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GA89 (2021:810) – objetificação da natureza
domingo 18 de fevereiro de 2024
Husserl definiu certa vez a ciência como um contexto de fundamentação de sentenças verdadeiras (Investigações lógicas 1900/1901) [1]. Um conteúdo “objetivo” da ciência natural é, por exemplo, a lei da queda livre. Essa lei é “objetiva” no sentido de que ela seria independente do ser humano? A ligação dessa ciência com o ser-humano não consiste apenas no fato de que ela é realizada pelo ser humano, mas o ser humano toma parte aí necessariamente de tal maneira que ele precisa fazer uma suposição, uma ficção. O que produz, então, uma tal suposição? Por meio dela, a região de objetos, que se chama natureza, é caracterizada na física clássica por meio do contexto de movimento uniformemente retilíneo de pontos dotados de massa. O que acontece por meio daí com a natureza? Ela é re-presentada com vistas à sua consonância a leis. Por meio dai, ela se torna pela primeira vez objeto para a calculabilidade e para a previsibilidade de todos os processos. A suposição assim levada a termo não é outra coisa senão o ato fundamental da objetificação da natureza. Em termo de história da língua, a palavra “contraposto” (Gegenwand) é a tradução para “objeto”. Logo que eu digo objeto, porém, também está coposicionada a ligação com um sujeito. Objeto é algo que se encontra contraposto para a experiência do sujeito. Esse é um conceito completamente determinado de contraposto.
[HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Organizado por Peter Trawny . Traduzido por Marco Casanova . Rio de Janeiro: Via Verita, 2021]
Ver online : Zollikoner Seminare [GA89]
[1] Husserl, Edmund. Investigações lógicas. Volume 1: Prolegômenos à lógica pura. Editora Max Niemcyer: 3/ Halle an der Saale, 1922, pp. 12-17