Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Grondin (1987:55-56) – poder-ser [Seinkönnen]

segunda-feira 7 de outubro de 2024

O Dasein é sobredeterminado por seu poder-ser, o que explica por que o poder-ser autêntico desempenha um papel tão importante na segunda seção de Sein uncl Zeit. O Dasein entende seu ser em termos de possibilidades de ser. O termo “possibilidade” tem um peso ontológico especial aqui. Possibilidade não designa alguma não realidade que um dia poderá se concretizar e, assim, deixar de ser “mera possibilidade”. Na mente de Heidegger, o ser-possível do Dasein nunca abandonará seu caráter de possibilidade. É fácil ver por quê: o ser-possível está continuamente em perigo se for verdade que o Dasein, um ser finito, pode fugir a qualquer momento de suas possibilidades de existência, que Heidegger chamará de “autênticas”. O ser-para-a-morte do Dasein ilustra esse fenômeno. Para o Dasein, a morte só pode permanecer como uma possibilidade. Transformá-la em uma realidade que acontecerá “um dia desses, mas não agora” é, na opinião de Heidegger, trair seu caráter de possibilidade, bem como a possibilidade de existência autêntica que supostamente decorre desse caráter. A morte é uma realidade tão pouco palpável para todos que o Dasein não estará mais “aí”, portanto não será mais “Dasein”, quando a morte se tornar uma realidade que pode ser observada por outros. É por isso que a morte, para o Dasein que temos de ser individualmente, não significa primariamente um estado de fato suscetível de ocorrer em uma dessas quintas-feiras. A morte é todavia (e antes) a possibilidade na qual o Dasein vive enquanto existir, uma possibilidade mais “real” do que qualquer outra suposta realidade. Fugir dessa possibilidade, o fato de eu não pensar nela dia e noite, apenas confirma a realidade reprimida dessa possibilidade.

[GRONDIN  , J. Le Tournant dans la pensée de Martin Heidegger. Paris: PUF, 1987]


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