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Niederhauser (2013) – papel da angústia [Angst]
quinta-feira 21 de março de 2024
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Se, para fins de ilustração, colocarmos o movimento da revelação do significado em termos lógicos, então a revelação tem lugar ex negativo. A angústia, tonalidade afetiva fundamental do Dasein, desempenha aqui um papel crucial. Expandindo o que argumentei acima, a angústia é uma revelação primordial do ser. Angústia é o nome que Heidegger dá ao fenômeno existencial-ontológico de um aparente colapso de significado. A angústia é a "insignificância absoluta" (SZ : 187/181) de tudo o que é subsistente e presente. O antes-que ou o sobre-o-quê, Wovor, da angústia é o próprio ser-no-mundo, é a própria possibilidade de qualquer coisa estar presente. O Wovor não é um objeto, mas, mais uma vez, um caso de indicação formal, uma ocorrência imanente. A angústia é mais intensa perante a morte como possibilidade de não-ser (cf. SZ : 254/244). Por isso, a angústia surge mais radicalmente perante o nada. Não há nada na angústia, nenhum objeto, nenhum fundamento, nada a que se agarrar. Na análise da angústia, Heidegger revela, então, uma forma privilegiada de pensar fora do domínio dos entes! A angústia apresenta ao Dasein a diferença entre ser e entes. Como argumentei acima, a angústia revela que um "não" determina o Dasein no seu fundamento. Assim, qualquer presença e revelação, incluindo os horizontes em termos dos quais o Dasein se revela, estão condicionados a um "não", a uma indisponibilidade. A angústia, então, não se refere simplesmente a um colapso ôntico do significado. Pelo contrário, a angústia como tonalidade afetiva fundamental, como insignificância absoluta, juntamente com a niilação do nada, da morte, do ainda-não, é co-constitutiva da revelação, ou seja, de uma apreensão adequada do ser de sentido que o Dasein deve revelar. Em momentos de experiência de "angústia", o Dasein alcança aquela angústia de tonalidade afetiva fundamental que sempre já co-constitui o Dasein. Assim, o significado surge de uma indisponibilidade. Quando Heidegger argumenta que a angústia "revela, primária e diretamente, o mundo como mundo" (SZ : 187/181), entendo-o como dizendo que o significado do mundo surge da nulidade do Dasein, e esta nulidade está, em última análise, condicionada à morte. O Dasein só pode revelar corretamente o sentido do ser se aceitar a sua nulidade. Em suma, a angústia da tonalidade afetiva fundamental, que está intimamente relacionada com a morte, revela a diferença ontológica, o "não" entre o ser e os entes. Os momentos de angústia podem, então, ser momentos de libertação da prevalência dos entes, das ferramentas, dos equipamentos e dos modos do quotidiano e, deste modo, uma abertura radical do horizonte do futuro desdobra-se a partir da nulidade do Dasein. Pela diferença ontológica, o Dasein pode romper novos horizontes temporais, ou seja, novos modos de presença que concedem um significado diferente aos entes, o que inclui a história. A nulidade do Dasein, então, não é um abismo insuperável, mas o ponto de referência entre o ser e os entes. Para além disso, o "não" que aqui está em causa proíbe uma abertura indeterminada e caótica, pois o "não" limita o que pode ser.
original
If, for the sake of illustration, we put the movement of the disclosure of meaning in logical terms, then disclosing takes place ex negativo. Dasein’s fundamental attunement angst plays a pivotal role here. Expanding on what I argued above, angst is a prime disclosedness of being. Angst is the name Heidegger gives to the existential-ontological phenomenon of a seeming collapse of meaning. Angst is “utter insignificance” (SZ : 187/181) of anything ready-to-hand and present-at-hand. The before-which or the about-what, Wovor, of angst is being-in-the-world itself, is the very possibility of anything being present. The Wovor is not an object, but again a case of formal indication, an immanent occurrence. Angst is most intense before death as the possibility of not-being (cf. SZ : 254/244). Angst hence brings most radically before nothingness. There is nothing in angst, no object, no ground, nothing to hold on to. In the analysis of angst Heidegger, then, discloses a prime way of thinking outside the realm of beings! Angst introduces Dasein to the difference between being and beings. As I argued above, angst discloses that a “not” determines Dasein in its ground. Thus, any presence and disclosure, including the horizons in terms of which Dasein discloses, are conditional on a “not,” a non-availability. Angst, then, does not simply refer to an ontic collapse of meaning. Rather, angst as fundamental attunement, as utter insignificance, together with the nihilation of the nothing, death, the not-yet, is co-constitutive of disclosedness, i.e., of a proper grasping of the meaning being that Dasein must disclose. In moments of experiencing “angst” Dasein reaches down to that fundamental attunement angst that always already co-constitutes Dasein. Thus, meaning arises out of a non-availability. When Heidegger argues that angst “discloses, primarily and directly, the world as world” (SZ : 187/181), I understand him as saying that the meaning of the world arises out of the nullity of Dasein, and this nullity is ultimately conditional on death. Dasein can properly disclose the meaning of being only by accepting its thrownness. In sum, the fundamental attunement angst, which is intimately related to death, discloses the ontological difference, the “not” between being and beings. Moments of experiencing angst can then be moments of breaking free from the prevalence of beings, tools, equipment, and the modes of the everyday and in this way a radical openness of the horizon of the future unfolds out of Dasein’s nullity. For the ontological difference, Dasein can tear open new temporal horizons, i.e., new modes of presence which grant a different meaning of beings, and this includes history. Dasein’s nullity, then, is not an unsurpassable abyss, but the reference point between being and beings. Moreover, the “not” that is here involved prohibits an indeterminate and chaotic openness, for the “not” limits what can be.
[NIEDERHAUSER , Johannes Achill. Heidegger on death: an answer to the Seinsfrage. Cham: Springer, 2021]
Ver online : Johannes Achill Niederhauser