Os poemas épicos de Homero trouxeram à tona uma noção de arete, ou excelência na vida, que estava no centro da compreensão grega do ser humano. Muitos admiradores da cultura grega tentaram definir essa noção, mas para ter sucesso aqui é preciso evitar duas tentações importantes. Há a tentação de ser condescendente, que já mencionamos. Mas há também a tentação de ler uma sensibilidade moderna na época de Homero. Uma tradução padrão da palavra grega arete como “virtude” corre o risco desse (…)
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Dreyfus / Hubert Dreyfus
Hubert Dreyfus (1929-2017)
Obra na Internet: Internet Archive; Library Genesis
DREYFUS, Hubert. Being-in-the-World. A Commentary on Heidegger’s Being and Time , Division I. Cambridge: MIT Press, 1991 / Ser-en-el-mundo. Tr. Francisco Huneeus y Héctor Orrego. Santiago de Chile: Editorial Cuatro Vientos, 2003.
DREYFUS, Hubert L. Background practices: essays on the understanding of being. First edition ed. Oxford ; New York: Oxford University Press, 2017.
Matérias
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Dreyfus & Kelly (2011:61-63) – arete (excelência) e os deuses homéricos
3 de novembro, por Cardoso de Castro -
Dreyfus & Kelly (2011:62-64) – gratidão
3 de novembro, por Cardoso de CastroOs deuses são essenciais para a compreensão grega homérica do que é ser um ser humano. Como Peisistratus — o filho do velho e sábio Nestor — diz no início da Odisseia: “Todos os homens precisam dos deuses.” Os gregos estavam profundamente conscientes das maneiras pelas quais nossos sucessos e fracassos — na verdade, nossas próprias ações — nunca estão completamente sob nosso controle. Eles eram constantemente sensíveis, maravilhados e gratos por aquelas ações que não se pode realizar por (…)
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Dreyfus & Kelly (2011:72-74) – respeito aos deuses e sacrifícios
3 de novembro, por Cardoso de CastroNO MUNDO DE HOMERO, a falta de gratidão é um dos sinais mais seguros de que um personagem é deficiente. Já vimos que Homero explica a morte de Ajax em termos de sua autossatisfação e falta de gratidão, mas esse tema retorna várias vezes nas obras homéricas. Talvez o exemplo mais importante seja encontrado no comportamento dos pretendentes de Penélope.
Enquanto Odisseu está longe de casa, vários príncipes itacenses estão determinados a se casar com sua esposa Penélope e, assim, tomar posse (…) -
Dreyfus & Kelly (2011:82-84) – deixar-se sintonizar pelos deuses
3 de novembro, por Cardoso de CastroOS GREGOS HOMÉRICOS estavam abertos para o mundo de uma forma que mal conseguimos compreender. Com toda a nossa habilidade moderna de introspecção de nossos estados internos, tendemos a pensar que as melhores atividades humanas são aquelas que são pensadas internamente, completamente e bem. Tendemos até mesmo a pensar em nossos estados de espírito como experiências privadas, internas, às quais os outros não têm acesso. Os gregos, por outro lado, se sentiam como cabeças vazias voltadas para (…)
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Dreyfus & Kelly (2011:74-76) – daquilo a ser admirado e grato
3 de novembro, por Cardoso de CastroO FENÔMENO DA GRATIDÃO e a admiração formam o pano de fundo de toda a compreensão de Homero sobre a existência humana: Homero encontra coisas pelas quais se maravilhar e ser grato que nossas teorias modernas quase sempre encobrem. Veja um dos exemplos mais simples: o sono. Na Ilíada, o próprio Sono é um deus — pelo menos uma vez é mencionado como o “senhor de todos os deuses e de todos os homens” (Hom. Il. 14.230ss). Na Odisseia, entretanto, como vimos, o sono é principalmente um poder que (…)
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Dreyfus & Taylor (2015:34-37) – coisas, correlatos do envolvimento preocupante
3 de novembro, por Cardoso de Castro[…] Em Sein und Zeit, Heidegger argumenta que as coisas são reveladas primeiramente como parte de um mundo, ou seja, como correlatos do envolvimento preocupante, e dentro de um todo de tais envolvimentos. Isso desmascara certas características básicas da imagem desvinculada. Primeiro, seguindo Kant, o atomismo da entrada é negado pela noção de um todo de envolvimentos. Mas isso também anula outra característica básica da imagem clássica: que a entrada primária é neutra e somente em um (…)
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Dreyfus & Kelly (2011:77-81) – não somos a única fonte agente das ações
3 de novembro, por Cardoso de CastroNÃO É PRECISO acreditar que os deuses gregos realmente existem para obter algo profundo e importante do senso de sagrado de Homero. No entanto, é preciso rejeitar a ideia moderna de que ser um agente humano é ser a única fonte de suas ações. Como essa noção moderna de agência humana é tão difundida, ela pode nos levar a agir de maneiras que escondem os fenômenos aos quais Homero era sensível. Para ver isso, vamos explorar brevemente a visão moderna.
É natural e intuitivo para nós — de (…) -
Dreyfus & Taylor (2015:1-4) – sujeito-objeto
16 de dezembro de 2019, por Cardoso de CastroNossa tradução
“UMA IMAGEM NOS MANTÉM CATIVOS” (Ein Bild hielt uns gefangen). É o que Wittgenstein fala no parágrafo 115 das Investigações Filosóficas. O que ele se refere é a poderosa imagem da mente-no-mundo que habita e subjaz ao que poderíamos chamar de moderna tradição epistemológica, que começa com Descartes. O ponto que ele quer transmitir com o uso da palavra “imagem” (Bild) é que há algo aqui diferente e mais profundo do que uma teoria. É um entendimento de fundo amplamente não (…) -
Malpas (2006:67-68, 77-78) – ser-em
2 de outubro, por Cardoso de CastroSer e Tempo [SZ] contém muitos elementos da análise preliminar que já encontramos em seu pensamento anterior. Ele começa com a questão do ser, mas rapidamente passa a demonstrar a maneira pela qual essa questão já está implicada com a questão do ser daquele modo de ser que é o ser-aí e com o caráter de seu ser como ser-no-mundo. De uma perspectiva topológica, é notável, no entanto, que a análise substantiva da divisão I de Ser e Tempo comece com o problema de como entender a noção de (…)
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Wrathall (2017:13-14) – pluralidade de mundos
19 de outubro, por Cardoso de Castro[…] Um mundo, na compreensão heideggeriana que informa o trabalho de Dreyfus, é
todo um contexto de equipamentos, papéis e práticas compartilhados com base nos quais se pode encontrar entidades e outras pessoas. Assim, por exemplo, um martelo é encontrado como um martelo no contexto de outros equipamentos, como pregos e madeira, e em termos de papéis sociais, como carpinteiro, faz-tudo e assim por diante. Além disso, cada conjunto local de ferramentas, as habilidades para usá-las e os (…) -
Wrathall (2017:4-7) – práticas
18 de outubro, por Cardoso de Castro[…] Vou começar com uma discussão sobre práticas em geral. Em expressões como “habilidades e práticas”, o uso da palavra “práticas” por Dreyfus pode soar pleonástico — como se a palavra “prática” fosse sinônima de “habilidade”. E, às vezes, ele usa as palavras de forma intercambiável. Mas há uma distinção a ser feita entre habilidades e práticas — uma distinção que Dreyfus geralmente respeita. Pode-se dizer que as habilidades nos permitem participar de uma prática com fluidez. Mas uma (…)
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Wrathall (2017:8-10) – O que é uma prática de fundo?
18 de outubro, por Cardoso de Castro[…] O que é, então, uma prática de fundo? De certa forma, todas as práticas formam uma espécie de pano de fundo para as ações, deixando de ser consideradas quando estamos envolvidos na ação. O jogador de futebol pode executar um passe em um jogo de futebol somente porque está participando da prática do futebol. Mas, enquanto executa o passe, ela não precisa ter nenhuma noção de que está agindo para perpetuar a prática do futebol. Normalmente, o que será importante para o jogador são os (…)
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Wrathall (2017:7-8) – dimensão social das práticas
18 de outubro, por Cardoso de CastroHá uma dimensão social inconfundível na maioria das práticas, se não em todas. Essa dimensão social talvez seja mais visível na linguagem e no vocabulário compartilhados que temos para falar sobre a prática. Uma parte importante da iniciação em uma prática consiste em aprender como se fala sobre as atividades que pertencem à prática. Porém, em um nível mais profundo, a dimensão social da prática é encontrada na forma como participar de uma prática é juntar-se a outras pessoas em um (…)
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Wrathall (2017:10-12) – o impessoal [das Man] e autenticidade
19 de outubro, por Cardoso de CastroUma vez que reconheçamos como as práticas de fundo desempenham um papel constitutivo na fundamentação de uma compreensão do ser, abrem-se várias questões importantes. Por exemplo, já vimos como as práticas de fundo são totalmente sociais. Nossa compreensão do mundo é articulada por essas práticas e, portanto, crescemos, em primeiro lugar, em uma forma compartilhada de compreender tudo. “Não dizemos o que vemos”, explica Heidegger sobre nossa experiência cotidiana imediata da palavra, “mas (…)
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Carol White: ser e o-que-é
16 de janeiro de 2020, por Cardoso de CastroDREYFUS, Hubert L. & WRATHALL, Mark A. (ed.). A Companion to Heidegger. Oxford: Blackwell Publishing, 2005, p. 123
nossa tradução
Metafísica é "o tipo de pensamento que pensa o-que-é como um todo em relação ao ser" (GA15:125). Ao contrário do insight manifestado em uma obra de arte como o templo, o pensamento metafísico articula a ordem do o-que-é em palavras. Heidegger acredita que os gregos antigos foram inspirados a pensar sobre o o-que-é como um todo, que manifesta um certo ser (…) -
Dreyfus (1991:2-3) – fenomenologia das habilidades
3 de novembro, por Cardoso de CastroHeidegger desenvolveu sua fenomenologia hermenêutica em oposição à fenomenologia transcendental de Husserl. Husserl reagiu a uma crise anterior nos fundamentos das ciências humanas argumentando que as ciências humanas fracassaram porque não levaram em conta a intencionalidade — a maneira como a mente individual é direcionada aos objetos em virtude de algum conteúdo mental que os representa. Ele desenvolveu uma descrição do homem como sendo essencialmente uma consciência com significados (…)
Notas
- Dreyfus & Kelly (2011:60-61) – a presença dos deuses
- Dreyfus & Kelly (2011:60-61) – deuses sintonizadores
- Dreyfus & Kelly (2011:60-61) – Fortuna e Tyche
- Dreyfus & Kelly (2011:77-78) – o fenômeno grego do verbo em "voz média"
- Dreyfus & Kelly (2011:81) – excelência
- Dreyfus & Kelly (2011:85-86) – beleza
- Dreyfus & Taylor (2015:18-19) – teoria do contato
- Dreyfus & Taylor (2015:23) – o particular no geral
- Dreyfus (1991:4) – explicitude
- Dreyfus (1991:5) – cognitivismo
- Dreyfus (1991:5-6) – holismo teorético
- Dreyfus (1991:6) – desprendimento e objetividade
- Dreyfus (1991:7) – individualismo metodológico
- Dreyfus (1991:7-8) – linguagem de Heidegger
- Dreyfus (1991:x) – Augenblick - piscar-de-olho
- Wrathall (2017:14-15) – niilismo
- Wrathall (2017:4-7) – práticas científicas