A tese de que ser-aí significa ser-no-mundo enuncia algo essencial e designa algo totalmente elementar que com certeza precisa assumir, justamente por isso, a firmeza e a incisividade do problema. Com a indicação do ser-no-mundo, não tocamos em outra coisa a não ser a estrutura da transcendência, com a qual já nos tínhamos deparado em meio ao nosso primeiro caminho. Dissemos lá: o ser-aí ultrapassa [übersteigt] o ente de um tal modo que somente nessa ultrapassagem [Überstieg] ele pode se comportar em relação ao ente; portanto, somente assim ele pode se comportar também em relação a si mesmo como ente, isto é, pode se relacionar consigo mesmo, pode [326] ser um si-próprio. O ser-aí transcende, ultrapassa o ente. No entanto, não o faz apenas ocasionalmente, ele o faz, antes, como ser-aí; e ele ultrapassa o ente, não esse ou aquele a partir de uma escolha [Auswahl], mas o ente na totalidade. Apenas porque ultrapassa o ente na totalidade [Seiendes im Ganzen], ele pode, a partir da escolha feita no interior do ente, comportar-se em relação a esse ou àquele ente; nesse caso, essa escolha já está essencialmente decidida junto com a existência fática de cada ser-aí. No interior dessa esfera de decisão, há certamente uma margem de manobra da liberdade.
O que significa esse “na totalidade” que pertence à transcendência? E aquilo em relação ao que é levada a termo a ultrapassagem do ente, aquilo em relação ao que a transcendência transcende e, de acordo com isso, aquilo a partir do que o ser-aí retorna, no comportamento em relação ao ente, a esse ente. Aquilo em relação ao que o ser-aí essencialmente transcendente transcende denominamos mundo. Todavia, nessa ultrapassagem, o ser-aí não se eleva acima de si mesmo de uma tal maneira que praticamente se deixasse para trás. Ao contrário, não apenas permanece ele mesmo, mas, pela primeira vez, torna-se justamente ele mesmo. Aquilo em relação ao que se dá a ultrapassagem é aquilo em que o ser-aí se mantém como tal. Transcender significa ser-no-mundo.