le sujet – le corps, le langage, comme alter ego – L’« entre-nous » (Michaux) de mon corps et moi – ma duplication – qui n’empêche pas que le corps-passif et le corps-actif se soudent dans la Leistung – se recouvrent, sont non-différents – Cela, bien que toute Leistung accomplie (discussion animée, etc.), me donne toujours l’impression d’être « sorti de moi » –


Ver online : Merleau-Ponty


MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. Tr. José Artur Gianotti. São Paulo: Perspectiva, 1992.

MERLEAU-PONTY, M. Le visible et l’invisible. Paris: Gallimard, 1964.