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Dreyfus (1991:5) – cognitivismo
sexta-feira 21 de julho de 2017
Representação Mental. Ao pressuposto clássico de que as crenças e os desejos fundamentam e explicam o comportamento humano, Descartes acrescenta que, para que possamos perceber, agir e, em geral, nos relacionar com os objetos, deve haver algum conteúdo em nossa mente — alguma representação interna — que nos permita direcionar nossa mente para cada objeto. Esse “conteúdo intencional” da consciência foi investigado na primeira metade deste século por Husserl [1] e, mais recentemente, por John Searle. [2]
Heidegger questiona a visão de que a experiência é sempre e basicamente uma relação entre um sujeito autônomo com conteúdo mental (o interno) e um objeto independente (o externo). Heidegger não nega que, às vezes, experimentamos a nós mesmos como sujeitos conscientes que se relacionam com objetos por meio de estados intencionais, como desejos, crenças, percepções, intenções etc., mas ele pensa nisso como uma condição derivada e intermitente que pressupõe uma maneira mais fundamental de estar no mundo que não pode ser entendida em termos de sujeito/objeto.
O cognitivismo, ou o modelo de processamento de informações da mente, é a versão mais recente e mais forte da ideia de representação mental. Ele introduz a ideia de representações formais e, portanto, procura explicar a atividade humana em termos de uma combinação complexa de símbolos logicamente independentes que representam elementos, atributos ou primitivos no mundo. Essa abordagem é a base da análise de decisão, da gramática transformacional, da antropologia funcional e da psicologia cognitiva, bem como da crença na possibilidade de programar computadores digitais para exibir inteligência. A visão de Heidegger sobre a natureza não representável e não formalizável do ser-no-mundo questiona duplamente esse modelo computacional da mente.
[DREYFUS , Hubert L. Being-in-the-World: A Commentary on Heidegger’s Being and Time , Division I. Massachussets: The MIT Press, 1991]
Ver online : Hubert Dreyfus
[1] Edmund Husserl, Ideas Pertaining to a Pure Phenomenology and to a Phenomenological Philosophy (The Hague: Nijhoff, 1982).
[2] John Searle, Intentionality: An Essay in the Philosophy of Mind (Cambridge: Cambridge University Press, 1983). For a comparison of Husserl’s and Searle’s account of intentionality, see Hubert L. Dreyfus, ed., Husserl, Intentionality, and Cognitive Science (Cambridge: Bradford Books/MIT Press, 1982).