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Encarnação

Henry (E) – A questão tornada crucial da impressão

I. A inversão da fenomenologia

domingo 12 de setembro de 2021

HENRY, Michel. Encarnação: uma filosofia da carne. Tr. Carlos Nougué. São Paulo: É Realizações, 2014.

Tradução

É essa destruição de toda impressão concebível no “fora de si” da exterioridade pura — onde tudo é sempre exterior a si, de onde toda autoimpressão é banida no princípio que ressaltam as extraordinárias Lições sobre o tempo que Husserl   pronuncia em Göttingen no semestre de inverno dos anos 1904-1905. O pôr para fora de si da impressão já não é aqui sua projeção intencional na forma de uma qualidade sensível do objeto — o primeiro momento da edificação do universo [77] objetivo e espacial que é o da percepção dos objetos ordinários e que define, aos olhos de todos, o universo real. O pôr fora de si da impressão de que se trata aqui é muito mais originário, e muito menos evidente também; ele se produz de certo modo em nós, ali onde sentimos o conjunto de nossas impressões e de nossas sensações, no nível disso a que Husserl chama de camada hilética — material, sensual, impressionai — da consciência. Lancemos novamente um olhar para esse estrato por princípio não intencional por exemplo, para um som impressionai experimentado em sua sonoridade pura e reduzido a esta.

Esse som se decompõe, vimos, em diferentes fases sonoras, de modo que, imediatamente assim que experimentadas, cada fase atual desliza para o “passado do instante”, para o “passado imediato” (soeben gewesen), e essa fase passada para o instante desliza por sua vez para um passado cada vez mais longínquo. Porque esse deslizamento para o passado é dado a uma intencionalidade – a retenção –, ele é a vinda para fora em sua forma primitiva, o Ek-stase em seu surgimento original, a Diferença [Différence] que se pode, com efeito, escrever Diferança [Différance] porque não é nada além do puro fato de di-ferir, de afastar, de separar – o primeiro afastamento. Este deslizamento da impressão para fora de si é o próprio decorrer da temporalidade, sua temporalização originária; é o “fluxo” da consciência. Que esta vinda para fora da impressão na retenção signifique sua destruição, vê-se pelo fato de que, “passada ao instante”, “imediato passado”, ela não é menos inteiramente passada — já não do ser, mas do nada: já não é uma impressão atualmente vivida, presente, nenhuma parcela de realidade subsiste nela. É o que declara explicitamente Husserl: “O som retencional não é um som presente (…), ele não se encontra realmente ali, na consciência retencional”. [1]

É verdade que a consciência retencional não está isolada; ela se entrelaça constantemente com uma consciência de agora que, por sua vez, está ligada a uma protensão, de modo que somente a síntese jamais desfeita dessas três intencionalidades constitui a consciência interna do tempo — essa consciência que nos dá o som que dura através de suas fases sucessivas, em seu decorrer concreto. Para dizê-lo de outro modo, considerando já não a consciência que constitui o som ouvido temporalmente, o som que dura, mas este último: nenhuma fase desse som é separada das outras, nenhuma fase “passada para o instante” é possível sem a fase atual de que ela é o deslocamento imediato para o passado, nenhuma fase atual é dada sem a fase “passada para o instante” em que ela se transforma imediatamente. Diga-se o mesmo das fases vindouras, que se modificam constantemente em fases atuais e depois passadas. Sendo assim, se a consciência retencional não nos dá senão uma fase “passada para o instante” e, todavia, inteiramente passada, não se pode dizer do mesmo modo: a consciência do agora dá a fase atual do som e, assim, a realidade da impressão, a impressão presente em sua presença efetiva?

Duas dificuldades insuperáveis, e aliás correlativas, surgem aqui. Assim como retenção e protensão, a consciência do agora é uma intencionalidade; ela faz ver fora de si, e se nenhuma impressão advém num meio de exterioridade pura porque a realidade da impressão, e assim toda e qualquer realidade impressional, toca a si em cada ponto de seu ser e não difere nunca de si, então a consciência do agora se revela tão incapaz de dar a realidade da impressão, sua presença, sua atualidade quanto o são, por seu lado, a retenção e a protensão. É o que mostra o correlato dessa consciência intencional do agora, o que ela dá precisamente: esse fluxo temporal que é inteiramente escoamento e no qual não há nenhum ponto fixo, nenhum “agora” propriamente dito. “No fluxo e por princípio nenhum fragmento de não fluxo pode aparecer” (Ibidem, p. 152).

Essa incapacidade paradoxal da consciência do agora de dar ao presente o que precisamente não é em si jamais presente, mas sempre fluxo, passagem, deslocamento constante, é o que tenta camuflar a [79] ideia de síntese contínua pela qual uma consciência retencional se enlaça com essa consciência do agora, de maneira que a fase atual não é dada senão deslizando para o passado e o que é dado, afinal de contas, é esse deslizar para o passado como tal. É verdade que a fase “passado para o instante” não é concebível senão como a fase passada de uma fase que acaba de ser atual. Mas o que é essa fase atual além de uma exigência lógica, na medida em que a consciência do agora é, na realidade, incapaz de dá-la? Se, com efeito, se considera que o fluxo em seu conjunto é esse deslizar contínuo das fases impressionais, das fases sonoras, por exemplo, para o passado, então é preciso dizer com Husserl: o presente, “o agora não é senão um limite ideal”. (Ibidem, p. 56) Tomada entre fases por vir e fases passadas que são, umas e outras, irrealidades, nas quais nenhuma sonoridade real ressoa, a fase presente, onde não há nada de presente, que desaba constantemente no não ser do passado, não é mais que o lugar do aniquilamento; reduzida a um limite ideal entre irrealidades e ela própria duplamente irreal, revela-se incapaz de introduzir na audição do som que dura a realidade de uma impressão sonora efetiva, por breve que seja, sem a qual nenhuma audição de espécie alguma jamais pareceu possível.

Que dizer, enfim, da intencionalidade dada pelo presente com esse senso de dar o presente — da consciência do agora? Não é ela mesma — na medida em que escapa à noite do inconsciente onde nenhuma doação se cumpre — uma impressão? Captada inteira, a mesmo título que a impressão sonora, pelo transcurso, como ela escaparia mais que esta ao desvanecimento universal?

Husserl se perguntou o que, no fluxo, escapa ao fluxo. Diz ele: “a forma do fluxo”. (Ibidem, p. 152) A forma do fluxo é a síntese das três intencio-nalidades — protensão, consciência do agora, retenção — que constituem, em conjunto, a estrutura a priori de todo “fluxo” possível. Nela se opera o surgimento da exterioridade, sua exteriorização, [80] o “fora de si” que é identicamente o horizonte tridimensional do tempo e do mundo: seu aparecer. Mas — a mesmo título que o aparecer do mundo, do qual ela não é senão outro nome, e pela mesma razão — a forma do fluxo é vazia, incapaz de produzir seu conteúdo, essa onda de impressões que desfilam através dela — através do futuro, do presente e do passado — mas sem encontrar nela sua realidade. Muito pelo contrário: na medida em que devem aparecer às intencionalidades que compõem a estrutura formal do fluxo, todas essas impressões são igualmente irreais: as fases futuras ou passadas, que não são ainda ou já são do não ser; a fase dita presente, que não é senão um limite ideal entre dois abismos de nada.

De onde vem então a impressão, a impressão real, se não é do futuro nem do passado nem, menos ainda, de um presente reduzido a um ponto ideal? Essa dificuldade incontornável não escapa a Husserl; ela suscita no texto das Lições uma inversão extraordinária: já não é a consciência do agora que dá a impressão real, mas é a impressão real que dá o agora. Tal é a declaração, tão maciça quanto imprevista: “(…) um agora se constitui por uma impressão (…)” (Ibidem, p. 152). Eis outras duas formulações, tão nítidas quanto a anterior: “Para falar propriamente, o próprio instante presente deve ser definido pela sensação originária”; “A impressão originária tem por conteúdo o que significa a palavra agora, na medida em que é tomada no sentido mais originário” (Ibidem, p. 88). Já não é uma intencionalidade, a consciência do agora, o que define o instante presente: é a “impressão originária” que contém a realidade do agora, ou “o que significa a palavra agora na medida em que é tomada no sentido mais originário”.

Longe de ser pensada até o fim, no entanto, essa singular troca de papéis entre a consciência do agora e a impressão constituiu o objeto de um travestimento imediato. A consciência intencional do agora não produz, como o vimos, senão a ideia do agora, a significação [81] de estar aí agora, de estar presente, a forma vazia do agora e do presente, sem que haja ainda nada presente, nenhum conteúdo real no fluxo. A essa consciência vazia, Husserl acrescenta bruscamente o conteúdo real e concreto que lhe falta: a impressão. De onde ela vem? Em que consiste essa vinda? Qual é seu aparecer? Como este último continua a ser pensado como o “fora de si” da forma do fluxo, é a esta que se pede o que, precisamente, ela é incapaz de fornecer, a impressão real que nunca se mostra nela. Então se opera no texto husserliano uma série de deslocamentos: da forma vazia do fluxo à constatação de um conteúdo que supostamente se mostra nela — dessa constatação (em si mesma falaciosa) à ideia de que esse conteúdo estranho à forma, exterior a ela, não lhe é, no entanto, exterior mas ligado, é resultante dela de algum modo, se encontra determinado por ela — ainda que tal determinação não baste para dar plenamente conta dela. Eis a série de equívocos: “O que permanece antes de todas as coisas é a estrutura formal do fluxo, a forma do fluxo (…), mas (…) a forma permanente é sem cessar preenchida novamente por um ‘conteúdo’, mas o conteúdo não é precisamente nada introduzido exteriormente na forma; é, ao contrário, determinado pela forma da lei: com a ressalva de que essa forma não determina o concreto por si só. A forma consiste nisto: que um agora se constitua por uma impressão (…)” (Ibidem, p. 152). A forma vazia estranha a todo conteúdo, tão incapaz de criá-lo quanto de torná-lo manifesto em sua realidade, torna-se por um toque de varinha mágica seu próprio conteúdo, a impressão em si mesma: ela a traz em si, ele lhe pertence. Já não há lugar para questionar a impressão a partir de outra coisa que não seja a forma do fluxo — a partir dela mesma e de sua vinda, de seu modo de revelação próprio. O preconceito grego se fecha sobre o acontecimento radical que o vinha romper.

Mas, quando a impressão supostamente pertencente à forma do fluxo chega a este último, ela o faz numa consciência intencional do agora cujo próprio é, lançando esta impressão para fora de si, [82] destruí-la. Inútil enlaçar a essa consciência do agora uma retenção que faz desabar toda a realidade no não ser do passado: a consciência do agora já se encarregou disso. Pois a vinda da impressão no fluxo da consciência não é, com efeito, senão isto: a introdução nela do afastamento pelo qual é separada de si, cortada ao meio — como a criança que as duas mulheres puxavam sob os olhos do rei Salomão, que propôs cortá-la ao meio, com efeito, para dar uma metade a cada uma —, des-feita e, portanto, privada de seu fruir interior que a diferencia para sempre de todas as coisas inertes, de todas as que se dão a nós no aparecer do mundo.

Conjurar o desmoronamento ontológico da impressão e, com ela, de toda realidade e de toda presença efetiva — é para isso que se esforça a descrição husserliana que faz renascer a cada instante do fluxo a realidade que ele aniquila sem dificuldade. No próprio lugar onde a impressão acaba de ser condenada à morte, afastada no “fora de si” do Ek-stase do tempo, surge uma nova impressão, vinda de alhures, mas imediatamente aniquilada. Donde o caráter alucinante do fluxo husserliano, esse brotar contínuo de ser sobre o abismo de um nada que se abre constantemente sob ele para devorá-lo — o pretenso continuum desse fluxo constantemente destruído, sua realidade soi-disant homogênea despedaçada, em pedaços de ser e de não ser que se comutam numa descontinuidade quase impensável. O último texto citado continua assim: “A forma consiste em que um agora se constitui por uma impressão e em que a esta se articula uma fila de retenções e um horizonte de protensões. Mas essa forma permanente [a forma do fluxo] encerra em si a consciência da mutação permanente que é um fato originário: a consciência da mutação da impressão em retenção, enquanto de novo continuamente uma impressão está aí” (Ibidem). O texto incoerente que pretendia imputar à forma vazia do fluxo o conteúdo que lhe falta tão cruelmente — a impressão real que ela empurra imediatamente para sua sepultura — não pode senão oferecer à nossa admiração a ressurreição tão [83] milagrosa quanto permanente de uma impressão sempre nova e que, sempre e a cada instante, vem salvar-nos do nada.

De onde vem ela, com efeito? Como? Como se apoderaria de nós, estreitando-nos contra ela para fazer de nós, viventes?

Original

C’est cette destruction de toute impression concevable dans le « hors de soi » de l’extériorité pure où tout est toujours extérieur à soi, d’où toute auto-impression est bannie dans le principe, qui ressort des extraordinaires Leçons sur le temps que Husserl prononça à Göttingen dans le semestre d’hiver des années 1904-1905. La mise hors de soi de l’impression n’est plus ici sa projection intentionnelle sous la forme d’une qualité sensible de l’objet – le premier moment de l’édification de l’univers objectif et spatial qui est celui de la perception des objets ordinaires et qui définit aux yeux de tous l’univers réel. La mise hors de soi de l’impression dont il s’agit ici est beaucoup plus originaire, beaucoup moins évidente aussi ; elle se produit en quelque sorte en nous, là où nous ressentons l’ensemble de nos impressions et de nos sensations, au niveau de ce que Husserl appelle la couche hylétique – matérielle, sensuelle, impressionnelle – de la conscience. Jetons de nouveau un regard sur cette strate par principe non intentionnelle, par exemple sur un son impressionnel éprouvé en sa sonorité pure et réduit à celle-ci.

Il se décompose, avons-nous vu, en différentes phases sonores, de telle façon que, sitôt éprouvée, chaque phase actuelle glisse au « passé de l’instant », au « tout juste passé » (sœben gewesen), et cette phase passée à l’instant glisse à son tour dans un passé de plus en plus éloigné. Parce que ce glissement au passé est donné à une intentionnalité – la rétention –, il est la venue au dehors sous sa forme primitive, l’Ek-stase dans son surgissement originel, la Différence qu’on peut en effet écrire Différance parce qu’elle n’est rien d’autre que le pur fait de dif-férer, d’écarter, de séparer – le premier écart. Ce glissement de l’impression hors de soi est l’écoulement même de la temporalité, sa temporalisation originaire ; elle est le « flux » de la conscience. Que cette venue au dehors de l’impression dans la rétention signifie sa destruction, on le voit à ceci que, « passée à l’instant », « tout juste passée », elle n’en est pas moins tout entière passée – non plus de l’être mais du néant : ce n’est plus une impression actuellement vécue, présente, aucune parcelle de réalité ne subsiste en elle. C’est la déclaration explicite de Husserl : « Le son rétentionnel n’est pas un son présent […] il ne se trouve pas réellement là dans la conscience rétentionnelle » (ibid., p. 42).

Il est vrai que la conscience rétentionnelle n’est pas isolée ; elle se noue constamment à une conscience de maintenant elle-même liée à une protention, de telle sorte que seule la synthèse jamais défaite de ces trois intentionnalités constitue la conscience interne du temps – cette conscience qui nous donne le son qui dure à travers ses phases successives, dans son écoulement concret. Pour le dire autrement, en considérant non plus la conscience constituant le son étendu temporellement, le son qui dure, mais ce dernier : aucune phase de ce son n’est séparée des autres, aucune phase « passée à l’instant » n’est possible sans la phase actuelle dont elle est le glissement immédiat au passé, aucune phase actuelle n’est donnée sans la phase « passée à l’instant » en laquelle elle se change immédiatement. De même en est-il pour les phases à venir qui se modifient constamment en phases actuelles et puis passées. Dès lors, si la conscience rétentionnelle ne nous donne jamais qu’une phase « passée à l’instant » et néanmoins tout entière passée, ne peut-on dire de la même façon : la conscience du maintenant donne la phase actuelle du son et ainsi la réalité de l’impression, l’impression présente dans sa présence effective ?

Deux difficultés insurmontables et d’ailleurs corrélatives surgissent ici. Au même titre que rétention et protention, la conscience du maintenant est une intentionnalité ; elle fait voir hors de soi, et si aucune impression n’advient dans un milieu d’extériorité pure, parce que la réalité de l’impression, et ainsi toute réalité impressionnelle, touche à soi en chaque point de son être et ne diffère jamais de soi, alors la conscience du maintenant se révèle tout aussi incapable de donner la réalité de l’impression, sa présence, son actualité, que ne le sont, de leur côté, rétention ou protention. C’est ce que montre le corrélat de cette conscience intentionnelle du maintenant, ce qu’elle donne précisément : ce flux temporel qui est tout entier écoulement et dans lequel il n’y a aucun point fixe, aucun maintenant à proprement parler. « Dans le flux et par principe ne peut apparaître aucun fragment de non-flux » (ibid., p. 152, souligné par Husserl).

Cette incapacité paradoxale de la conscience du maintenant de donner au présent ce qui précisément n’est en soi jamais présent mais toujours flux, passage, glissement constant, c’est ce que tente de camoufler l’idée de la synthèse continuelle par laquelle une conscience rétentionnelle se noue à cette conscience du maintenant, de sorte que la phase actuelle n’est donnée que glissant au passé et que ce qui est donné en fin de compte, c’est ce glissement au passé comme tel. Il est bien vrai que la phase « passée à l’instant » n’est concevable que comme la phase passée d’une phase qui vient d’être actuelle. Mais cette phase actuelle, qu’est-elle d’autre qu’une exigence logique dans la mesure où la conscience du maintenant est en réalité incapable de la donner ? Si en effet on considère le flux dans son ensemble comme ce glissement continu des phases impressionnelles, des phases sonores par exemple, dans le passé, alors il faut dire avec Husserl : le présent, « le maintenant n’est qu’une limite idéale » (ibid., p. 56). Prise entre des phases à venir et des phases passées qui sont les unes et les autres des irréalités, en lesquelles aucune sonorité réelle ne retentit, la phase présente où il n’y a rien de présent, qui s’effondre constamment dans le non-être du passé, n’est plus que le lieu de l’anéantissement ; réduite à une limite idéale entre des irréalités, elle-même doublement irréelle, elle se révèle incapable d’introduire dans l’audition du son qui dure la réalité d’une impression sonore effective, si brève soit-elle, sans laquelle aucune audition d’aucune sorte n’a jamais semblé possible.

Que dire enfin de l’intentionnalité qui donne le présent avec ce sens de donner le présent – de la conscience du maintenant ? N’est-elle pas elle-même – pour autant qu’elle échappe à la nuit de l’inconscient où aucune donation ne s’accomplit – une impression ? Saisie tout entière, au même titre que l’impression sonore, par l’écoulement, comment échapperait-elle plus que celle-ci à l’évanouissement universel ?

Husserl s’est demandé ce qui, dans le flux, échappe au flux. C’est, dit-il, « la forme du flux » (ibid., p. 152). La forme du flux est la synthèse des trois intentionnalités – protention, conscience du maintenant, rétention – qui constituent ensemble la structure a priori de tout « flux » possible. En elle s’opère le surgissement de l’extériorité, son extériorisation, le « hors de soi » qui est identiquement l’horizon tridimensionnel du temps et celui du monde : son apparaître. Seulement – au même titre que l’apparaître du monde dont elle n’est qu’un autre nom, et pour la même raison –, la forme du flux est vide, incapable de produire son contenu, ce flot d’impressions qui défilent à travers elle – à travers futur, présent et passé – mais sans puiser en elle leur réalité. Tout au contraire : pour autant qu’elles doivent d’apparaître aux intentionnalités qui composent la structure formelle du flux, toutes ces impressions sont également irréelles : les phases futures ou passées, qui ne sont encore ou déjà que du non-être ; la phase dite présente, qui n’est qu’une limite idéale entre deux abîmes de néant.

D’où vient donc l’impression, l’impression réelle, si ce n’est ni du futur ni du passé et encore moins d’un présent réduit à un point idéal ? Cette difficulté incontournable n’échappe pas à Husserl ; elle suscite dans le texte des Leçons un extraordinaire renversement : ce n’est plus la conscience du maintenant qui donne l’impression réelle, c’est l’impression réelle qui donne le maintenant. Telle est la déclaration massive aussi bien qu’imprévue : « […] un maintenant se constitue par une impression […] » (ibid., p. 152, souligné par nous). En voici deux autres formulations, tout aussi nettes : « À proprement parler l’instant présent lui-même doit être défini par la sensation originaire » ; « L’impression originaire a pour contenu ce que signifie le mot maintenant, pour autant qu’il est pris au sens le plus originaire » (ibid., p. 88). Ce n’est plus une intentionnalité, la conscience du maintenant, qui définit l’instant présent, c’est l’« impression originaire » qui contient la réalité du maintenant, ou « ce que signifie le mot maintenant pour autant qu’il est pris au sens le plus originaire ».

Loin d’être pensé jusqu’au bout, cependant, ce singulier échange des rôles entre la conscience du maintenant et l’impression fait l’objet d’un travestissement immédiat. La conscience intentionnelle du maintenant ne produit, on l’a vu, que l’idée du maintenant, la signification d’être là maintenant, d’être présent, la forme vide du maintenant et du présent, sans qu’il y ait encore rien de présent, aucun contenu réel dans le flux. A cette conscience vide, Husserl adjoint brusquement le contenu réel et concret qui lui manque : l’impression. D’où vient celle-ci ? En quoi consiste cette venue ? Quel est son apparaître ? Parce que ce dernier continue d’être pensé comme le « hors de soi » de la forme du flux, c’est à celle-ci qu’est demandé ce qu’elle est précisément incapable de fournir, cette impression réelle qui ne se montre jamais en elle. Alors s’opère dans le texte husserlien une série de glissements : de la forme vide du flux au constat d’un contenu censé se montrer en elle – de ce constat (en lui-même fallacieux) à l’idée que ce contenu étranger à la forme, extérieur à elle, ne lui est cependant pas extérieur, mais lui est lié, résulte d’elle de quelque manière, se trouve déterminé par elle – même si une telle détermination ne suffit pas à en rendre pleinement compte. Voici cette série d’équivoques : « Ce qui demeure avant toute chose, c’est la structure formelle du flux, la forme du flux […] mais […] la forme permanente est sans cesse remplie à nouveau par un “contenu”, mais le contenu n’est précisément rien d’introduit extérieurement dans la forme ; il est au contraire déterminé par la forme de la loi : à ceci près que cette forme ne détermine pas le concret à elle seule. La forme consiste en ceci, qu’un maintenant se constitue par une impression […] » (ibid., p. 152, souligné par nous). La forme vide étrangère à tout contenu, aussi incapable de le créer que de le rendre manifeste en sa réalité, devient par un coup de baguette magique son propre contenu, l’impression elle-même : elle la porte en elle, il lui appartient. Il n’y a plus lieu de questionner l’impression à partir d’autre chose que de la forme du flux – à partir d’elle-même et de sa venue, de son mode de révélation propre. Le préjugé grec se referme sur l’événement radical qui venait le briser.

Seulement, quand l’impression censée appartenir à la forme du flux vient en ce dernier, elle le fait dans une conscience intentionnelle de maintenant dont le propre est, en jetant cette impression hors de soi, de la détruire. Inutile de nouer à cette conscience du maintenant une rétention qui fait basculer toute réalité dans le non-être du passé : la conscience du maintenant s’en est déjà chargée. Car la venue de l’impression dans le flux de la conscience n’est en effet que cela : l’introduction en elle de l’écartement par lequel, séparée de soi, coupée en deux – comme l’enfant que s’arrachaient les deux femmes sous l’œil du roi Salomon, qui proposa de le couper en deux en effet et d’en remettre à chacune une moitié –, dé-faite donc, privée de sa jouissance intérieure qui la différencie à jamais de toutes les choses inertes, de toutes celles qui se donnent à nous dans l’apparaître du monde.

Conjurer l’effondrement ontologique de l’impression et, avec elle, de toute réalité et de toute présence effective, c’est à quoi s’efforce la description husserlienne en faisant renaître à chaque instant du flux la réalité qu’il anéantit sans coup férir. A l’endroit même où l’impression vient d’être mise à mort, écartelée dans le « hors de soi » de l’Ek-stase du temps, une nouvelle impression surgit, venue d’ailleurs mais aussitôt anéantie. D’où le caractère hallucinant du flux husserlien, ce jaillissement continu d’être sur l’abîme d’un néant qui s’ouvre constamment sous lui pour l’engloutir – le prétendu continuum de ce flux constamment brisé, sa réalité soi-disant homogène partie en éclats, en morceaux d’être et de non-être qui s’échangent dans une discontinuité à peine pensable. Le dernier texte cité se poursuit ainsi : « La forme consiste en ceci qu’un maintenant se constitue par une impression et qu’à celle-ci s’articulent une queue de rétentions et un horizon de protentions. Mais cette forme permanente [la forme du flux] porte la conscience de la mutation permanente qui est un fait originaire : la conscience de la mutation de l’impression en rétention, tandis qu’à nouveau continûment une impression est là » (ibid., souligné par nous). Le texte incohérent qui prétendait imputer à la forme vide du flux le contenu dont elle manque si cruellement – l’impression réelle qu’elle pousse immédiatement dans sa tombe – ne peut qu’offrir à notre admiration la résurrection aussi miraculeuse que permanente d’une impression toujours nouvelle et qui, toujours et à chaque instant, vient nous sauver du néant.

D’où vient-elle en effet, comment ? Comment se saisira-t-elle de nous, nous pressant contre elle pour faire de nous des vivants ?


Ver online : Philo-Sophia


[1HUSSERL, Edmund. Leçons pour une phénoménologie de la conscience intime du temps. Paris: PUF, 1964, p. 42.