Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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homem histórico

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

O pudor é o modo do aproximar-se e do permanecer perto do que há de mais distante enquanto tal, que, contudo, em seu aceno – quando ele é mantido no pudor – se transforma no que há de mais próximo e reúne todas as referências do seer em si. Todavia, quem consegue afinar essa tonalidade afetiva fundamental da retenção espantada e marcada pelo pudor no homem essencial? E quantos ainda mensurarão o fato de essa afinação não fundar nenhum desvio diante do ente, mas o contrário: a abertura de sua simplicidade e grandeza e a necessidade originariamente coagida de abrigar no ente a verdade do seer, a fim de dar assim ao HOMEM HISTÓRICO ainda uma vez uma finalidade: tornar-se fundador e o guardião da verdade do seer, ser o aí como o fundamento usado pela própria essência do seer: o cuidado, não como pequena preocupação em torno de algo qualquer e não como denegação do júbilo e da força, mas mais originário do que tudo isso, porque unicamente “em virtude do seer”, não do seer do homem, mas do seer do ente na totalidade. [tr. Casanova  ; GA65  : 5]

A fuga dos deuses precisa ser experimentada e suportada. Essa constância funda a proximidade mais distante possível do acontecimento apropriador. Esse acontecimento apropriador é a verdade do seer. Nessa verdade abre-se pela primeira vez a indigência do abandono do ser. A partir dessa indigência, a fundação da verdade do ser e a fundação do ser-aí se tornam necessárias. Essa necessidade realiza-se na decisão constante, que atravessa de maneira dominante todo ser humano histórico: quer o homem seja futuramente alguém pertencente à verdade do ser e, assim, alguém que abriga a partir dessa copertinência e para ela a verdade como verdadeiro no ente, ou quer o começo do último homem expulse o homem para o interior da animalidade dissimulada e permaneça recusado para o HOMEM HISTÓRICO o último deus. O que acontecerá se a luta pelos critérios de medida tiver se extinguido, se o mesmo querer não quiser mais nenhuma grandeza, isto é, não apresentar mais nenhuma vontade da maior diversidade dos caminhos? [tr. Casanova; GA65: 8]

1) Acontecimento apropriador: a luz segura da essenciação do seer no campo de visão extremo da mais íntima indigência do HOMEM HISTÓRICO. 2) O ser-aí: o entre aberto no meio e, assim, velador, entre a chegada e a fuga dos deuses e o homem nele enraizado. 3) O ser-aí tem a origem no acontecimento apropriador e em sua viragem. 4) Por isto, ele só pode ser fundado como a verdade e na verdade do seer. 5) A fundação – não recriação – é um deixar-ser-fundamento por parte do homem, que chega, com isto, pela primeira vez, uma vez mais a si e reconquista o ser-si-mesmo. 6) O fundamento fundado é ao mesmo tempo abismo para a abertura do fosso abissal do seer e não fundamento para o abandono do ser do ente. 7) A tonalidade afetiva fundamental da fundação é a retenção. 8) A retenção é a referência insigne, instantânea ao acontecimento apropriador no ser chamado por meio de seu conclamar. 9) O ser-aí é o acontecimento fundamental da história por vir. Esse acontecimento emerge do acontecimento apropriador e se torna um sítio instantâneo possível para a decisão sobre o homem – sua história ou não história como sua transição para o ocaso. 10) O acontecimento apropriador e o ser-aí estão em sua essência, isto é, em sua pertinência enquanto fundamento da história, ainda completamente velados e permanecerão por um longo tempo causando estranhamento. Faltam as pontes; os saltos ainda não foram levados a termo. Ainda permanece de fora a profundidade da experiência da verdade que lhes satisfazem e a meditação sobre o seu sentido: a força da decisão elevada. Em contrapartida, numerosas no caminho são apenas as ocasiões e os meios da má interpretação, porque falta mesmo o saber daquilo que aconteceu no primeiro início. [tr. Casanova; GA65: 11]

A ipseidade do homem – do HOMEM HISTÓRICO tanto quanto do povo – é um âmbito de acontecimento, no qual ele só se mostra a-propriado, se ele mesmo alcança o tempo-espaço aberto, no qual pode acontecer uma apropriação. [tr. Casanova; GA65: 19]

O que é concebido é aqui originariamente a “quintessência” e essa em primeiro lugar e sempre referida à conexão que acompanha a viragem em direção ao cerne do acontecimento apropriador. De início, o caráter paradigmático pode ser indicado por meio da ligação, que todo e qualquer conceito de ser enquanto conceito, isto é, em sua verdade, tem com o ser-aí e, com isto, com a insistência do HOMEM HISTÓRICO. Na medida, contudo, em que o ser-aí só se funda como pertencimento à conclamação na viragem do acontecimento apropriador, o mais íntimo da quintessência reside no conceito da própria viragem, naquele saber que, suportando a indigência do abandono do ser, se mantém na prontidão para a conclamação; naquele saber que fala, na medida em que antes silencia a partir da insistência suportadora no ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 27]

O salto é o re-saltar da prontidão para o pertencimento ao acontecimento apropriador. Acometimento e permanência de fora da chegada e da fuga dos deuses, o acontecimento apropriador, não tem como ser imposto de maneira pensante, mas, muito ao contrário, é preciso prontificar por meio do pensamento o aberto que, como tempo-espaço (sítios instantâneos), torna acessível e constante a abertura do fosso abissal do seer no ser-aí. Só aparentemente é que o acontecimento apropriador é levado a termo pelos homens, em verdade o ser do homem acontece como histórico por meio da apropriação em meio ao acontecimento que exige de um modo ou de outro o ser-aí. O acometimento do seer, que é conferido ao HOMEM HISTÓRICO, nunca se anuncia para esse homem de maneira imediata, mas sim de maneira velada nos modos do abrigo da verdade. Mas o acometimento do seer, raro e esparso em si, emerge sempre da permanência de fora do seer, cujo ímpeto e tenacidade não é menor do que os do acometimento. [tr. Casanova; GA65: 120]

Ser-aí é o acontecimento da abertura do fosso abissal do centro de giro da viragem do acontecimento apropriador. Abertura do fosso abissal é acontecimento da apropriação, sobretudo e antes de tudo a abertura do fosso abissal e a partir dela a cada vez o HOMEM HISTÓRICO e a essenciação do ser, aproximação e distanciamento dos deuses. [tr. Casanova; GA65: 190]

O ser-aí não conduz para fora do ente e não evapora o ente em uma espiritualidade, mas, ao contrário, de acordo com a unicidade do seer, ele abre pela primeira vez a inquietude do ente, cuja “verdade” só se constitui na luta uma vez mais inicial de seu abrigo no que é criado pelo HOMEM HISTÓRICO. [tr. Casanova; GA65: 193]

Por que o ser-aí como o fundamento e o abismo do HOMEM HISTÓRICO? Por que não uma mudança imediata do homem e por que é que ele não deve permanecer como ele é? Como ele é, afinal? Isso se deixa fixar? A partir de onde? Que avaliação segundo que critérios de medida? [tr. Casanova; GA65: 194]

O aí “é” o homem apenas como HOMEM HISTÓRICO, isto é, fundador de história, que insiste no aí sob o modo do abrigo da verdade no ente. [tr. Casanova; GA65: 202]

Se, então, porém, o ser, apesar de desconhecido, empresta à essência da razão o fundamento e não é nada arbitrário, mas se ele mesmo em sua essenciação poderia re-quisitar o homem de maneira fundamental; e se o homem devesse reconquistar uma vez mais sua própria essência inteiramente desgastada e confusa em uma outra originariedade; e se essa conquista essencial precisasse mesmo consistir nisso, em ser requisitado pela essenciação do seer; e se o seer mesmo só pudesse fundar a verdade de sua essência em tal transformação do homem, que consegue ousar um pensar originário “do” seer, então anuncia-se a partir do homem um pensar modificado do ser. Agora, contudo, também fica imediatamente claro que essa determinação da filosofia a partir do homem nunca tem em vista “o” homem em si, mas antes o HOMEM HISTÓRICO, cuja história é, em verdade, velada para nós, mas é de qualquer modo corrente e urgente na re-presentação historiológica. [tr. Casanova; GA65: 259]

Caso a denominação do intuível conseguisse prestar aqui algum auxílio, seria preciso dizer do fogo que seu próprio forno se queima em um primeiro momento na dureza reunida de um sítio de sua chama, cuja labareda crescente se consome na claridade de sua luz e deixa arder aí o escuro de sua brasa, a fim de proteger como um fogareiro o meio do entre, que se torna para os deuses a morada indesejada, mas de qualquer modo necessária, assim como se torna para o homem o espaço livre da conservação daquilo que, de maneira terrena-mundana, preservando o verdadeiro, surge e perece nessa liberdade enquanto o ente. Somente se aquilo que o homem enquanto HOMEM HISTÓRICO denomina subsequentemente como ente se quebra junto ao seer, seer esse que é a urgência do deus, é que todo ente é retrojetado para o peso da essência que lhe cabe e, assim, chega a algo nomeável da linguagem e pertencente ao silenciamento, no qual o seer se subtrai a todo cálculo sob o ente e, não obstante, dissipa sua essência na fundação abissal da intimidade de deuses e mundo, de terra e homem. [tr. Casanova; GA65: 270]