Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Léxico Grego > Agamben (2017:22-23) – obra (gr. ergon)

Agamben (2017:22-23) – obra (gr. ergon)

segunda-feira 27 de janeiro de 2020

Selvino Assmann

A essa altura aparece, quase entre parênteses, a definição do escravo como “ser cuja obra é o uso do corpo”:

Aqueles homens que diferem entre si assim como a alma com relação ao corpo e o homem com relação ao animal - e estão nessa condição aqueles cuja obra é o uso do corpo [oson esti ergon   he tou somatos   chresis] e isto é o melhor (que pode vir) deles —, estes por natureza são escravos, para os quais é melhor ser comandados com esse comando, conforme já foi dito. [1254b 17-20]

O problema sobre qual é o ergon, a obra e a função própria do homem, havia sido apresentado por Aristóteles em Ética a Nicômaco. Frente à pergunta se há algo parecido com uma obra do homem como tal (e não simplesmente do carpinteiro, do flautista ou do sapateiro) ou se o homem, pelo contrário, nasceu sem obra (argos), Aristóteles aqui afirma que “a obra do homem é o ser-em-obra da alma segundo o logos  ” (ergon anthropou psyches energeia   katà logon — 1098a 7). Por isso, é ainda mais singular a definição do escravo como aquele homem cuja obra consiste unicamente no uso do corpo. Que o escravo seja e continue sendo um homem está, para Aristóteles, fora de questão (anthropos   on, “mesmo sendo homem…” — 1254a 16). Contudo, isso significa que há homens cujo ergon não é propriamente humano ou é diferente daquele dos outros homens.

Platão já havia escrito que a obra de cada ser (quer se trate de um homem, de um cavalo, de qualquer outro ser vivo) é “aquilo que ele é o único a fazer ou faz de modo mais belo do que outros” (monon ti e kallista ton allon apergazetai — A República, 353a 10). Os escravos representam a emergência de uma dimensão do humano em que a obra melhor (“o melhor deles” — o beltiston de Política remete com verossimilhança ao kallista de A República) -não é o ser-em-obra (energeia) da alma segundo o logos, mas algo para que Aristóteles encontra outra denominação, o “uso do corpo”.

Nas duas fórmulas simétricas,

ergon anthropou psyches energeia katà logon e

ergon (doulou) he tou somatos chresis,

a obra do homem é o ser-em-ato da alma segundo o logos e

a obra do escravo é o uso do corpo,

energeia e chresis, ser-em-obra e uso, parecem justapor-se pontualmente, como psychè e soma, alma e corpo.

[AGAMBEN  , Giorgio. O Uso dos Corpos. São Paulo: Boitempo, 2017, p. 22-23]

Original

1.2. È a questo punto che compare, quasi in forma di una parentesi, la definizione dello schiavo come «l’essere la cui opera è l’uso del corpo»:

quegli uomini che differiscono fra loro come l’anima   dal corpo e l’uomo dalla bestia - e sono in questa condizione coloro la cui opera è l’uso del corpo [oson esti ergon he tou somatos chresis] e questo è il meglio (che può venire) da essi [ap’ auton beltiston] - questi sono per natura schiavi, per i quali è meglio essere comandati con questo comando, come sopra detto [1254b 17-20].

Il problema di quale sia l’ergon, l’opera e la funzione propria dell’uomo, era stato posto da Aristotele nell’Etica nicomachea. Alla domanda se vi sia qualcosa come un’opera dell’uomo come tale (e non semplicemente del falegname, dell’auleta o del calzolaio) o se l’uomo non sia invece nato senz’opera (argos), Aristotele aveva qui risposto affermando che «l’opera dell’uomo è l’essere-in-opera dell’anima secondo il logos» (ergon anthropou psyches energeia katà logon - 1098a 7). Tanto più singolare è, allora, la definizione dello schiavo come quell’uomo la cui opera consiste soltanto nell’uso del corpo. Che lo schiavo sia e resti un uomo è, per Aristotele, fuori questione (anthropos on, «pur essendo uomo» - 1254a 16). Ciò significa, tuttavia, che vi sono degli uomini il cui ergon non è propriamente umano o è diverso da quello degli altri uomini.

Già Platone aveva scritto che l’opera di ciascun essere (che si tratti di un uomo, di un cavallo o di qualsiasi altro vivente) è «ciò che egli è il solo a fare o fa in un modo più bello degli altri» (monon ti e kallista ton allon apergazetai - Resp., 353a 10). Gli schiavi rappresentano l’emergere di una dimensione dell’umano in cui l’opera migliore («il meglio di essi» - il beltiston della Politica richiama verisimilmente il kallista della Repubblica) - è non l’essere-in-opera (energeia) dell’anima secondo il logos, ma qualcosa per cui Aristotele non trova altra denominazione che «l’uso del corpo».

Nelle due formule simmetriche

ergon anthropou psyches energeia katà logon

ergon (doulou) he tou somatos chresis

l’opera dell’uomo è l’essere-in-atto dell’anima secondo il logos

l’opera dello schiavo è l’uso del corpo,

energeia e chresis, essere-in-opera e uso, sembrano giustapporsi puntualmente come psychè e soma, anima e corpo.


Ver online : Giorgio Agamben