Casanova
Kant faz com que o problema relativo à possibilidade da ontologia remonte à questão: “como são possíveis juízos sintéticos a priori?”. A interpretação dessa formulação do problema fornece a explicação para que a fundamentação da metafísica seja levada a cabo como uma crítica da razão pura. A pergunta acerca da possibilidade do conhecimento ontológico exige uma caracterização prévia desse conhecimento. Kant capta nesta formulação, em sintonia com a tradição, o conhecer como julgar. Que tipo de conhecimento se encontra no compreender ontológico? Aí é o ente que é conhecido. Todavia, o que é conhecido pertence ao ente, como quer que ele venha a ser experimentado e determinado. Este “ser-o-quê” do ente que é conhecido é aduzido a priori no conhecimento ontológico antes de toda experiência ôntica, apesar de precisamente para ela. Um conhecimento que traz consigo o teor quiditativo do ente ou que desvela o próprio ente é denominado por Kant “sintético”. Assim, a pergunta acerca da possibilidade do conhecimento ontológico torna-se o problema da essência dos juízos sintéticos a priori.
A instância de fundamentação da legitimidade destes juízos dotados de conteúdo sobre o ser do ente não pode residir na experiência; pois a experiência do ente já é sempre ela mesma conduzida pela compreensão ontológica do ente que, numa determinada [31] perspectiva, deve ser acessível através da experiência. Conhecimento ontológico é, por conseguinte, um julgar segundo fundamentos (princípios) que não podem ser aduzidos conforme a experiência.
Pois bem, Kant chama de “razão pura” nossa faculdade de conhecer a priori a partir de princípios. Razão pura é “aquela razão que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori”. Na medida em que, por conseguinte, os princípios contidos na razão constituem a possibilidade de um conhecimento apriorístico, o desvelamento da possibilidade do conhecimento ontológico tem de se tornar uma clarificação da essência da razão pura. A demarcação da essência da razão pura, porém, é ao mesmo tempo a determinação distintiva da sua não-essência e, com isso, a demarcação e restrição (crítica) às suas possibilidades essenciais. Fundamentação da metafísica enquanto desvelamento da essência da ontologia é “crítica da razão pura”.
E “em virtude do” conhecimento ontológico, isto é, da “síntese” apriorística, “que toda a crítica propriamente existe”. Tanto mais urgente já se torna, junto à constatação do problema diretriz desta fundamentação da metafísica, a determinação mais próxima dessa síntese. Não é apenas em geral que Kant emprega essa expressão com múltiplas significações21, mas é precisamente na formulação do problema da fundamentação da metafísica que essas significações se misturam. A questão encaminha-se para a possibilidade dos juízos sintéticos a priori. Pois bem, todo juízo enquanto tal é já um “eu ligo”: a saber, sujeito e predicado. Enquanto juízos, os juízos “analíticos” também já são sintéticos, ainda que o fundamento da consonância da ligação-sujeito-predicado resida simplesmente na representação subjetiva. Os juízos sintéticos, contudo, são então sintéticos num duplo sentido: em primeiro lugar, como juízos em geral, e, em segundo lugar, na medida em que a legitimidade da “ligação” (síntese) da representação é “aduzida” (síntese) a partir do próprio ente sobre o qual se julga.
Roth
Kant reduce el problema de la posibilidad de la ontología a la pregunta: «¿Cómo son posibles los juicios sintéticos a priori?». La interpretación del problema así formulado explica el porqué la fundamentación de la metafísica se realiza en forma de Crítica de la razón pura. La pregunta acerca de la posibilidad del conocimiento ontológico exige una caracterización previa del mismo. Siguiendo la tradición, Kant , en esta fórmula, concibe el conocer como juzgar. ¿Qué clase de conocimiento se encuentra en el comprender ontológico? Se conoce, en él, al ente. Pero lo que así se conoce —cualquiera que fuera el modo de percibirlo y determinarlo— pertenece al ente. Este «qué-es» conocido referente al ente es aportado a priori por el conocimiento ontológico, antes de toda experiencia óntica, aunque debe servir precisamente a ésta. Kant llama «sintético» al conocimiento que aporta el «qué-es» del ente, es decir, que revela al ente mismo. De esta suerte, la pregunta acerca de la posibilidad del conocimiento ontológico se convierte en el problema de la esencia de los juicios sintéticos a priori.
La instancia que puede legitimar estos juicios preñados de contenido quiditativo sobre el ser del ente no puede encontrarse en la experiencia misma; pues la experiencia del ente se guía siempre a su vez por una comprensión ontológica del ente que se hará accesible mediante la experiencia según un «dirigir la vista» determinado. Conocimiento ontológico equivale, por ende, a juzgar según bases no empíricas (principios).
Kant llama «razón pura» a esta nuestra facultad de conocer a partir de los principios a priori. «Razón pura es la facultad que encierra los principios del conocimiento a priori». En tanto que estos principios encerrados en la razón representen la posibilidad de un conocimiento a priori, la revelación de la posibilidad del conocimiento ontológico debe conducir, por tanto, a una explicitación de la esencia de la razón pura. La delimitación de la esencia de la razón pura representa al mismo tiempo un criterio para determinar lo que es su no-esencia, así como también la limitación y restricción (crítica) de sus posibilidades esenciales. La fundamentación de la metafísica como revelación de la esencia de la ontología es una Crítica de la razón pura.
El conocimiento ontológico, es decir, la «síntesis» a priori, es aquello para lo cual «propiamente está hecha toda la crítica». Urge por eso una definición más exacta de esta síntesis, tan pronto como se fije el problema que debe guiar esa fundamentación de la metafísica. Kant hace uso frecuente de esta expresión, dándole significados diversos; es más, estos significados van entremezclándose, especialmente al formularse el problema de la fundamentación de la metafísica. La pregunta tiende a la posibilidad de los juicios sintéticos a priori. Ahora bien, todo juicio como tal representa ya un «yo enlazo», a saber, el sujeto con el predicado. En cuanto juicios, los juicios «analíticos» son también sintéticos, aunque la razón de la concordancia del enlace sujeto-predicado resida simplemente en la representación del sujeto. Así, los juicios sintéticos son «sintéticos» en un doble sentido: primero, en cuanto son simplemente juicios; segundo, en cuanto que la legitimidad del «enlace» de las representaciones (síntesis) viene a ser un aporte (síntesis) del ente mismo, acerca del que se ha emitido un juicio.