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GA29-30:7-8 – Estar por toda parte em casa
quinta-feira 30 de março de 2017
Casanova
Filosofia: uma expressão e um diálogo derradeiros do homem, que o transpassa e detém total e constantemente. Mas o que precisa ser o homem, para que filosofe em razão de sua essência? E o que é esse filosofar? O que somos junto a ele? Em que direção aponta o nosso querer? Por acaso já adentramos tropegamente no Universo? Novalis disse certa vez em um fragmento: "A filosofia é propriamente uma saudade da pátria, um impulso para se estar por toda parte em casa." (Schriften. Org. W. Christ. Jena, 1923, tomo 2, p. 179, fragm. 21) Uma definição notável, naturalmente romântica. Saudade da pátria: ainda há hoje em dia algo deste gênero? Esta não se tornou uma expressão incompreensível, mesmo na linguagem cotidiana? Afinal, o homem citadino de hoje e o macaco da civilização não suprimiram há muito a saudade da pátria? E mais, saudade da pátria como a determinação da filosofia?!? Antes de tudo, porém, que testemunhos invocamos aqui no que concerne à filosofia?!? Novalis - apenas um poeta e de modo algum um filósofo cientista. Mas Aristóteles não disse, em sua metafísica, polla pseudontai aoidoi ("os poetas mentem muito"; Metafísica A2, 983a 3) ?
Sem atiçar a contenda quanto ao direito e ao peso deste testemunho, lembremos apenas que, enquanto a arte — e à arte pertence também a poesia — é irmã da filosofia, toda e qualquer ciência talvez não tenha senão uma relação de vassalagem para com a filosofia.
Nós fincamos pé nesse ponto e perguntamos: o que significa dizer que a filosofia é uma saudade da pátria? O próprio Novalis explicita: "um impulso para se estar por toda parte em casa". Um tal impulso só pode ser próprio à filosofia se nós, que filosofamos, não estivermos por toda parte em casa. Ao que aspira a exigência deste impulso? Estar por toda parte em casa — o que é isso? Não apenas estar em casa aqui e acolá, também não apenas estar em casa em qualquer lugar, como se estes lugares estivessem todos juntos um depois do outro; estar por toda parte em casa significa muito mais: estar em casa a qualquer momento, e, sobretudo, na totalidade. Nós denominamos mundo este na totalidade e sua integralidade. Nós somos, e porque somos, esperamos sempre por algo. Sempre somos chamados por algo como um todo. Este na totalidade é o mundo. (trad. Casanova , 2003 p.6-7)
McNeill
Philosophy — an ultimate pronouncement and interlocution on the part of man that constantly permeates him in his entirety. Yet what is man, that he philosophizes in the ground of his essence, and what is this philosophizing? What are we in this? Where do we want to go? Did we once just stumble into the universe by chance? Novalis on one occasion says in a fragment: “Philosophy is really homesickness, an urge to be at home everywhere.” [1]] A strange definition, romantic of course. Homesickness — does such a thing still exist today at all? Has it not become an incomprehensible word, even in everyday life? Has not contemporary city man, the ape of civilization, long since eradicated homesickness? And homesickness as the very determination of philosophy! But above all, what sort of witness are we presenting here with regard to philosophy? Novalis — merely a poet, after all, and hardly a scientific philosopher. Does not Aristotle say in his Metaphysics: πολλά ψεύδονται άοιδοί [2] Poets tell many a lie?
Yet without provoking an argument over the authority and significance of this witness, let us merely recall that art — which includes poetry too — is the sister of philosophy and that all science is perhaps only a servant with respect to philosophy.
Let us remain with the issue and ask: What is all this talk about philosophy as homesickness? Novalis himself elucidates: “an urge to be everywhere at home.” Philosophy can only be such an urge if we who philosophize are not at home everywhere. What is demanded by this urge? To be at home every-where — what does that mean? Not merely here or there, nor even simply in every place, in all places taken together one after the other. Rather, to be at home everywhere means to be at once and at all times within the whole. We name this ‘within the whole’ and its character of wholeness the world. We are, and to the extent that we are, we are always waiting for something. We are always called upon by something as a whole. This ‘as a whole’ is the world. (p. 5)
Original
Philosophie — eine letzte Aussprache und Zwiesprache des Menschen, die ihn ganz und ständig durchgreift. Aber was ist der Mensch, daß er im Grunde seines Wesens philosophiert, und was ist dieses Philosophieren? Was sind wir dabei? Wohin wollen wir? Sind wir zufällig einmal in das Weltall hineingestolpert? Novalis sagt einmal in einem Fragment: »Die Philosophie ist eigentlich Heimweh, ein Trieb überall zu Hause zu sein« [3]. Eine merkwürdige Definition, romantisch natürlich. Heimweh — gibt es dergleichen heute überhaupt noch? Ist das nicht ein unverständliches Wort geworden, selbst im alltäglichen Leben? Denn hat nicht der heutige städtische Mensch und Affe der Zivilisation das Heimweh längst abgeschafft? Und Heimweh gar als die Bestimmung der Philosophie! Vor allem aber, welchen Zeugen führen wir da über die Philosophie an? Novalis — doch nur ein Dichter und gar kein wissenschaftlicher Philosoph. Sagt aber nicht Aristoteles in seiner »Metaphysik«: πολλά ψεύδονται άοιδοί [4]: Vieles lügen die Dichter zusammen?
Doch ohne den Streit um das Recht und Gewicht dieses Zeugen zu entfachen, erinnern wir nur daran, daß die Kunst — dazu gehört auch die Dichtung — die Schwester der Philosophie und daß alle Wissenschaft in bezug auf die Philosophie vielleicht nur ein Dienstmann ist.
Wir bleiben dabei und fragen: Was ist damit — Philosophie ein Heimweh? Novalis erläutert selbst: »ein Trieb überall zu Hause zu sein«. Ein solcher Trieb kann Philosophie nur sein, wenn wir, die philosophieren, überall nicht zu Hause sind. Wonach steht das Verlangen dieses Triebes? Überall zu Hause zu sein — was heißt das? Nicht nur da und dort, auch nicht [8] nur jeden Orts, an allen nacheinander zusammen, sondern überall zu Hause sein heißt: jederzeit und zumal im Ganzen sein. Dieses »im Ganzem und seine Gänze nennen wir die Welt. Wir sind, und sofern wir sind, warten wir immer auf etwas. Wir sind immer von Etwas als Ganzem angerufen. Dieses »im Ganzen« ist die Welt.
Ver online : Die Grundbegriffe der Metaphysik. Welt – Endlichkeit – Einsamkeit [GA29-30]
[1] Novalis, Schriften. Ed. J. Minor (Jena, 1923). Vol. 2, p. 179, Frgm. 21. [Tr: The term “urge" translates the German Trieb, more literally “drive” or “instinctual drive.” Trieb and its cognates (e.g., treiben, vertreiben, wegtreiben, zutreiben) are prominent both in the analyses of boredom and in the discussions of animal life which constitute the two major themes of the course.
[2] Aristotelis Metaphysica. Ed. W. Christ (Leipzig, 1886). A 2, 983a 3f.
[3] Novalis, Schriften. Hg. J. Minor. Jena 1925. Bd. 2, S. 179, Fragment 21.
[4] Aristotelis Metaphysica. Hg. W. Christ. Leipzig 1886. A 2, 983 a 3 f.