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IDENTIDADE E DIFERENÇA

GA11:37-40 – co-pertencimento homem e ser

O PRINCÍPIO DA IDENTIDADE

quarta-feira 18 de dezembro de 2019, por Cardoso de Castro

Stein

A mesmidade de pensar e ser, que fala na proposição de Parmênides [1], vem de mais longe que a da identidade metafísica que emerge do ser e é determinada como um traço dele.

A palavra-guia, na proposição de Parmênides, tò autó, o mesmo, permanece obscura. Deixamo-la assim. Aceitamos, porém, o aceno da proposição em que a palavra-guia forma o início.

Entretanto, já fixamos a mesmidade de pensar e ser como o comum-pertencer de ambos. Isto foi apressado, talvez mesmo forçado. Devemos fazer reverter isto que foi resultado da pressa. Disso também somos capazes, na medida em que não tomamos como definitivo o mencionado comum-pertencer e não o arvoramos em explicação definitiva e decisiva da mesmidade de pensar e ser.

Se pensamos o comum-pertencer como de costume, então, como já mostra a ênfase dada à primeira parte da expressão, o sentido do pertencer é determinado a partir da comunidade, quer dizer, a partir de sua unidade. Neste caso, "pertencer" significa: integrado, inserido na ordem de uma comunidade, instalado na unidade de algo múltiplo, reunido para a unidade do sistema, mediado pelo centro unificador de uma adequada síntese. A filosofia representa este comum-pertencer como nexus e connexio, como a necessária junção de um com o outro.

Entretanto, o comum-pertencer pode também ser pensado como comum-pertencer. Isto quer dizer: a comunidade é agora determinada a partir do pertencer. Neste caso, então, sem dúvida, permanece aberta a questão do significado de "pertencer" e como somente a partir dele se determina a comunidade que lhe é própria. A resposta a esta questão está mais próxima do que pensamos, sem que, no entanto seja óbvia. É suficiente agora que esta indicação nos faça notar a possibilidade de não mais representar o pertencer a partir da unidade da comunidade, mas de experimentar esta comunidade a partir do pertencer. Mas esta indicação não se esgota num vazio jogo de palavras que algo inventa, a que falta qualquer apoio num estado de coisas verificável.

Assim realmente parece, até que concentramos o olhar e deixamos falar as coisas. O pensamento em um comum-pertencer no sentido de comum-pertencer surge da consideração de um estado de coisas, que já foi mencionado. É, evidentemente, difícil concentrar-se nele, por causa de sua simplicidade. Podemos, entretanto, ver este estado de coisas mais de perto, se atentarmos para o seguinte: na elucidação do comum-pertencer como comum-pertencer, já tínhamos, seguido o aceno de Parmênides, em mente tanto pensar como ser, portanto, aquilo que reciprocamente se pertence no seio do mesmo.

Se compreendermos o pensar como a característica do homem, então refletimos sobre um comum-pertencer que se refere a homem e ser. No mesmo instante nos surge a questão: que significa ser? Quem ou o que é o homem? Qualquer um vê facilmente que, sem a suficiente resposta a estas perguntas falta-nos o chão em que possamos decidir algo seguro sobre o comum-pertencer de homem e ser. Contudo, enquanto questionarmos desta maneira ficamos presos à tentativa de representar a comunidade de homem e ser como uma integração e de dispor esta ou a partir do homem ou a partir do ser e assim explicitá-la. Nisto os conceitos tradicionais de homem e ser formam os pontos de apoio para a integração de ambos.

E que seria se nós, em vez de continuamente representarmos uma coordenação de ambos, para refazer sua unidade, prestássemos uma vez atenção se e como nesta comunidade está, antes de tudo, em jogo um recíproco-pertencer? Existe até a possibilidade de entrever, ainda que a distância, o comum-pertencer de homem e ser já na determinação tradicional de sua essência. Até que ponto?

O homem é manifestamente um ente. Como tal, faz parte da totalidade do ser, como a pedra, a árvore e a águia. Pertencer significa aqui ainda: inserido no ser. Mas o elemento distintivo do homem consiste no fato de que ele, enquanto ser pensante, aberto para o ser, está posto em face dele, permanece relacionado com o ser e assim lhe corresponde. O homem é propriamente esta relação de correspondência, e é somente isto. "Somente" não significa limitação, mas uma plenitude. No homem impera um pertencer ao ser; este pertencer escuta ao ser, porque a ele está entregue como propriedade. E o ser? Pensemos o ser em seu sentido primordial como presentar. O ser se presenta ao homem, nem acidentalmente nem por exceção. Ser somente é e permanece enquanto aborda o homem pelo apelo. Pois somente o homem, aberto para o ser, propicia-lhe o advento enquanto presentar. Tal presentar necessita o aberto de uma clareira e permanece assim, por esta necessidade, entregue ao ser humano, como propriedade. Isto não significa absolutamente que o ser é primeira e unicamente posto pelo homem. Pelo contrário, torna-se claro.

Homem e ser estão entregues reciprocamente um ao outro como propriedade. Pertencem um ao outro. Deste pertencer-se reciprocamente homem e ser receberam, antes de tudo, aquelas determinações de sua essência, nas quais foram compreendidas metafisicamente pela filosofia.

Este preponderante comum-pertencer de homem e ser é por nós teimosamente ignorado enquanto tudo representarmos em sequências e mediações, seja com ou sem dialética. Então encontramos apenas encadeamentos que ou são urdidos por iniciativa do ser ou do homem e apresentam o comum-pertencer de homem e ser como entrelaçamento. [HEIDEGGER, Martin. Martin Heidegger – Conferências e Escritos Filosóficos. Tradução e notas Ernildo Stein  . São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999, p. 175-177]

Préau

L’identité de la pensée et de l’être, qui parle dans la sentence de Parménide, nous arrive de plus loin que l’identité définie par la métaphysique à partir de l’être et comme un trait de l’être.

Le terme directeur de la sentence de Parménide, τὸ αὑτό, le même, demeure obscur. Laissons-lui son obscurité. Mais demandons en même temps un signe, une indication, à la phrase dont il est le premier terme.

Dans l’intervalle nous avons arrêté le sens de l’identité de la pensée et de l’être en la définissant comme coappartenance de l’une et de l’autre. Ce qui était prématuré, mais peut-être inévitable. Il nous faut maintenant retirer à cette définition son caractère prématuré. Aussi bien le pouvons-nous, si nous nous abstenons de considérer ladite coappartenance comme l’interprétation définitive, faisant seule autorité, de l’identité de la pensée et de l’être.

Si nous comprenons la coappartenance en cédant à nos habitudes de pensée, alors – comme le suggère déjà l’accentuation du mot allemand [2] – le sens de l’appartenance se détermine à partir du co-, c’est-à-dire de l’unité qu’il implique. Dans ce cas « appartenance » équivaut à : être assigné à l’ordre d’un ensemble et mis à sa place en cet ordre, intégré dans l’unité d’une diversité, rassemblé en l’unité d’un système, bénéficier de la médiation du centre unifiant d’une synthèse déterminante. La philosophie présente cette coappartenance comme nexus et connexio, comme le lien nécessaire qui rattache un terme à un autre.

La coappartenance, toutefois, peut être aussi pensée comme coappartenance : on part alors de l’appartenance pour déterminer le « co- ». Sans doute faudrait-il demander ici ce que l’ « appartenance » veut dire et comment il se fait que ce soit seulement à partir d’elle que le « co- » qui lui est propre se laisse déterminer. La réponse à ces questions est plus proche de nous que nous ne le pensons, mais elle n’est pas sous notre main. Qu’il nous suffise d’entrevoir, grâce à cette indication, la possibilité d’appréhender le « co- » en partant de l’appartenance, au lieu de nous représenter l’appartenance à partir de l’unité du « co- ». Seulement, attirer l’attention sur cette possibilité, est-ce là plus qu’un jeu de mots futile, artificiel et qui ne s’appuie sur aucune donnée vérifiable?

Sans doute. Telle est du moins l’apparence, aussi longtemps que nous n’y regardons pas de plus près et que nous ne laissons pas les choses parler d’elles-mêmes.

Penser la coappartenance comme coappartenance, c’est là se laisser conduire par la considération d’un état de choses dont nous avons déjà parlé. A vrai dire, il est difficile de maintenir sous le regard cet état de choses, vu sa simplicité. Mais il nous devient aussitôt plus proche, si nous observons qu’en interprétant la coappartenance comme coappartenance, nous pensions déjà, suivant l’indication de Parménide, aussi bien à la pensée qu’à l’être, donc à cc qui s’appartient l’un à l’autre dans le même.

Si nous considérons la pensée comme le privilège de l’homme, nous sommes tournés vers une coappartenance qui concerne l’homme et l’être. Alors, en un clin d’œil, nous nous trouvons assaillis de questions : Que veut dire être? Qui est l’homme? ou : Qu’est-il? Il est facile de voir que, faute d’une réponse satisfaisante à ces questions, tout terrain nous manque sur lequel nous pourrions fonder quelque certitude touchant la coappartenance de l’homme et de l’être. Mais, aussi longtemps que nous questionnons de cette manière, nous persistons à vouloir nous représenter le « co- », la conjonction de l’homme et de l’être, comme un rattachement [Zuordnung] et à vouloir constituer et expliquer ce rattachement en partant, soit de l’homme, soit de l’être. Les notions traditionnelles de l’homme et de l’être fournissent alors les points d’appui servant au rattachement de l’un à l’autre.

Mais, au lieu de persister à nous représenter une coordination [Zusammenordnung] de l’homme et de l’être comme la source de leur unité, pourquoi ne pas faire une fois attention à ceci : avant tout, dans leur conjonction [In diesem Zusammen], une appartenance n’est-elle pas en jeu, et comment? Eh bien! cette coappartenance de l’homme et de l’être peut déjà être aperçue, quoique de loin seulement, dans les définitions traditionnelles de leur essence. Comment cela?

L’homme est manifestement un étant. Comme tel, ainsi que la pierre, l’arbre, l’aigle, il a sa place dans le tout de l’être. Ici encore, « avoir sa place » veut dire : être intégré dans l’ordonnance de l’être. Or, le trait distinctif de l’homme, c’est qu’en sa qualité d’être pensant il est ouvert à l’être, placé devant lui, qu’il demeure rapporté à l’être et qu’ainsi il lui correspond. L’homme est proprement ce rapport de correspondance, et il n’est que cela. « Que cela » : ces mots n’indiquent pas une restriction, mais bien une surabondance. Ce qui domine en l’homme, c’est une appartenance à l’être, et cette appartenance (Gehören) est aux écoutes (hört auf…) de l’être, parce qu’elle lui est transpropriée.

Et l’être? Pensons l’être en son sens initial, comme présence. L’être est présent à l’homme d’une façon qui n’est ni occasionnelle, ni exceptionnelle. L’être n’est et ne dure que parlant à l’homme et allant ainsi vers lui. Car c’est l’homme qui, ouvert à l’être, laisse d’abord celui-ci venir à lui comme présence. Pareille approche, pareille présence a besoin de l’espace libre d’une éclaircie et ainsi, par ce besoin même, demeure transpropriée à l’être de l’homme. Ce qui ne veut aucunement dire que l’être soit posé d’abord par l’homme et par lui seul. En revanche on voit clairement que l’homme et l’être sont transpropriés l’un à l’autre. Ils s’appartiennent l’un à l’autre. Cette appartenance mutuelle n’a jamais été considérée d’un peu près et pourtant c’est d’elle en tout premier lieu que l’homme et l’être tiennent les déterminations essentielles par lesquelles la philosophie les a interprétés en mode métaphysique.

Cette coappartenance qui prédomine en l’homme et en l’être, nous la méconnaissons obstinément, aussi longtemps que nous nous représentons toutes choses, avec ou sans dialectique, simplement sous les aspects de l’ordre et de la médiation. Ainsi nous ne découvrons jamais rien d’autre que des connexions, qui sont nouées à partir de l’être ou à partir de l’homme et qui font apparaître la coappartenance de l’homme et de l’être comme un entrecroisement de relations. [HEIDEGGER, Martin. Questions I-II. Paris: Gallimard, 1968, p. 262-266)


Ver online : IDENTITY AND DIFFERENCE


[1VIDE: Fragmento 3 e Fragmento 8.

[2Zusammengehörigkeit, accentué sur zusammen (« co- »).