Giachini & Stein
Se a humanitas é levada em consideração de modo tão essencial para o pensar do ser, porém, então não será preciso que a “ontologia” seja complementada com a “ética” ? Neste caso, não é totalmente essencial o vosso esforço, um esforço que o senhor expressa na sentença : “Ce que je cherche à faire, depuis longtemps, c’est préciser le rapport de l’ontologie avec une éthique possible” ?
Logo depois que Ser e tempo foi lançado, um jovem amigo me perguntou : “Quando é que o Senhor irá escrever uma ética” ? Onde a essência do homem é pensada de modo tão essencial, a saber, unicamente a partir da pergunta acerca da verdade do ser, onde apesar disto o homem não é colocado como o centro do ente, deve despertar o desejo por indicações vinculantes e por regras que rezem qual o modo adequado de viver do homem que, partindo da ek-sistência, se dirige para experimentar o ser. O desejo por uma ética se vê impingido a buscar sua realização com tanto mais ardor, quanto mais aumenta a perplexidade do homem, a manifesta não menos do que a velada, até atingir a desmedida. É preciso dedicar todo cuidado à vinculação por meio da ética, visto que o [366] homem da técnica, exposto às instituições de massa, só poderá ainda ser levado a uma estabilidade confiável por meio de uma reunião e ordenação da totalidade de seus planos e ações que seja correspondente à técnica.
Quem poderia negligenciar e não ver esta situação de penúria ? Não deveríamos conservar e assegurar os vínculos existentes, mesmo quando mantêm o ser humano unido de modo tão pobre e voltado apenas para o mero momento presente ? Certamente. Mas será que essa necessidade desincumbe o pensar de ocupar-se com aquilo que por enquanto continua sendo o que deve ser pensado e que, enquanto ser, precedendo todo ente, é a garantia e a verdade ? E ademais, o pensar poderá subtrair-se de pensar o ser, depois que este se ocultou em um longo esquecimento, e, agora, nesse momento da atualidade do mundo, se anuncia por meio do abalo de todo ente ?
Antes de tentarmos definir com mais precisão a relação entre “a ontologia” e “a ética”, precisamos perguntar o que são “a ontologia” e “a ética” elas mesmas. Será necessário sopesar com vagar se aquilo que pode ser denominado em ambos os títulos continua sendo adequado e próximo à tarefa do pensar que, enquanto pensar, antes de qualquer outra coisa, deve pensar a verdade do ser.
Mas se tanto “a ontologia” quanto a “ética”, juntamente com todo pensar estruturado em disciplinas, devessem se tornar obsoletos, e se, com isto, nosso pensar devesse se tornar mais disciplinado, o que aconteceria, então, com a pergunta sobre a relação entre as duas mencionadas disciplinas da filosofia?
A “ética” surgiu pela primeira vez junto com a “lógica” e a “física” na escola de Platão . Estas disciplinas surgem em uma época em que ao pensar é permitido tornar-se “filosofia” e em que a filosofia, porém, se transforma em ἐπιστήμη (ciência) e a própria ciência, em assunto de escola e de atividades escolares. Nesta passagem pelo que se compreende assim como filosofia vem à tona a ciência, perece o pensar. Os pensadores anteriores a essa época não conhecem nenhuma [367] “lógica”, nem “ética” e nem “física”. Mas nem por isto seu pensar é ilógico ou amoral. No entanto, eles pensaram a φύσις em uma profundidade e amplidão nunca mais alcançada por toda a “física” posterior. Caso seja permitido uma tal comparação, em suas sagas, as tragédias de Sófocles guardam o ἦθος de modo mais originário do que as preleções de Aristóteles sobre “ética”. Uma sentença de Heráclito , composta de três palavras apenas, diz algo tão simples, que a partir dela se manifesta a essência do ethos de maneira imediata.
A sentença de Heráclito diz (Fragm. 119): ἦθος ἄνθρωπω δαίμων. Em geral, costuma-se traduzir essa sentença da seguinte forma: “Para o homem, o seu modo próprio de ser é seu demônio”. Essa tradução pensa de modo moderno, mas não grego, ἦθος significa morada, lugar onde morar. A palavra nomeia o âmbito aberto, no qual mora o homem. O aberto de sua morada permite a manifestação do que advém à essência do homem, ou seja, o que, advindo, se estabelece em sua proximidade. A morada do homem contém e guarda o advento daquilo ao que pertence o homem em sua essência. Segundo as palavras de Heráclito , isto é ο δαίμων, o deus. A sentença diz: o homem, enquanto é homem, mora nas cercanias de deus. Concorda com essa sentença de Heráclito uma história narrada por Aristóteles (De pari. anim. A 5, 645 a 17). Ela diz assim: […]
De Heráclito conta-se que ele teria dito uma palavra a estrangeiros que queriam visitá-lo. Aproximando-se dele, viram-no esquentando-se junto a um forno. Ficaram de pé surpresos, e isto sobretudo porque ele os encorajou ainda, estando eles vacilantes, convidando-os a se aproximarem com as palavras: “Também aqui estão presentes os deuses”.
É bem verdade que a história fala por si. No entanto, vamos destacar alguns pontos.
Em sua curiosidade e intromissão junto ao pensador, a multidão dos visitantes estrangeiros, no primeiro vislumbre [368] de sua morada, encontram-se decepcionados e desconcertados. A multidão acredita dever encontrar o pensador em situações nas quais, em contraposição ao cotidiano usual do homem, se mostram por toda parte as marcas do extraordinário e raro, situações que, por isto, devem ser emocionantes. Em sua visita ao pensador, a multidão espera encontrar coisas que – pelo menos por certo espaço de tempo – forneçam material para uma boa conversa e entretenimento. Os estrangeiros, que querem visitar o pensador, esperam talvez encontrá-lo precisamente no momento em que, mergulhado em um sentido profundo, está a pensar. Os visitantes querem “vi-venciar” isto; em verdade, não para serem atingidos pelo pensamento, mas simplesmente para poderem afirmar já terem visto e ouvido alguém de quem se diz reiteradamente ser um pensador.
Em vez disto, os curiosos encontram Heráclito junto ao forno. Trata-se de um lugar muito cotidiano e que não chama a atenção. Todavia, é aqui que se assa o pão. Porém, Heráclito não está ocupado nem sequer com o assar. Só está ali de pé para se esquentar. E assim, neste lugar cotidiano e simplório, ele denuncia sem mais toda a pobreza de sua vida. A visão de um pensador com frio tem pouca coisa a oferecer de interessante. Nessa visão decepcionante, os curiosos acabam perdendo inclusive e de imediato o prazer de se achegar mais perto. O que deveríam também procurar ali? Uma ocorrência assim cotidiana e sem atrativo como o fato de alguém ter frio e estar junto ao forno pode ser encontrada por qualquer um em sua própria casa e a qualquer hora. Para que deveríam, então, procurar um pensador? Os visitantes já estão em vias de se retirarem. Heráclito vê a curiosidade frustrada em seus semblantes. Se dá conta que já o fato de não ter se realizado uma sensação esperada é o suficiente para que esse grupo que acabara de chegar dê logo meia volta e parta em retirada. Por isto, encoraja-os. Ele os convida a entrar, apesar de tudo, dizendo-lhes: εἶναι γαρ καί ενταύθα – ϑεούς, “Também aqui estão presentes os deuses”.
Esta sentença coloca sob uma outra luz a morada (ἦθος) do pensador e seu fazer. Se os visitantes compreenderam [369] imediatamente essa palavra ou se chegaram mesmo algum dia a compreendê-la, vendo, então, tudo a partir dessa nova luz, isto o relato não nos conta. Mas o que fundamenta o fato de essa história ter sido contada e continuar sendo transmitida a nós, homens de hoje, é o fato de aquilo que ela narra provir da e caracterizar a atmosfera deste pensador. Καί ἐνταυϑα, “também aqui”, junto ao forno, neste lugar comum, onde qualquer coisa e qualquer circunstância, todo fazer e pensar é familiar e usual, isto é, ordinário, “também aqui”, no círculo do pacato e ordinário, εἶναι ϑεούς, as coisas se dão de tal modo “que os deuses estão presentes”.
ἦθος ἀνθρώπω δαίμων, diz o próprio Heráclito : “a morada (ordinária) é para o homem o aberto para a presentificação do deus (do ex-traordinário)”.
Agora então, se, de acordo com o significado fundamental da palavra ἦθος, a palavra ética significa que com ela se está pensando a morada do homem, então aquele pensar que pensa a verdade do ser como o elemento originário do homem, enquanto ek-sistente, já é em si ética. Mas esse pensar não é ética só porque é ontologia, pois a ontologia pensa sempre somente o ente (ὄν) em seu ser. Todavia, enquanto não se pensa a verdade do ser, toda ontologia continua sem fundamento. É por isto que o pensar, que em Ser e tempo se procurou pensar previamente na verdade do ser, é designado como ontologia fundamental. Essa ontologia busca retornar ao fundamento essencial a partir do qual surge o pensar da verdade do ser. Já por meio do ponto de partida do outro perguntar, esse pensar se exclui da “ontologia” da metafísica (inclusive daquela de Kant ). “A ontologia”, porém, seja ela transcendental ou pré-crítica, está submetida à crítica não por pensar o ser do ente, forçando, assim, o ser a entrar no conceito, mas porque não pensa a verdade do ser e, com isto, desconhece que há um pensar que é mais rigoroso do que o conceitual. Na penúria de sua primeira investida, o pensar que procura pensar previamente a verdade do ser traz à fala uma parte muito pequena dessa dimensão totalmente diversa. Essa linguagem falsifica ainda a si mesma, na medida em que ainda não consegue manter o auxílio do modo de ver fenomenológico [370], renunciando ao mesmo tempo à pretensão incabida de ser “ciência” e “investigação”. Todavia, para tornar conhecida e ao mesmo tempo compreensível essa tentativa do pensar dentro da filosofia vigente, só foi possível falar de início a partir do horizonte daquilo que está em vigência e do uso dos termos que lhe são usuais.
Neste meio tempo, aprendi a perceber que justo estes títulos deveríam levar direta e inevitavelmente ao erro. Pois os termos e a linguagem conceitual que lhes está subordinada não foram re-pensados pelo leitor a partir da coisa em questão a ser primeiramente pensada, mas essa coisa em questão foi representada a partir dos termos fixados em sua significação usual. O pensar que pergunta pela verdade do ser, determinando aí a morada essencial do homem a partir do ser e na direção do mesmo, não é ética nem ontologia. Por isto, a pergunta pela relação entre as duas não tem mais qualquer fundamento neste âmbito. No entanto, a pergunta que você coloca, pensada de modo mais originário, contém um sentido e uma importância essencial.
É preciso realmente perguntar: se o pensar, refletindo sobre a verdade do ser, determina a essência da humanitas como ek-sistência a partir de seu pertencimento ao ser, esse pensar continua sendo apenas uma representação teórica do ser e do homem ou será possível retirar desse conhecimento algumas orientações para a vida prática e aplicá-las aí?
A resposta é: este pensar não é nem teórico nem prático. Ele acontece antes desta distinção. Este pensamento, enquanto é tal pensamento, é o pensar rememorante do ser e nada além disto. Ele pertence ao ser porque, jogado pelo ser na guarda de sua verdade e convocado para ela, ele pensa o ser. Esse pensar não produz nenhum resultado. Não tem efeitos. É suficiente para sua essência quando é. Mas só é enquanto diz a coisa que lhe está em questão. Historicamente, à coisa do pensamento pertence apenas e a cada vez uma saga, aquela adequada à sua determinação coisal. O caráter vinculativo da coisa que está para ele em questão é essencialmente superior à validade das ciências por ser mais livre. Pois deixa o ser – ser.
[371] O pensar trabalha construindo a casa do ser que, enquanto a junção fugidia do ser, dispõe a cada vez de modo adequado ao destino a essência do homem para o morar na verdade do ser. Esse morar é a essência do “ser-no-mundo” (cf. Ser e tempo , p. 54). A referência ao “ser-em” enquanto “morar”, que é lá encontrada, não é um jogo de palavras. A referência que se encontra na conferência de 1936 sobre a sentença de Hölderlin “Pleno de merecimento, mas poeticamente mora / nesta terra o homem”, não é nenhum enfeite de um pensar que, fugindo da ciência, busca refúgio na poesia. Ao falar da casa do ser, não se está transpondo a imagem da “casa” para o ser. Ao contrário, a partir da essência do ser, pensada de acordo com a coisa em questão, chegará o dia em que poderemos pensar melhor o que são “casa” e “morar”.
Mesmo assim, o pensar jamais cria a casa do ser. O pensar conduz a ek-sistência histórica, isto é, a humanitas do homo humano, para o âmbito do despontar da salvação.
Cortés & Leyte
Pero si la humanitas es tan esencial para el pensar del ser, ¿no debe completarse la « ontolo-gía » con la « ética » ? ¿No es entonces de todo punto esencial el esfuerzo que usted expresa en la frase : « Ce queje cherche á faire, depuis longtemps déjá, c’est préciser le rapport de l’ontologie avec une éthique possible » ?
Poco después de aparecer Ser y tiempo me preguntó un joven amigo : « ¿Cuándo escribe usted una ética ? ». Cuando se piensa la esencia del hombre de modo tan esencial, esto es, únicamente a partir de la pregunta por la verdad del ser, pero al mismo tiempo no se eleva el hombre al centro de lo ente, tiene que despertar necesariamente la demanda de una indicación de tipo vinculante y de reglas que digan cómo debe vivir destinalmente el hombre que experimenta a partir de una ex-sistencia que se dirige al ser. El deseo de una ética se vuelve tanto más apremiante cuanto más aumenta, hasta la desmesura, el desconcierto del hombre, tanto el manifiesto como el que permanece oculto. Hay que dedicarle toda la atención al vínculo ético, ya que el hombre de la técnica, abandonado a la masa, sólo puede procurarle a sus planes y actos una estabilidad suficientemente segura mediante una ordenación acorde con la técnica.
¿Quién podría pasar por alto esta situación de precariedad ? ¿No deberíamos preservar y asegurar los vínculos ya existentes aunque su manera de mantener todavía unido al ser humano sea muy pobre y sólo válido para el momento presente ? Es verdad. Pero ¿esa necesidad descarga en algún caso al pensar de su responsabilidad de tener presente lo que, de entrada, queda por pensar y que, en cuanto ser, es antes que todo ente la garantía y la verdad ? ¿Acaso el pensar puede seguir sustrayéndose a pensar el ser después de que éste, tras haber permanecido oculto en el olvido durante mucho tiempo, se anuncie también manifiestamente en el actual instante del mundo a través de la conmoción de todo lo ente ?
Antes de tratar de determinar de modo más preciso la relación entre «la ontología» y «la ética» tenemos que preguntar qué son dichas «ontología» y «ética». Habrá que meditar si lo que puede ser nombrado en ambos rótulos sigue siendo adecuado y está cerca de lo que le ha sido asignado al pensar, el cual, en cuanto pensar, tiene que pensar la verdad del ser antes que ninguna [GA:354] otra cosa.
Claro que si tanto «la ontología» y «la ética» como todo el pensar que procede de disciplinas resultan obsoletos y por lo tanto nuestro pensar tiene que volverse más disciplinado, ¿qué ocurre entonces con la cuestión de la relación entre las dos citadas disciplinas de la filosofía?
La «ética» aparece por vez primera junto a la «lógica» y la «física» en la escuela de Platón . Estas disciplinas surgen en la época que permite y logra que el pensar se convierta en «filosofía», la filosofía en ἐπιστήμη (ciencia) y la propia ciencia en un asunto de escuela y escolástica. En el paso a través de la filosofía así entendida nace la ciencia y perece el pensar. Los pensadores anteriores a esta época no conocen ni una «lógica» ni una «ética» ni la «física». Y sin embargo su pensar no es ni ilógico ni amoral. En cuanto a la φύσις, la pensaron con una profundidad y amplitud como ninguna «física» posterior volvió nunca a alcanzar. Si se puede permitir una comparación de esta clase, las tragedias de Sófocles encierran en su decir el ἦθος de modo más inicial que las lecciones sobre «ética» de Aristóteles . Una sentencia de Heráclito , que sólo tiene tres palabras, dice algo tan simple que en ella se revela inmediatamente la esencia del ethos.
Dicha sentencia de Heráclito reza así (frag. 119): ἦθος ἀνθρώπφ δαίμων. Se suele traducir de esta manera: «Su carácter es para el hombre su demonio». Esta traducción piensa en términos modernos, pero no griegos. El término ἦθος significa estancia, lugar donde se mora. La palabra nombra el ámbito abierto donde mora el hombre. Lo abierto de su estancia deja aparecer lo que le viene reservado a la esencia del hombre y en su venida se detiene en su proximidad. La estancia del hombre contiene y preserva el advenimiento de aquello que le toca al hombre en su esencia. Eso es, según la frase de Heráclito el δαίμων, el dios. Así pues, la sentencia dice: el hombre, en la medida en que es hombre, mora en la proximidad de dios. Existe un relato contado por [GA9 :355] Aristóteles (de part. anim. A 5, 645a 17) que guarda relación con la sentencia de Heráclito . Dice así: […]
Se cuenta un dicho que supuestamente le dijo Heráclito a unos forasteros que querían ir a verlo. Cuando ya estaban llegando a su casa, lo vieron calentándose junto a un horno. Se detuvieron sorprendidos, sobre todo porque él, al verles dudar, les animó a entrar invitándoles con las siguientes palabras: «También aquí están presentes los dioses».
El relato es suficientemente elocuente, pero quiero destacar algunos aspectos. El grupo de los visitantes forasteros se encuentra en un primer momento decepcionado y desconcertado cuando en su intromisión llena de curiosidad por el pensador reciben la primera impresión de su morada. Creen que deberían encontrar al pensador en una situación que, frente al modo habitual de vida del resto de la gente, tuviera la marca de lo extraordinario y lo raro y, por ende, emocionante. Con su visita al pensador esperan encontrar cosas que, al menos por un cierto tiempo, les proporcione materia para entretenidas charlas. Los forasteros que van a visitar al pensador tal vez esperan sorprenderlo precisamente en el instante en que, sumido en profundas reflexiones, piensa. Los visitantes quieren tener esa «vivencia», no precisamente para ser tocados por el pensar, sino únicamente para poder decir que han visto y oído a uno del que, a su vez, se dice que es un pensador.
En lugar de todo esto, los curiosos se encuentran a Heráclito junto a un horno de panadero. Se trata de un lugar de lo más cotidiano e insignificante. Es verdad que ahí se cuece el pan. Pero Heráclito ni siquiera está ocupado en esa [GA9 :356] tarea. Sólo está allí para calentarse. De modo que delata en ese lugar, ya de suyo cotidiano, lo elemental que es su vida. La contemplación de un pensador friolero presenta poco interés. Y por eso, ante ese espectáculo decepcionante, los curiosos también pierden enseguida las ganas de llegarse más cerca. ¿Qué pintan ahí? Una situación tan cotidiana y sin atractivo como que alguien tenga frío y se acerque a un horno es algo que ya pueden encontrar todos en sus casas. Así que, ¿para qué molestarse en ir en busca de un pensador? Los visitantes se disponen a volver a marchar. Heráclito lee pintada en sus rostros su curiosidad defraudada. Se da cuenta de que en ese grupo basta la ausencia de la sensación esperada para que, recién llegados, ya se sientan empujados a dar media vuelta. Por eso les anima y les invita de manera expresa a que entren a pesar de todo, con las palabras: εἶναι γάρ καϊ ενταύθα θεούς, «también aquí están presentes los dioses».
Esta frase sitúa la estancia del pensador y su quehacer bajo una luz diferente. El relato no dice si los visitantes entienden enseguida esas palabras, o si tan [290] siquiera las entienden, y entonces ven todo bajo esa otra luz. Pero el hecho de que esa historia se haya contado y nos haya sido transmitida hasta hoy se explica porque lo que cuenta procede de la atmósfera de este pensador y la caracteriza. καί ἐνταὔθα, «también aquí», al lado del horno, en ese lugar tan corriente, donde cada cosa y cada circunstancia, cada quehacer y pensar resultan familiares y habituales, es decir, son normales y ordinarios, «también aquí», en el círculo de lo ordinario, εἶναι θεούς, ocurre que «los dioses están presentes».
ἦθος ἀνθρώπφ δαίμων, dice el propio Heráclito : «La estancia (ordinaria) es para el hombre el espacio abierto para la presentación del dios (de lo extra-ordinario)».
Pues bien, si de acuerdo con el significado fundamental de la palabra ἦθος el término ética quiere decir que con él se piensa la estancia del hombre, entonces el pensar que piensa la verdad del ser como elemento inicial del hombre en cuanto exsistente es ya en sí mismo la ética originaria. Pero este pensar tampoco es que sea ética por ser ontología. Porque la ontología piensa siempre y sólo lo ente (ὄv) [GA9 :357] en su ser. Pero mientras no sea pensada la verdad del ser, toda ontología permanece sin su fundamento. Por eso el pensar que con Ser y tiempo trataba de pensar por adelantado en la verdad del ser fue designado ontología fundamental. Dicha ontología trata de remontarse al fundamento esencial del que procede el pensar de la verdad del ser. Planteando otro modo de preguntar, este pensar ha salido ya de la «ontología» de la metafísica (también de la de Kant ). Pero «la ontología», ya sea trascendental o precrítica, no está supeditada a la crítica por el hecho de que piense el ser de lo ente y al hacerlo constriña al ser a entrar en el concepto, sino porque no piensa la verdad del ser, y de este modo pasa por alto que existe un pensar que es más riguroso que el conceptual. Atrapado en la difícil situación de ser el primero en abrirse paso hacia la verdad del ser, el pensar que así se anticipa le aporta al lenguaje bien poco de esa dimensión completamente nueva. Además, el propio lenguaje se falsifica a sí mismo desde el momento en que todavía no consigue asir firmemente la ayuda esencial del modo de ver fenomenológico y al mismo tiempo también renuncia a la inadecuada pretensión de «ciencia» e «investigación». Pero para hacer que se conozca y al mismo tiempo se entienda este intento del pensar dentro de la filosofía de hoy, por el momento sólo era posible hablar desde el horizonte de lo que hay actualmente y desde el uso de los términos o nombres que son más corrientes en ese marco.
Entretanto he aprendido a darme cuenta de que precisamente esos términos tenían que conducir irremediable y directamente al error. En efecto, dichos nombres y el lenguaje conceptual que les corresponde no vuelven a ser pensados nunca por el lector a partir del asunto que hay que pensar primero, sino que es este asunto el que acaba siendo representado a partir de esos términos que han quedado atrapados en su significado habitual. El pensar que pregunta por la verdad del ser y al hacerlo determina la estancia esencial del hombre a partir del ser y con la mira en el [291] [GA9 :358] ser no es ni ética ni ontología. Por eso, y en este ámbito, la pregunta por la mutua relación entre ambas no tiene ya fundamento alguno. Y, sin embargo, pensada de modo originario, su pregunta sigue conservando un sentido y un peso esencial.
En efecto, hay que preguntar lo siguiente: si al pensar la verdad del ser, el pensar determina la esencia de la humanitas como ex-sistencia a partir de su pertenencia al ser, ¿acaso queda reducido entonces dicho pensar a una mera representación teórica del ser y del hombre? ¿O de esta conclusión se pueden deducir directrices válidas para la vida activa?
La respuesta es que este pensar no es ni teórico ni práctico. Acontece antes de esta distinción. En la medida en que es, este pensar consiste en rememorar al ser y nada más. Perteneciente al ser, ya que ha sido arrojado por el ser a la guarda de su verdad y reclamado para ella, dicho pensar piensa el ser. Semejante pensar no tiene resultado alguno. No tiene efecto alguno. Simplemente siendo, ya le basta a su esencia. Pero es, en la medida en que dice su asunto. Al asunto del pensar sólo le pertenece, en cada momento histórico, un único decir conforme a su asunto. En lo tocante al asunto, el carácter vinculante de este decir es esencialmente mayor que la validez de las ciencias, porque es más libre. Porque le deja ser al ser.
El pensar trabaja en la construcción de la casa del ser que, como conjunción del ser, conjuga destinalmente la esencia del hombre en su morar en la verdad del ser. Este morar es la esencia del ser-en-el-mundo (vid. Ser y tiempo , p. 54). La referencia que allí se hace al «ser-en» en cuanto «morar» está lejos de ser un juego etimológico. La referencia en la conferencia de 1936 al verso de Hölderlin «Lleno de mérito, mas poéticamente mora / el hombre sobre la tierra» no es ningún adorno de un pensar que se salva de la ciencia refugiándose en la poesía. Todo este hablar sobre la casa del ser no es ninguna transposición de la imagen de la «casa» al ser. Lo que ocurre es que, partiendo de la esencia del ser, pensada del modo adecuado y conforme a su asunto, un día podremos pensar mejor qué sea «casa» y qué «morar».
[GA9 :359] De todos modos, el pensar nunca crea la casa del ser. El pensar conduce a la exsistencia histórica, es decir, a la humanitas del homo humanus, al ámbito donde brota lo salvo.
Munier
“ Mais si l’humanitas se révèle à ce point essentielle pour la pensée de l’Être, l’“ ontologie ” ne doit-elle pas être “ complétée par l’“ éthique ” ? L’effort que vous exprimez dans cette phrase n’est-il pas dès lors tout à fait essentiel :
“ Ce que je cherche à faire, depuis longtemps déjà, c’est préciser le rapport d’une ontologie avec une éthique possible ” ?
Peu après la parution de Sein und Zeit , un jeune ami me demanda : “ Quand écrirez-vous une éthique ? ” Là où l’essence de l’homme est pensée de façon aussi essentielle, c’est-à-dire à partir uniquement de la question portant sur la vérité de l’Être, mais où pourtant l’homme n’est pas érigé comme centre de l’étant, il faut que s’éveille l’exigence que d’une intimation qui le lie, et de règles disant comment l’homme, expérimenté à partir de l’ek-sistence à l’Être, doit vivre conformément à son destin [Geschicklich]. Le voeu d’une éthique appelle d’autant plus impérieusement sa réalisation que le désarroi évident de l’homme, non moins que son désarroi caché, s’accroissent au-delà de toute mesure. A cet établissement du lien éthique nous devons donner tous nos soins, en un temps où il n’est possible à l’homme de la technique, voué à l’être-collectif, d’atteindre encore à une stabilité assurée qu’en regroupant et ordonnant l’ensemble de ses plans et de son agir conformément à cette technique. ”
Comment ignorer cette détresse ? Ne devons-nous pas épargner et consolider les liens existants, même s’ils n’assurent que si pauvrement encore et dans l’immédiat seulement la cohésion de l’essence humaine ? Certainement. Mais cette pénurie dispense-t-elle pour autant la pensée de se remémorer ce qui principalement reste à-penser et qui est, en tant qu’Être et avant même tout étant, la garantie et la vérité ? La pensée peut-elle s’abstenir encore de penser l’Être, quand celui-ci, après être resté celé dans un long oubli, s’annonce au moment présent du monde par l’ébranlement de tout étant ? ”
Avant d’essayer de déterminer plus exactement la relation entre « l’ontologie » et « l’éthique », il faut nous [115] demander ce que sont elles-mêmes « l’ontologie » et « l’éthique ». Il devient nécessaire de penser si ce que peuvent désigner ces deux termes reste d’accord et en contact avec ce qui est remis à la pensée qui a, comme pensée, à penser avant tout la vérité de l’Être.
Mais que « l’ontologie » aussi bien que « l’éthique », et avec elles toute pensée issue de disciplines, se révèlent caduques, et que par là notre pensée se fasse plus disciplinée, qu’ en serait-il alors de la quèstion de la relation entre ces deux disciplines de la philosophie?
L’« éthique » apparaît pour la première fois avec la « logique » et la « physique » dans l’école de Platon . Ces disciplines prennent naissance à l’époque où la pensée se fait « philosophie », la philosophie ἐπιστήμη (science) et la science elle-même, affaire d’école et d’exercice scolaire. Le processus ouvert par la philosophie ainsi comprise donne naissance à la science, il est la ruine de la pensée. Avant cette époque, les penseurs ne connaissaient ni « logique », ni « éthique », ni « physique ». Leur pensée n’en était pour autant ni illogique, ni immorale. Mais ils pensaient la φύσις selon une profondeur et avec une amplitude dont aucune « physique » postérieure n’a jamais plus été capable. Si l’on peut se permettre ce rapprochement, les tragédies de Sophocle abritent plus originellement l’ἦθος dans leur dire que les leçons d’Aristote sur l’« Ethique ». Une sentence d’Héraclite , qui tient en trois mots, exprime quelque chose de si simple que par elle l’essence de l’éthos s’éclaire immédiatement.
Cette sentence est la suivante (fragment 119): ἦθος ἀνθρώπω δαίμων. Ce qu’on traduit d’ordinaire: « Le caractère propre d’un homme est son démon. » Cette traduction révèle une façon de penser moderne, non point grecque, ἦθος signifie séjour, lieu d’habitation. Ce mot [116] désigne la région ouverte où l’homme habite. L’ouvert de son séjour fait apparaître ce qui s’avance vers l’essence de l’homme et dans cet avènement séjourne en sa proximité. Le séjour de l’homme contient et garde la venue de ce à quoi l’homme appartient dans son essence. C’est, suivant le mot d’Héraclite δαίμων, le dieu. La sentence dit: l’homme habite, pour autant qu’il est homme, dans la proximité du dieu. L’histoire que voici, rapportée par Aristote (Parties des Animaux, A 5, 645 a 17), va dans le même sens:
[…]
« D’Héraclite , on rapporte un mot qu’il aurait dit à des étrangers désireux de parvenir jusqu’à lui. S’approchant, ils le virent qui se chauffait à un four de boulanger. Ils s’arrêtèrent, interdits, et cela d’autant plus que, les voyant hésiter, Héraclite leur rend courage et les invite à entrer par ces mots: “Ici aussi les dieux sont présents.” »
L’anecdote parle d’elle-même. Arrêtons-nous-y pourtant quelque peu.
Dans son mouvement de curiosité importune, la masse des visiteurs étrangers est déçue et décontenancée au premier regard jeté sur le séjour du penseur. Elle croit devoir trouver celui-ci dans des circonstances qui, s’opposant au cours habituel de la vie des hommes, portent la marque de l’exception, du rare et, par suite, de l’excitant. De cette visite, elle espère tirer, au moins pour un temps, la matière d’un divertissant bavardage. Les étrangers qui veulent rendre visite au penseur s’attendent à le surprendre au moment précis peut-être où, plongé dans une méditation profonde, il pense. Les visiteurs veulent vivre ce moment, non pour avoir été si peu que ce soit touchés par la pensée, [117] mais uniquement afin de pouvoir dire qu’ils ont vu et entendu quelqu’un dont on ne dit rien d’autre sinon qu’il est un penseur.
Au lieu de cela, les curieux trouvent Héraclite auprès d’un four. Voilà un endroit bien quotidien et sans apparence. C’est là en effet qu’on cuit le pain. Mais Héraclite n’est pas même auprès du four pour cuire du pain. Il n’y séjourne que pour se chauffer, ainsi trahit-il en cet endroit très ordinaire toute l’indigence de sa vie. Le spectacle d’un penseur qui a froid offre peu d’intérêt, et les curieux déçus y perdent aussitôt l’envie de pousser plus avant. Que feraient-ils en un tel endroit? Cet événement banal et sans relief de quelqu’un qui a froid et se tient auprès du four, chacun peut en être à tout moment témoin chez soi, dans sa propre maison. Pourquoi dès lors aller chercher un penseur? Les visiteurs se disposent à repartir. Héraclite lit sur leurs visages la curiosité déçue. Il sait que priver la masse d’une sensation attendue suffit pour faire rebrousser chemin à ceux qui sont à peine arrivés. Aussi leur rend-il courage et les invite-t-il expressément à entrer malgré tout par ces mots : εἶναι γαρ και ἐνταὔθα θεούς, « ici aussi les dieux sont présents ».
Cette parole situe le séjour (ἦθος) du penseur et son faire dans une autre lumière. Quant à savoir si les visiteurs l’ont comprise sur-le-champ, ou même s’ils l’ont seulement comprise, voyant dès lors différemment toutes choses à cette autre lumière, l’anecdote,ne le dit pas. Mais que cette histoire ait été racontée et nous soit encore transmise à nous, hommes d’aujourd’hui, tient au fait que ce qu’elle rapporte relève de l’ambiance propre de ce penseur et la caractérise, και ἐνταὔθα, « ici aussi », près du four, en cet endroit sans prétention, où chaque chose et chaque situation, chaque action et chaque pensée sont familières et courantes, c’est-à-dire accoutumées, « en cet endroit [118] même », en ce monde de l’accoutumé, εἶναι θεούς, c’est bien là « que les dieux sont présents ».
Ηθος ἀνθρώπω δαίμων, dit Héraclite lui-même : « le séjour (accoutumé [Geheure]) est pour l’homme le domaine ouvert [Das Offene] à la présence [Die Anwesung] du dieu, (de l’in-solite [Des Un-geheuren]) ».
Si donc, conformément au sens fondamental du mot ἦθος, le terme d’éthique doit indiquer que cette discipline pense le séjour de l’homme, on peut dire que cette pensée qui pense la vérité de l’Être comme l’élément originel de l’homme en tant qu’ek-sistant est déjà en elle-même l’éthique originelle. Cette pensée toutefois n’est pas seulement éthique du fait qu’elle est ontologie. Car l’ontologie ne pense jamais que l’étant (ὂν) dans son être. Or, aussi longtemps que la vérité de l’Être n’est pas pensée, toute ontologie reste sans son fondement. C’est pourquoi la pensée qui tentait avec Sein und Zeit de penser en direction de la vérité de l’Etre [in die Wahrheit des Seins vorzudenken.] s’est désignée comme ontologie fondamentale. Celle-ci remonte au fondement essentiel d’où provient la pensée de la vérité de l’Être. Par l’introduction d’une autre question, cette pensée échappe déjà à l’« ontologie » de la métaphysique (y compris celle de Kant ). Mais « l’ontologie », qu’elle soit transcendantale ou .précritique, ne tombe pas sous le coup de la critique parce qu’elle pense l’être de l’étant et par là même réduit l’être au concept, mais parce qu’elle ne pense pas la vérité de l’Être et méconnaît ainsi qu’il est une pensée plus rigoureuse que la pensée conceptuelle. La pensée qui tente de penser en direction de la vérité de l’Être ne porte au langage, dans la difficulté de sa première approche, qu’une part infime de cette tout autre dimension. Le langage [119] lui-même s’altère, tant qu’il ne parvient pas à maintenir l’aide essentielle de la vue phénoménologique, tout en refusant une -prétention excessive à la « science » et à la « recherche ». Toutefois, pour rendre discernable et en même temps compréhensible cette tentative de la pensée à l’intérieur de la philosophie subsistante, il fallait d’abord parler à partir de l’horizon de cette philosophie et se servir des termes qui lui sont familiers.
Entre-temps, l’expérience m’a appris que ces termes mêmes devaient immédiatement et inévitablement induire en erreur. Car ces termes et la langue conceptuelle qui leur est adaptée n’étaient pas repensés par les lecteurs à partir de la réalité qui est d’abord à penser, mais cette réalité même était représentée à partir de ces termes maintenus dans leur signification habituelle. La pensée qui pose la question de la vérité de l’Être, et par là même détermine, le séjour essentiel de l’homme à partir· de l’Être et vers lui, n’est ni éthique ni ontologie. C’est pourquoi la question de la relation entre ces deux disciplines est, dans ce domaine, désormais sans fondement. Toutefois, votre question, pensée plus originellement, conserve un sens et un poids essentiels.
Il faut en effet nous demander: cette pensée qui, pensant la vérité de l’Être, détermine l’essence de l’humanitas comme ek-sistence à partir de l’appartenance de l’ek-sistence à l’Être, reste-t-elle seulement une représentation théorique de l’Être et de l’homme, ou peut-on tirer en même temps d’une telle connaissance des indications valables pour la vie pratique et utilisables par elle?
La réponse est celle-ci : cette pensée n’ est ni théorique ni pratique. Elle se produit avant cette distinction. Pour autant qu’elle est, cette pensée est la pensée de l’Être dans l’Etre [Das Andenken an das Sein (cf. note 1, p. 94)] et rien d’autre. Appartenant à l’Être, parce que jetée par [120] l’Être en vue de la garde véridique de sa vérité [1] et revendiquée par l’Être pour cette garde, elle pense l’Être. Une telle pensée n’a pas de résultat. Elle ne produit aucun effet. Elle satisfait à son essence du moment qu’elle est. Mais elle est, en tant qu’elle dit ce qu’elle a à dire. A chaque moment historique, il n’y a qu’un seul énoncé de ce que la pensée a à dire qui soit selon la nature même de ce qu’elle a à dire. Cette obligeance qui lie cet énoncé à ce qu’il a à dire est essentiellement plus éminente que la validité des sciences, parce qu’elle est plus libre. Car elle laisse l’Être – être.
La pensée travaille à construire [Baut am] la maison de l’Être, maison par quoi l’Être, en tant que ce qui joint, enjoint à chaque fois à l’essence de l’homme, conformément au destin, d’habiter dans la vérité de l’Être. Cet habiter est l’essence de l’« être-au-monde » (cf. Sein und Zeit , p. 54). L’indication donnée en ce passage sur l’« être-dans » :’cômme « habiter » n’est pas un vide jeu étymologique. De même, dans la conférence de 1936, le renvoi à la parole de Hölderlin :
Voll Verdienst, doch dichterisch wohnet der Mensch auf dieser Erde [« Riche en mérite, et poétiquement pourtant habite l’homme sur cette terre »]
n’est point l’ornement d’une pensée qui, abandonnant la science, cherche son salut dans la poésie. Parler de la maison de l’Être, ce n’est nullement reporter sur l’Être l’image de la « maison ». Bien plutôt, c’est à partir de l’essence de l’Être pensée selon ce qu’elle est que nous [121] pourrons un jour penser ce qu’est une « maison » et ce qu’est « habiter ».
Jamais toutefois la pensée ne crée la maison de l’Être. La pensée conduit l’ek-sistence historique, c’est-à-dire l’humanitas de l’homo humanus, au domaine où se lève l’aube de l’indemne.