Casanova
[…] Todo animal e toda espécie animal conquistam para si de maneira própria o círculo, com o qual envolvem uma região e se adequam a ela. O círculo envoltório do ouriço-do-mar é diferente do da abelha, o desta uma vez mais diverso do do chapim, e o deste uma vez mais diverso do do esquilo etc. Mas estes círculos envoltórios dos animais, no interior dos quais seu comportamento global e suas pulsões de deslocamento se movimentam, não se encontram simplesmente colocados um ao lado do outro e um sob o outro. Ao contrário, eles se sobrepõem uns aos outros. O caruncho, por exemplo, que fura a casca do carvalho, tem o seu círculo envoltório específico. Mas ele mesmo, o caruncho, e isto significa ele juntamente com o seu círculo envoltório, está uma vez mais no interior do círculo envoltório do pica-pau, que segue o rastro e descobre o inseto. E este pica-pau está, com tudo o que acabamos de dizer, no círculo envoltório do esquilo, que, em meio ao seu trabalho, o afugenta. Todo este contexto de abertura dos círculos envoltórios a partir da perturbação não é, então, apenas de uma riqueza de conteúdo e de ligações descomunal e por nós somente suspeitada. Em tudo isto, ele ainda permanece fundamentalmente diverso da abertura do ente, tal como este vem ao encontro do ser-aí humano formador de mundo.
Para a cotidianidade do homem e para os seus negócios, o aspecto do ente é totalmente outro. Na cotidianidade, tomamos simultaneamente o todo do ente que nos é acessível sob o modo já caracterizado da ausência de distinção, como o âmbito, no interior do qual se mantêm também os animais: como o âmbito, no interior do qual também os animais possuem relações. Acreditamos, então, que os animais em particular e as espécies animais em geral se adaptam de diferentes maneiras a este ente em si simplesmente dado; e este ente se encontraria simplesmente dado para todos da mesma forma, e, por conseguinte, para todos os homens também. Em função desta adaptação diversa de todos os animais a um e ao mesmo ente surgem variações dos animais e das espécies animais. O que melhor se adapta sobrevive aos outros. Com isto, no curso desta adaptação, a organização do [356] animal evolui diferentemente (daí então a variação), sempre segundo a especificidade diversa do ente. Em conexão com a sobrevivência do que melhor se adapta, esta variação conduz a um crescente aperfeiçoamento. Assim desenvolveu-se a partir do plasma originário a riqueza das espécies dos animais superiores.
Abstraindo-nos de outras impossibilidades internas desta doutrina da evolução vemos, agora, antes de mais nada, que ela repousa sobre uma pressuposição totalmente impossível, que está em contradição com a essência da animalidade (perturbação – círculo envoltório): a pressuposição de que o ente enquanto tal é dado para todos os animais e de que, além disso, é dado para todos em si homogeneamente, de modo que só restaria aos animais adaptar-se. Este aspecto, porém, cai por terra no momento em que compreendemos o animal e o ser-animal a partir da animalidade. O ente não apenas não está em si simplesmente dado para os animais, mas os animais também não são por seu lado em seu ser nada simplesmente dado para nós. O reino animal exige de nós uma maneira totalmente específica de nos transpormos, assim como no interior do reino animal impera uma transposição característica dos círculos envoltórios uns nos outros. O traço fundamental desta transposição perfaz em primeiro lugar o caráter específico de reino do reino animal, isto é, o modo como o animal impera no todo da natureza e do ente em geral. Esta engrenagem dos círculos envoltórios dos animais uns nos outros, que surge a partir da luta dos próprios animais, mostra um modo fundamental de ser, que é diverso de todo mero ser-simplesmente-dado. Se pensarmos que em cada uma de tais lutas o ser vivo adapta uma vez mais para si em seu círculo envoltório algo da natureza mesma, então precisaremos dizer: revela-se para nós nestas lutas próprias aos círculos envoltórios um caráter interno de dominação por parte do vivente no interior do ente em geral uma supremacia interna da natureza sobre si mesma vivenciada na própria vida.
Assim, a natureza não é – nem a natureza inanimada, nem quiçá a natureza vivente – de maneira alguma uma superfície plana ou o estrato mais inferior, sobre o qual o ser humano estaria depositado, a fim de aí se entregar a uma ação degeneradora. Mas a natureza tampouco é um muro que estaria como que simplesmente presente ao se tornar objeto de uma consideração teórico-científica. Para a cotidianidade do ser-aí, a natureza vivente e não-vivente está simplesmente dada em sentido amplo: isto parece mesmo tão óbvio que se fala desta [357] concepção como a mais natural – uma concepção que veda como que o caminho para ver na natureza mesma o que há de especificamente natural. E, no entanto, visto metafisicamente, a relação ontológica do homem com a natureza é uma relação totalmente diversa. A natureza não se encontra ao redor do homem cheia de objetos, ela não é assim compreensível. Ao contrário, o ser-aí humano experimenta em si uma peculiar transposição para o interior do contexto, do círculo envoltório próprio ao vivente. Com certeza, temos de atentar aí para o seguinte fato: as coisas não se dão agora como se fôssemos equiparados aos animais, como se estivéssemos em face de um muro do ente que seria um muro comum em termos de conteúdo, e que simplesmente os animais entre si e nós entre eles sempre veríamos a cada vez diferentemente como sendo o mesmo – como se só houvesse uma multiplicidade de aspectos do mesmo. Não, os círculos envoltórios entre si não são absolutamente comparáveis e a totalidade da engrenagem dos círculos envoltórios respectivamente manifestos não cai para nós apenas sob o ente que está habitualmente manifesto, mas nos mantém muito mais presos de uma maneira totalmente específica. Nós dizemos por isto: o homem existe de uma forma característica em meio ao ente. Em meio ao ente significa: a natureza vivente mantém-nos presos enquanto homens de uma forma totalmente específica. Não em função de uma impressão ou influência particulares, que a natureza vivente exerceria sobre nós, mas em função de nossa essência, quer experimentemos ou não esta essência mesma em uma relação originária.
Daniel Panis
[…] Chaque animal – et chaque espèce animale – acquiert, à sa manière propre, l’encerclement dans lequel il se gagne une sphère et s’y adapte. L’encerclement de l’oursin est tout à fait différent de celui de l’abeille, celui de l’abeille différent de celui de la mésange charbonnière, celui de la mésange différent de celui de l’écureuil, etc. Mais ces encerclements des animaux, à l’intérieur desquels s’exerce leur comportement global et le tiraillement pulsionnel, ne sont pas simplement placés les uns à côté des autres ou les uns au-dessous des autres : ils empiètent les uns sur les autres. Le ver du bois, par exemple, qui creuse dans l’écorce du chêne, a son encerclement spécifique. Mais lui, le ver du bois – c’est-à-dire lui avec cet encerclement qui est le sien – se trouve lui-même à l’intérieur de l’encerclement du pic, lequel recherche les vers. Et ce pic se trouve, avec tout ce qu’on vient de dire, dans l’encerclement de l’écureuil, lequel effraye le pic dans son travail. Tout ce contexte d’ouverture propre aux encerclements captivés du règne animal n’est pas seulement d’une richesse inouïe et que nous ne faisons que pressentir – richesse de contenu et de rapports : ce contexte d’ouverture est encore fondamentalement [402] différent de la manifesteté de l’étant tel qu’il vient à la rencontre du Dasein humain qui configure le monde.
Pour la quotidienneté de l’être humain et pour son affairement, l’aspect de l’étant est tout autre. Dans la quotidienneté, tout l’étant qui nous est accessible selon ce qu’on a appelé l’absence de distinction, nous le prenons en même temps comme domaine dans lequel les animaux eux aussi séjournent, comme domaine avec lequel les animaux ont eux aussi des relations. Nous croyons alors que chaque animal en particulier et que les espèces animales s’adaptent de différentes manières à cet étant qui en lui-même se trouverait être là, qui se trouverait d’une manière égale être là pour tous, et donc aussi pour tous les humains. Sur la base de cette adaptation différente de tous les animaux à un seul et même étant apparaissent alors des variations parmi les animaux et les espèces animales. Celui qui s’adapte le mieux survit aux autres. Au cours de cette adaptation, l’organisation de l’animal évolue différemment (d’où la variation) toujours d’après la diversité de l’étant. En liaison avec la survie de ceux qui s’adaptent le mieux, cette variation conduit alors à un perfectionnement croissant. Ainsi, c’est à partir du protoplasme que s’est développée la richesse des espèces animales supérieures.
Mis à part tout ce que cette théorie de l’évolution renferme comme impossibilités, nous voyons surtout maintenant qu’elle repose sur une présupposition tout à fait impossible, qui est en contradiction avec l’essence de l’animalité (accaparement – encerclement) : cette présupposition est que l’étant est pour tous les animaux donné comme tel et que, de surcroît, il est en lui-même donné uniformément pour tous, de sorte qu’il ne resterait aux animaux qu’à s’y adapter. Mais cet aspect des choses s’effondre aussitôt que nous comprenons les animaux et l’être de l’animal à partir de l’essence de l’animalité. Non seulement l’étant, en soi, ne se trouve pas être là pour les animaux, mais les animaux, de leur côté, ne sont dans leur être rien qui pour nous se trouverait être là. Le règne animal exige de nous une manière tout à fait spécifique de nous transposer en lui. Et au sein du règne animal, il règne une singulière transposition des encerclements captivés les uns dans les autres. Le trait fondamental de cette transposition est d’abord ce qui fait que le règne animal a spécifiquement le caractère d’un règne ; cela veut dire que ce trait détermine la façon dont le règne animal règne dans l’ensemble de la nature et de l’étant en général. Cet engrènement des encerclements animaux les uns dans les autres, qui résulte de la lutte des animaux eux-mêmes, indique qu’il y a un mode fondamental de l’être qui est totalement différent du fait d’être simplement là. Si nous songeons au fait que, dans chacune de ces luttes, l’être vivant incorpore dans son encerclement quelque chose de la nature elle-même, il nous faut dire ceci : dans cette lutte des encerclements, ce qui se manifeste à nous est un caractère interne du vivant, celui par lequel le vivant domine au sein de l’étant en général. Il y a une supériorité interne – vécue dans la vie elle-même – de la nature sur elle-même.
Ainsi, la nature – que ce soit la nature inanimée ou que ce soit la nature vivante – n’est nullement une surface plane ou une strate inférieure sur laquelle l’être humain serait posé afin d’y semer le trouble. Mais elle est tout aussi peu le mur qui serait, pour ainsi dire, simplement là quand elle fait l’objet d’un examen théorique par les sciences. Pour la quotidienneté du Dasein, la nature vivante et non vivante se trouve être là au sens le plus large : cela va tellement de soi que l’on considère cette conception comme naturelle, conception qui nous barre pour ainsi dire le chemin qui permettrait de voir dans la nature elle-même ce qu’il y a de spécifiquement naturel. Et pourtant – du point de vue métaphysique – le rapport de l’être de l’homme à la nature est tout autre. La nature n’entoure pas l’homme d’une profusion d’objets. Au contraire, le Dasein humain est en soi une manière singulière d’être transposé dans le contexte d’encerclement propre au vivant. Dans ces conditions, il faut bien faire attention à ceci : nous ne sommes pas, à présent, mis sur un pied d’égalité avec les animaux, en face d’un mur de l’étant qui serait un mur commun quant à son contenu, et que simplement les animaux entre eux et nous parmi eux verrions chaque fois différemment comme étant le même – comme s’il y avait seulement une variété d’aspects de la même chose. Non, les encerclements entre eux ne sont pas du tout similaires, et l’ensemble de l’engrènement chaque fois manifeste de l’encerclement ne vient pas simplement à nous parmi l’étant qui d’habitude est manifeste : cet ensemble, en fait, nous tient prisonniers d’une manière tput à fait spécifique. Nous disons donc que l’homme existe d’une manière particulière au milieu de l’étant. Au milieu de l’étant, cela veut dire : la nature [404] vivante nous tient prisonniers, en tant qu’êtres humains, d’une manière tout à fait spécifique – non pas en raison d’un ascendant particulier ou d’une marque que cette nature ferait sur nous, mais de par notre essence même, que nous fassions ou non, dans une relation originelle, l’expérience de cette essence.
Original
[…] Jedes Tier und jede Tierart erringt sich in eigener Weise den Umring, mit dem es einen Bezirk umringt und sich einpaßt. Der Umring des Seeigels ist ganz anders als der der Biene und dieser wieder anders als der der Kohlmeise, dieser anders als der des Eichhörnchens usf. Aber diese Umringe der Tiere, innerhalb deren ihr Benehmenszusammenhang und Umtrieb sich bewegt, sind nicht einfach neben- oder untereinander gelagert, sondern greifen ineinander über. Der Holzwurm z. B., der in der Eichenrinde bohrt, hat seinen spezifischen Umring. Aber er selbst, der Holzwurm, und d. h. er mit diesem seinem Umring, ist selbst wieder innerhalb des Umrings des Spechtes, der den Wurm aufspürt. Und dieser Specht ist mit all dem im Umring des Eichhörnchens, das ihn bei seiner Arbeit aufscheucht. Dieser ganze Zusammenhang der Offenheit der benommenen Umringe des Tierreiches ist nun nicht nur von einem ungeheuren und von uns erst geahnten Reichtum des Inhaltes und der Bezüge, sondern bei all dem noch grundverschieden von der Offenbarkeit des Seienden, wie es dem weltbildenden Dasein des Menschen begegnet.
Für die Alltäglichkeit des Menschen und seine Geschäftigkeit ist der Aspekt des Seienden ein ganz anderer. Alles Seiende, was uns in der gekennzeichneten Unterschiedslosigkeit [402] zugänglich, ist, nehmen wir in der Alltäglichkeit auch zugleich für den Bereich, in dem sich auch die Tiere aufhalten, wozu auch sie Beziehungen haben. Wir meinen dann, daß eben die einzelnen Tiere und Tierarten an dieses an sich vorhandene Seiende und für alle und in eins damit für alle Menschen in gleicher Weise Vorhandene sich in verschiedener Weise anpassen, so daß aufgrund dieser verschiedenen Anpassung aller Tiere zu einem und demselben Seienden sich nun Variationen der Tiere und Tierarten ergeben. Was sich am besten anpaßt, überlebt die anderen. Bei dieser Anpassung entwickelt sich dann die Organisation des Tieres je nach der Verschiedenartigkeit des Seienden verschieden (Variation). Diese Variation führt dann im Zusammenhang mit dem Überleben des am besten Angepaßten zur wachsenden Vervollkommnung. So hat sich aus dem Urschleim der Reichtum der höheren Tierarten entwickelt.
Abgesehen von anderen inneren Unmöglichkeiten dieser Entwicklungslehre sehen wir jetzt vor allem, daß sie auf einer ganz unmöglichen Voraussetzung ruht, die dem Wesen der Tierheit (Benommenheit – Umring) widerspricht: daß für alle Tiere das Seiende als solches und daß es überdies für alle an sich gleichmäßig gegeben sei, so daß es dann nur bei den Tieren stünde, sich anzupassen. Dieser Aspekt aber bricht in sich zusammen, sobald wir die Tiere und das Tiersein aus dem Wesen der Tierheit heraus verstehen. Nicht nur ist für die Tiere das Seiende an sich nicht vorhanden, sondern die Tiere ihrerseits sind in ihrem Sein nichts für uns Vorhandenes; das Tierreich fordert von uns eine ganz spezifische Weise des Versetztseins, und innerhalb des Tierreiches herrscht ein eigentümliches Versetztsein der benommenen Umringe ineinander. Der Grundzug dieses Versetztseins macht erst den spezifischen Reichcharakter des Tierreiches aus, d. h. die Art und Weise, wie es im Ganzen der Natur und des Seienden überhaupt herrscht. Diese Verzahnung der Umringe der Tiere ineinander, erwachsend aus dem Ringen der Tiere selbst, zeigt eine [405] Grundart von Sein, die von allem bloßen Vorhandensein verschieden ist. Wenn wir bedenken, daß in jedem solchen Ringen das Lebewesen sich etwas von der Natur selbst wiederum in seinen Umring einpaßt, dann müssen wir sagen: Es offenbart sich uns in diesem Ringen der Umringe ein innerer Herrschaftscharakter des Lebendigen innerhalb des Seienden überhaupt, eine innere, im Leben selbst gelebte Erhabenheit der Natur über sich selbst.
So ist die Natur – weder die leblose noch gar die lebendige – keineswegs das Brett und die unterste Schicht, auf der das Menschenwesen aufgeschichtet wäre, um darauf sein Unwesen zu treiben. Die Natur ist aber ebensowenig die Wand, als welche die Natur gleichsam vorhanden ist, wenn sie zum Gegenstand einer wissenschaftlich-theoretischen Betrachtung ge- “ macht wird. Die lebendige und unlebendige Natur ist vorhanden im weitesten Sinne für die Alltäglichkeit des Daseins, so selbstverständlich, daß man diese Auffassung als die natürliche anspricht, und daß sie uns gleichsam den Weg dazu verlegt, die spezifische Natürlichkeit in der Natur selbst zu sehen. Und doch ist – metaphysisch gesehen – das Seinsverhältnis des Menschen zur Natur ein ganz anderes. Diese steht nicht mit einer Fülle von Objekten um den Menschen herum, ist so verständlich, sondern das menschliche Dasein ist in sich ein eigentümliches Versetztsein in den Umringzusammenhang des Lebendigen. Dabei ist wohl zu beachten: Es ist nicht so, daß wir jetzt mit den Tieren gleichgestellt wären, gegenüber einer inhaltlich gemeinsamen Wand von Seiendem, die nur sie unter sich und wir unter ihnen als dieselbe je verschieden sehen, als gäbe es nur eine Mannigfaltigkeit von Aspekten des Selben. Nein, die Umringe unter sich sind gar nicht vergleichbar, und das Ganze der jeweilig offenbaren Umringverzahnung fällt für uns nicht nur unter das Seiende, das sonst offenbar ist, sondern hält uns in einer ganz spezifischen Weise gefangen. Wir sagen daher: Der Mensch existiert in eigentümlicher Weise inmitten des Seienden. Inmitten des [404] Seienden heißt t Die lebendige Natur hält uns selbst als Menschen in einer ganz spezifischen Weise gefangen, nicht aufgrund eines besonderen Einflusses und Eindruckes, den die lebendige Natur auf uns macht, sondern aus unserem Wesen, ob wir dasselbe in einem ursprünglichen Verhältnis erfahren oder nicht.