Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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ausência

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Ab-wesenheit, Abwesenheit  

O erro de Deus [Gott  ] e do Divino é a AUSÊNCIA [Abwesenheit]. Mas AUSÊNCIA não é um nada [Abwesenheit ist nicht   nichts]. Ausência é precisamente a vigência apropriadora da plenitude velada do ter-sido [Gewesen] e assim do que, reunido no modo do ter-sido, vige e é. Ausência é a vigência do divino para os gregos, para os judeus profetas, para a pregação de Jesus. Esse não-mais [Nicht-mehr] é, em si, um ainda-não [Noch-nicht] do advento [Ankunft] velado de seu vigor inesgotável. [tr. Carneiro Leão  ; GA7  :185]


O homem é aquele não-poder-permanecer, e, no entanto, não-poder-deixar o seu lugar [Der Mensch   ist jenes Nicht-bleiben-können und doch nicht von der Stelle   Können]. De maneira projetante, o ser-aí nele o joga constantemente em possibilidades [Möglichkeiten] e o retém, com isto, subjugado ao real [Wirklichen]. Assim jogado [Wurf], o homem é, em meio à jogada, uma travessia [Übergang  ]; uma travessia como essência fundamental do acontecimento [Grundwesen des Geschehens]. O homem é história [Geschichte  ], ou melhor, a história é o homem. Em meio à travessia, o homem é subtraído, e, por isto, está essencialmente “ausente” [abwesend]. Ausente no sentido principial – nunca simplesmente dado, mas ausente, uma vez que ele se perfaz para além de, em meio ao passado essencial [Gewesenheit] e em meio ao por-vir [Zukunft  ], ausente e nunca simplesmente dado [vorhanden  ], mas, na AUSÊNCIA [Ab-wesenheit], um existente. Transposto para o interior do possível, ele precisa ser constantemente provido do que é real. E apenas porque é assim provido e transposto, ele pode se assombrar. E somente onde há a periculosidade do assombro [Gefährlichkeit des Entsetzens], há a bem-aventurança do espanto [Seligkeit des Staunens] – aquele arrebatamento lúcido que é a Ode de todo filosofar e que os maiores dentre os filósofos chamaram enthousiasmos  . Dentre estes, o último grande – Friedrich Nietzsche   – prestou seu testemunho naquela canção de Zaratustra, que ele chama o “Canto Ébrio” e no qual ao mesmo tempo experimentamos o que é o mundo: “Ó homem! Presta atenção! / Que diz a meia-noite em seu bordão? / ‘Eu dormia, dormia… / Fui acordada de um sonho profundo: / Profundo é o mundo! / E mais profundo do que pensa o dia. / Profundo é o seu sofrimento / E o prazer – mais profundo que a dor do coração. / O sofrimento diz: ‘Passa, momento!’ / Mas todo prazer quer eternidade – Quer profunda, profunda eternidade!”’ [tr. Casanova  ; GA29-30  :531-532]