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Carneiro Leão (2017:49) – autenticidade
sábado 2 de dezembro de 2023
Agora talvez se possa perceber o que já sempre se percebe, a saber: por que a vida humana não é um estar inerte e passivo em sua própria natureza, mas torna-se sempre um desafio para se conquistar continuamente. Sobreviver à natureza: neste sentido toda autenticidade é sempre sobre-natureza, no sentido de ir além, acima da natureza. Por isso Charles Peguy disse certa vez: “Le surnaturel é charnel”. O sobrenatural no homem é carnal. Toda a autenticidade é, portanto, sempre, sobrenatural no sentido de ir além da natureza. O homem não somente vive, para viver como homem, ele tem de sobre-viver à sua natureza. O poeta expressou isto num famoso verso: “A vida é esta angústia que abate sobre todos nós, sejamos fortes ou fracos, bravos ou covardes”. Heráclito de Efeso já tinha dado a esta luta da interação de vivências uma extensão universal. É que o conflito, a batalha, a angústia do combate é pai de tudo, é senhor de tudo, é que faz os homens homens, que faz dos deuses deuses, é que faz dos escravos escravos, dos livres livres. À pedra lhe é dado de modo pronto e acabado o seu modo de ser e de compor a paisagem, a pedra não tem de conquistar o seu espaço na refrega de conflitos e tensões, na disputa de lutas e empenhos consigo mesma. É somente no homem e para o homem que ser e combater se identificam. Existir é pois, ter de lutar consigo em primeiro lugar, e depois com os outros, para transcender sua natureza nua, num cuidado com seu sentido. Ser homem equivale, pois a ter o ofício de criar, a cada instante, o modo próprio de ser e realizar-se de si mesmo.
[CARNEIRO LEÃO, Emmanuel. Aprendendo a Pensar III. Teresópolis: Daimon Editora, 2017, p. 49]
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