Página inicial > Fenomenologia > Ortega y Gasset (MT:C6) – VI — O destino extranatural do homem…

Meditação da Técnica

Ortega y Gasset (MT:C6) – VI — O destino extranatural do homem…

Programas de ser que dirigiram ao homem. — A origem do Estado tibetano

quinta-feira 4 de novembro de 2021

ORTEGA Y GASSET  , José. Meditação da Técnica. Tradução e Prólogo de Luís Washington Vita  . Rio de Janeiro: Livro Íbero-Americano, 1963, p. 51-57

VI EL DESTINO EXTRANATURAL DEL HOMBRE. —PROGRAMAS DE SER QUE HAN DIRIGIDO AL HOMBRE. —EL ORIGEN DEL ESTADO TIBETANO

português

Nas lições anteriores procurei sugerir quais são os supostos que têm que dar-se no universo para que nele apareça isso que chamamos técnica . Dito em outra forma, a técnica implica tudo isso que enunciamos: que há um ente cujo ser consiste, antes de tudo, no que ainda não é, num mero projeto, pretensão ou programa de ser; que, portanto, esse ente tem que desgastar-se na realização de si mesmo. Não pode obtê-la senão com elementos reais, como o artista não pode realizar a estátua imaginada se não tem uma sólida matéria em que plasmá-la. A matéria, o elemento real onde e com o qual o homem "pode" chegar a ser de fato o que é em projeto, é o mundo. Este lhe oferece a possibilidade de existir e, ao mesmo tempo, grandes dificuldades para isso. Em tal disposição dos termos a vida aparece constituída como um problema quase de engenharia: aproveitar as facilidades que o mundo oferece para vencer as dificuldades que se opõem à realidade de nosso programa. Nesta condição fundamental de nossa vida é onde se insere o fato da técnica.

Dito assim, em fórmula abstrata, resulta talvez difícil de compreender. Porque esse programa extranatural que afirmamos ser o homem, e para servir ao qual se desdobra a técnica, soa a alguma coisa mística e inconcretável. Alguma clareza, todavia, trouxe ao assunto a rápida enumeração que fiz de alguns entre os muitos programas vitais em que o homem historicamente concretou seu ser: o bodhisatva hindu, o homem agonal da Grécia aristocrática do século VI, o bom republicano de Roma   e o estoico da época do Império, o asceta medieval, o hidalgo do século XVI, o homme de bonne compagnie de França do século XVII, a schöne Seele   dos fins do século XVIII na Alemanha ou o Dichter   und Denker   dos princípios do século XIX, o gentleman de 1850 na Inglaterra, etc.

Não é lícito deixar-me levar ao sugestivo trabalho de ir descrevendo o perfil pressionador do mundo que é cada um destes modos de ser do homem.

Unicamente farei notar alguma coisa que me parece de toda evidência. O povo no qual predomina a ideia de que o verdadeiro ser do homem é ser bodhisatva não pode criar uma técnica igual àquele outro no qual se aspira a ser gentleman. Ser bodhisatva é, evidentemente, crer que existir neste mundo de meras aparências é precisamente não existir de verdade. A verdadeira existência consiste para ele em não ser indivíduo, pedaço particular do universo, mas fundir-se no Todo e desaparecer nele. O bodhisatva, pois, aspira a não viver ou a viver o menos possível. Reduzirá sua alimentação ao mínimo; pior para a técnica da alimentação! Procurará a imobilidade máxima, para recolher-se na meditação, único veículo que permite ao homem chegar ao êxtase, isto é, a pôr-se em vida fora deste mundo. Não é verossímil que invente o automóvel este homem que não quer mover-se. Ao contrário, suscitará todas essas técnicas tão alheias a nós europeus como são as dos faquires e iogas, técnicas do êxtase, técnicas que não produzem reformas na natureza material, mas no corpo e na psique do homem. Por exemplo, a técnica da insensibilidade e a catalepsia, da concentração, etc. Isto me chama a atenção de que a técnica é função do variável programa humano. Por outro lado, esclarece-nos também de tudo aquilo que o homem, numa de suas dimensões, tem um ser extranatural e que antes não conseguíamos intuir. É evidente que existir como meditador e como extático, viver precisamente como não vivente, em constante intuito de anular o mundo e a própria potência, não é um modo natural de existir. Ser bodhisatva é, em princípio, não comer, não mover-se, não sexualizar, não sentir prazer nem dor; ser, em consequência, a negação vivente da natureza. Por isso é um exemplo drástico da extranaturalidade do ser humano e do difícil que é sua realização na natureza. Isso requer uma pré-adaptação desta que deixe espaço para uma qualidade de ser que tão radicalmente a contradiz. Mas a explicação naturalista do humano saltará aqui sustentando que a relação entre o projeto de ser e a técnica é inversa da que eu proponho, a saber: que é o projeto quem suscita a técnica, a qual, por sua vez, reforma a natureza. Exatamente o contrário, dir-se-á: na Índia o clima e o solo facilitam tão enormemente a vida que o homem quase não necessita mover-se nem alimentar-se. É, pois, o clima e o solo os fatores que pré-formam esse tipo de vida búdica. Com isto, pela primeira vez, quem sabe, lhes soará agradavelmente, neste ensaio, aos homens de ciência que me ouvem.

Mas agora não posso deixar de confundir ao naturalista imaginário que me objeta ainda aquela pequeníssima satisfação. Não: existe, sem dúvida, uma relação entre clima e solo de um lado e programa de humanidade de outro, mas é bem distinta da que a anterior explicação supõe. Não irei expor agora qual é, a meu ver; pela primeira vez irei excusar-me de raciocinar e, em seu lugar, irei opor ao pretendido fato que o presumível objetante apresentou, simplesmente, outro fato positivo que atira aos trastes aquela explicação .

Se são o clima e a terra da Índia os fatores que explicam o budismo da índia, não se compreende porque hoje a região budista por excelência é o Tibete. Porque seu clima e sua terra são a antítese da região do Ganges ou do Ceilão. Os altiplanos atrás do Himalaia são um dos lugares mais ásperos e crus do planeta. Ferozes vendavais dominam aquelas planícies imensas, aqueles amplíssimos vales. Tormentas de gelos os castigam durante grande parte do ano. Por isso não havia ali senão hordas trasumantes, inquietas e revoltadas, em contínua agressão umas com as outras. Guarneciam-se em suas tendas, feitas com a pele dos grandes ovinos altaicos. Nunca se pôde ali constituir um Estado. Eis aqui que um belo dia transpuseram os sublimes portos do Himalaia alguns missionários budistas e converteram à sua religião algumas daquelas hordas. Mas o budismo é, mais essencialmente que nenhuma outra religião, faina de meditação. No budismo não há um deus que se encarregue de salvar ao homem. É o homem que tem que salvar-se a si mesmo por meio da meditação, da oração. Como meditar na crudelíssima tempérie tibetana? Foi preciso construir conventos de pedra e cal, os primeiros edifícios que surgiram por ali. Não, pois, para simplesmente viver surge no Tibete a casa, mas para orar. Mas ocorreu que nas contendas tradicionais daquele país as hordas budistas se refugiaram nos conventos, que adquiriram assim um papel guerreiro, proporcionando a seus possuidores superioridade sobre os não budistas. Em suma, que o convento, fazendo de castelo, criou o Estado tibetano. Aqui não é o clima e a terra os fatores que engendram o budismo, mas, ao contrário, o budismo como necessidade humana, isto é, desnecessária, quem modifica o clima e terra mediante a técnica da construção.

Sirva o caso narrado como um bom exemplo da solidariedade que existe entre as técnicas; quero dizer da facilidade com que um artefato ideado para servir uma determinada finalidade se desloca para outras utilizações. Mais acima vimos como o arco primitivo, provavelmente musical, se converte em arma de caça e luta. Parecido é o caso de Tirteu, aquele ridículo general que os atenienses emprestaram aos espartanos. Velho e coxo, era, ainda, pelo estilo antiquado de suas elegias, o boboca da juventude vanguardista na Ática. Mas chega a Esparta e a partir de então os desmoralizados lacedemônios começam a ganhar todas as batalhas. Por quê? Pois por uma simples razão técnica de tática. As elegias de Tirteu estavam compostas num ritmo arcaico, que, por ser bastante claro e pronunciado, facilitava a unidade de marcha e movimento na falange . Eis aqui uma técnica poética que se transforma em ingrediente criador dentro da técnica militar.

Mas não nos transviemos. Procurávamos brevemente confrontar a situação do homem quando é, como projeto, bodhisatva, com a do homem quando se propõe ser gentleman. A oposição é radical. Basta para percebê-lo que insinuemos alguns traços constituintes do gentleman. Convém antes notar que o gentleman não é o aristocrata. Sem dúvida foram os aristocratas ingleses os que principalmente idearam este modo de ser homem, mas inspirados pelo que diferencia o aristocrata inglês de todas as demais classes de nobres. Enquanto as demais são fechadas como classes, e inclusive fechadas quanto ao tipo de ocupações a que se dignavam dedicar-se — guerra, política, diplomacia, desporto e alta direção da economia agrícola — o aristocrata inglês, desde o século XVI, aceita a luta no terreno econômico do comércio, da indústria e das carreiras liberais. Como a história consistiria desde então principalmente nestas fainas, foi a única que se salvou, mantendo-se no jogo com plena eficiência . Daí que ao chegar o século XIX cria-se um protótipo de existência — o gentleman — que vale para todo o mundo. O burguês e o operário podem, em certa medida, ser gentleman; e mais, aconteça o que acontecer no futuro, talvez imediato, restará como uma das maravilhas da história o fato de que hoje até o operário mais modesto da Inglaterra é, em sua órbita, um gentleman. Esse modo de ser homem não implica, pois, aristocratismo. O aristocrata continental dos últimos quatro séculos é, antes de tudo, herdeiro: o homem que herdou grandes meios de vida, mas não teve que lutar nesta para conquistá-los. O gentleman como tal não é o herdeiro; ao contrário, supõe que o homem tem que lutar na vida, que exercer todas as profissões e ofícios, sobretudo os práticos (o gentleman não é intelectual), e precisamente nessa luta tem que ser gentleman. O polo oposto ao gentleman é o gentilhomme de Versailles ou o Junker alemão.

original

En las lecciones anteriores he procurado sugerir cuáles son los supuestos que tienen que darse en el universo para que en él aparezca eso que llamamos técnica. Dicho en otra forma, la técnica implica todo eso que hemos enunciado: que hay un ente cuyo ser consiste, por lo pronto, en lo que aún no es, en un mero proyecto, pretensión o programa de ser; que, por tanto, ese ente tiene que afanarse en la realización de sí mismo. No puede lograrla sino con elementos reales; como el artista no puede realizar la estatua imaginada si no tiene una materia sólida en que plasmarla. La materia, el elemento real dónde y con el cuál el hombre puede llegar a ser de hecho lo que en proyecto es, es el mundo. Éste le ofrece la posibilidad de existir y, a la par, grandes dificultades para ello. En tal disposición de los términos la vida aparece constituida como un problema casi ingenieril: aprovechar las facilidades que el mundo ofrece para vencer las dificultades que se oponen a la realidad de nuestro programa. En esta condición radical de nuestra vida es donde prende el hecho de la técnica.

Dicho así, en fórmula abstracta, resulta acaso difícil de comprender. Porque ese programa extranatural que afirmamos ser el hombre y para servir al cual se afana la técnica, suena a algo místico e inconcretable. Alguna claridad, sin embargo, aportó al asunto la rápida enumeración que hice de algunos entre los muchos programas vitales en que el hombre históricamente ha concentrado su ser: el bodhisatva hindú, el hombre agonal de la Grecia aristocrática del siglo VI, el buen republicano de Roma y el estoico de la época del Imperio, el asceta medieval, el hidalgo del XVI, el homme de bonne compagnie de Francia en el XVII, la schöne Seele de fines del XVIII en Alemania o el Dichter und Denker de comienzos del XIX, el gentleman de 1850 en Inglaterra, etc.

No me es lícito dejarme llevar a la sugestiva labor de ir describiendo el perfil presionador del mundo que es cada uno de estos modos de ser del hombre.

Únicamente haré notar algo que me parece de toda evidencia. El pueblo en que predomina la idea   de que el verdadero ser del hombre es ser bodhisatva, no puede crear una técnica igual a aquel otro en que se aspira a ser gentleman. Ser bodhisatva es, por lo pronto, creer que existir en este mundo de meras apariencias es precisamente no existir de verdad. La verdadera existencia consiste para él en no ser individuo, trozo particular del universo, sino fundirse en el Todo y desaparecer en él. El bodhisatva, pues, aspira a no vivir o a vivir lo menos posible. Reducirá su alimento al mínimo; ¡mal para la técnica de la alimentación! Procurará la inmovilidad máxima, para recogerse en la meditación, único vehículo que permite al hombre llegar al éxtasis, es decir, a ponerse en vida fuera de este mundo. No es verosímil que invente el automóvil este hombre que no quiere moverse. En cambio, suscitará todas esas técnicas tan ajenas a nosotros europeos como son las de los fakires y yogas, técnicas del éxtasis, técnicas que no producen reformas en la naturaleza material, sino en el cuerpo y la psique del hombre. Por ejemplo, la técnica de la insensibilidad y la catalepsia, de la concentración, etcétera. Esto por lo que hace a mi advertencia de que la técnica es función del variable programa humano. De otra parte, nos aclara ya del todo aquello de que el hombre, en una de sus dimensiones, tiene un ser extranatural y que antes no conseguíamos traer a intuición.

Es evidente que existir como meditador y como extático, vivir precisamente como no viviente, en constante procuración de anular el mundo y la existencia misma, no es un modo natural de existir. Ser bodhisatva es, en principio  , no comer, no moverse, no sexualizar, no sentir placer ni dolor; ser, en consecuencia, la negación viviente de la naturaleza. Por eso es un ejemplo drástico de la extranaturalidad del ser humano y de lo difícil que es su realización en la naturaleza. Ello requiere una preadaptación de ésta que deje huelgo para una calidad de ser que tan radicalmente la contradice. Pero la explicación naturalista de lo humano saltará aquí sosteniendo que la relación entre el proyecto de ser y la técnica es inversa de la que yo propongo, a saber: que es el proyecto quien suscita la técnica, la cual, a su vez, reforma la naturaleza. Todo lo contrario, se dirá: en la India el clima y el suelo facilitan tan enormemente la vida que el hombre apenas necesita moverse ni alimentarse. Es, pues, el clima y el suelo quienes preforman ese tipo de vida búdica. Con esto, por vez primera acaso, les sonará algo bien en este ensayo a los hombres de ciencia que me escuchan.

Pero ahora no puedo menos de chafar al naturalista imaginario que me objeta aún aquella pequeñísima satisfacción. No: existe, sin duda, una relación entre clima y suelo de un lado y programa de humanidad de otro, pero es muy distinta de la que la anterior explicación supone. No voy ahora a exponer cuál es, a mi juicio; por una vez voy a excusarme de razonar y en su lugar voy a oponer al pretendido hecho que el presunto objetante ha presentado, sencillamente, otro hecho positivo que da al traste con aquella explicación.

Si son el clima y la tierra de la India quienes explican el budismo de la India, no se comprende por qué hoy la región budista por excelencia es el Tíbet. Porque su clima y su tierra son la antítesis de la región del Ganges o de Ceylán. Las altiplanicies tras el Himalaya son uno de los lugares más ásperos y crudos del planeta. Feroces vendavales señorean aquellas llanuras inmensas, aquellos amplísimos valles. Tormentas y hielos la castigan durante gran parte del año. Por eso no había allí sino hordas trashumantes, inquietas y broncas, en continua agresión unas con las otras. Se guarecían en sus tiendas, hechas con la piel de los grandes ovinos altaicos. Nunca pudo allí constituirse un Estado. He aquí que un buen día transpusieron los sublimes puertos del Himalaya algunos misioneros budistas y convirtieron a su religión algunas de aquellas hordas. Pero el budismo es, más esencialmente que ninguna otra religión, faena de meditación. En el budismo no hay un dios que se encargue de salvar al hombre. Es el hombre quien tiene que salvarse a él mismo por medio de la meditación, de la oración. ¿Cómo meditar en la crudísima temperie tibetana? Fue menester construir conventos de cal y canto, los primeros edificios que hubo allí nunca. No, pues, para simplemente vivir surge en el Tíbet la casa, sino para orar. Pero ocurrió que en las contiendas tradicionales de aquel país las hordas budistas se cogían en sus conventos, que adquirieron así un papel guerrero, proporcionando a sus poseedores superioridad sobre los no budistas. En una, que el convento, haciendo de castillo, creó el Estado tibetano. Aquí no es el clima y la tierra quienes engendran el budismo, sino al revés, el budismo como necesidad humana, esto es, innecesaria, quien modifica el clima y la tierra mediante la técnica de la construcción.

Sirva al paso lo dicho como un buen ejemplo de la solidaridad que existe entre las técnicas; quiero decir de la facilidad con que un artefacto ideado para servir una determinada finalidad se desplaza hacia otras utilizaciones. Más arriba vimos cómo el arco primitivo, probablemente musical, se convierte en arma de caza y pesca. Parejo es el caso de Tirteo, aquel ridículo general que los atenienses prestaron a los espartanos. Viejo y cojo, era, además, por el estilo anticuado de sus elegías, el hazmerreír de la juventud vanguardista en el Ática. Pero llega a Esparta y desde entonces los desmoralizados lacedemonios comienzan a ganar todas las batallas. ¿Por qué? Pues, por lo pronto, por una razón técnica de táctica. Las elegías de Tirteo estaban compuestas en un ritmo arcaico, que, por ser muy claro y pronunciado, facilitaba la unidad de marcha y movimiento en la falange. He aquí una técnica poética que se transforma en ingrediente creador dentro de la técnica militar.

Pero no nos perdamos. Intentábamos brevemente confrontar la situación del hombre cuando es, como proyecto, bodhisatva, con la del hombre cuando se propone ser gentleman. La oposición es radical. Basta para advertirlo que insinuemos algunos rasgos constituyentes del gentleman. Antes conviene notar que el gentleman no es el aristócrata. Sin duda fueron los aristócratas ingleses los que principalmente idearon este modo de ser hombre, pero inspirados por lo que diferencia al aristócrata inglés de todas las demás clases de nobles. Mientras las demás son cerradas como clases y además cerradas en cuanto al tipo de ocupaciones a que se dignaban dedicarse —guerra, política, diplomacia, deporte y alta dirección de la economía agrícola—, el aristócrata inglés, desde el siglo XVI, acepta la lucha en el terreno económico del comercio, de la industria y de las carreras liberales. Como la historia iba a consistir desde entonces principalmente en estas faenas, ha sido la única que se salvó, manteniéndose en la brecha de la plena eficiencia. De aquí que al llegar el siglo XIX créase un prototipo de existencia —el gentleman— que vale para todo el mundo. El burgués y el obrero pueden, en cierta medida, ser gentleman; es más, pase lo que pase en un futuro, acaso inmediato, quedará como una de las maravillas de la historia el hecho de que hoy, hasta el obrero más modesto de Inglaterra, es, en su órbita, un gentleman. Ese modo de ser hombre no implica, pues, aristocratismo. El aristócrata continental de los últimos cuatro siglos es, ante todo, heredero: el hombre que ha heredado grandes medios de vida, pero no ha tenido que luchar en ésta para conquistarlos. El gentleman como tal, no es el heredero; al contrario, supone que el hombre tiene que luchar en la vida, que ejercitar todas las profesiones y oficios, sobre todo los prácticos (el gentleman no es intelectual), y precisamente en esa lucha tiene que ser gentleman. El polo opuesto al gentleman es el gentilhomme de Versalles o el Junker alemán.


Ver online : ORTEGA Y GASSET