Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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clareira para o encobrir-se

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

O seer como acontecimento apropriador – renúncia hesitante como (recusa). Maturidade: fruto e doação. O elemento nulo no seer e o impulso contrário; querelante (seer ou não-ser). O seer se essencia na verdade; CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. A verdade como essência do fundamento: fundamento – o em que fundado (não o de onde enquanto causa). O fundamento funda como a-bismo: a indigência como o aberto do encobrir-se (não o “vazio”, mas inesgotabilidade a-bissal). O a-bismo como o tempo-espaço. O tempo-espaço é o sítio instantâneo da contenda (seer ou não-ser). A contenda como a contenda de terra e mundo, porque a verdade do seer só é no abrigo e essa como o “entre” fundante no ente. Um contra o outro de terra e mundo. As vias e os modos do abrigo – o ente. [tr. Casanova  ; GA65  : 9]

Toda mediação e salvação tíbias não fazem outra coisa senão aprisionar o ente ainda mais no abandono do ser e transformar o esquecimento do ser na única forma da verdade, a saber, da não verdade do seer. Como é que o pressentimento poderia ganhar aí ainda o menor espaço possível, de tal modo que a recusa se mostrasse como o primeiro envio mais elevado do seer, sim, como a sua própria essenciação inicial. Esse envio acontece apropriadoramente como a retração, que vincula ao silêncio, no qual a verdade segundo sua essência chega novamente à decisão sobre se ela pode ser fundada como a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. Esse encobrir-se é o desencobrimento da recusa, o deixar pertencer ao elemento estranho de um outro início. [tr. Casanova; GA65: 123]

Como o não pertence à essência do seer (a maturidade como viragem no acontecimento apropriador; cf O último deus), o seer pertence ao não; isto é, o propriamente niilizante é o que é dotado de caráter de não e de modo algum o mero “nada”, tal como ele é representado por meio da negação representadora de algo; representação essa, com base na qual se pode, então, dizer: o nada não “é”. Mas o não-seer se essencia e o seer se essencia, o não-ser se essencia na inessência, o seer se essencia como dotado do caráter de não. Somente porque o seer se essencia com o caráter do não, ele tem como o seu outro o não-ser. Pois esse outro é o outro de si mesmo. Como se essenciando com o caráter do não, ele possibilita e impõe ao mesmo tempo a alteridade. De onde, porém, provém aqui a restrição mais extrema ao um e ao outro e, assim, o ou-ou? A partir da unicidade do seer obtém-se a unicidade do não que lhe pertence e, com isto, do outro. O um e o outro se impõem eles mesmo o ou-ou como algo primeiro. Em meio a esta diferenciação que parece ser maximamente universal e vazia, porém, é preciso saber que ela só é tal diferenciação para a interpretação da entidade como idea   (ser e pensar!): algo (qualquer e em geral) e o não-algo (o nada); o não também é igualmente, em termos representacionais, sem fundamento e vazio. Mas essa diferenciação, que parece ser maximamente universal e vazia, é a decisão mais única e mais plena, e, por isto, nunca pode ser pressuposta uma representação indeterminada de “seer”, de tal modo que haveria seer, sem autoilusão; ao contrário, o seer como acontecimento apropriador. O acontecimento apropriador como a renúncia hesitante e, aí, a maturidade do “tempo”, a potência do fruto e a grandeza da doação, mas na verdade enquanto CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. A maturidade é prenhe do “não” originário, amadurecimento como não sendo ainda doação, não mais as duas coisas na contravibração, ela mesma na hesitação fracassada e, assim, a fascinação no arrebatamento extasiante. Aqui pela primeira vez o niilizante que se essencia do seer enquanto acontecimento apropriador. [tr. Casanova; GA65: 146]

O quão abissal, porém, não precisa ser clareada a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE, para que a retração não apareça em primeiro plano como algo meramente nulo, mas vigore como a doação. [tr. Casanova; GA65: 168]

A questão é que já a meditação sobre o aí como a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE (o seer) precisa tornar possível pressentir o quão decisiva é a ligação do ser-aí com o ente na totalidade, porque o aí suporta a verdade do seer. Pensado nessa direção, o ser-aí, ele mesmo em nenhum lugar acomodável, é voltado para fora da ligação com o homem e se desentranha como o “entre”, que é desdobrado pelo próprio seer como o âmbito aberto do sobressair-se para o ente, âmbito esse no qual esse ente é recolocado sobre si mesmo. O aí é apropriado em meio ao acontecimento pelo próprio seer, e o homem acontece apropriadoramente como o guardião da verdade do seer na sequência, de tal modo que, assim, ele se revela pertencente ao ser-aí de uma maneira única e insigne. Logo que, porém, uma primeira indicação para o ser-aí tem sucesso, é preciso dar sequência ao essencial, o que se anuncia na seguinte indicação: no fato de que o ser-aí é apropriado em meio ao acontecimento pelo seer e de que o seer como o acontecimento apropriador mesmo forma o meio de todo pensar. [tr. Casanova; GA65: 175]

Por meio daí, a aletheia   é destacada de todo e qualquer ente, de modo tão decidido que, agora, a questão acerca de seu próprio seer, questão essa que se determina por meio dela mesma e a partir de sua essenciação, se torna incontornável. Mas a essenciação da verdade originária só pode ser experimentada, se esse em-meio-a clareado que funda a si mesmo e determina o tempo-espaço for ressaltado naquilo de que e para o que ele é clareira, a saber, para o encobrir-se. O encobrir-se, porém, aponta para a doutrina fundamental do primeiro início e de sua história (da metafísica enquanto tal). O encobrir-se é um caráter essencial do seer, e, com efeito, precisamente na medida em que o seer precisa da verdade e se apropria, assim, do ser-aí em meio ao acontecimento, se mostrando em si originariamente, com isso, como acontecimento apropriador. Agora, a essência da verdade se transformou originariamente no ser-aí, e agora a pergunta não tem qualquer sentido, se e como, por exemplo, o “pensar” (o “pensar” que pertence inicialmente e de modo derivado apenas à aletheia, homoiosis  ) poderia levar a cabo e assumir o “desvelamento”. Pois o pensar mesmo está agora entregue em sua possibilidade inteiramente à responsabilidade do em-meio-a clareado. Pois a essenciação do aí (da CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE) só pode ser determinada a partir dele mesmo, do mesmo modo que o ser-aí só chega até a fundação a partir da ligação clareadora do aí com o encobrir-se enquanto seer. Todavia, a partir do fundamento posteriormente visível, não é suficiente nenhuma “faculdade” do homem até aqui (animal racional). O ser-aí funda-se e essencia-se na suportabilidade afinada e criadora e, assim, se torna ele mesmo o fundamento e o fundador do homem, que agora é novamente colocado diante da questão sobre quem ele é, uma questão que interroga o homem de maneira mais originária como o guardião da tranquilidade do passar ao largo do último deus. [tr. Casanova; GA65: 207]

A partir da lembrança do início (da aletheia) tanto quanto a partir da meditação sobre o fundamento da possibilidade da correção (adaequatio  ), nós nos deparamos com o mesmo: a abertura do aberto. Com isto, é dada apenas uma primeira indicação da essência, que se determina de maneira mais essencial como CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. Mas já a abertura se mostra como bastante enigmática, abstraindo-se completamente do modo de sua essenciação. [tr. Casanova; GA65: 214]

Uma questão decisiva: a essenciação da verdade é fundada no ser-aí como CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE ou é a essenciação da verdade mesma o fundamento para o ser-aí ou as duas coisas são válidas? E o que significa aí a cada vez “fundamento”? Essas questões só podem ser decididas, se a verdade for concebida na essência indicada como verdade do seer e, com isso, a partir do acontecimento apropriador. O que significa isso: estar constantemente colocado em seu aberto diante do encobrir-se, da re-núncia, da hesitação? Retenção e, por isso, tonalidade afetiva fundamental: horror, retenção, pudor. Tal experiência “doada” apenas ao homem e quando e como. [tr. Casanova; GA65: 215]

A verdade: a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE (isto é, o acontecimento apropriador; renúncia hesitante como a maturidade, o fruto e a doação). A verdade, porém, não é simplesmente clareira, mas justamente CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. [tr. Casanova; GA65: 221]

A essência da verdade é a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. Essa essência íntima e querelante da verdade mostra que a verdade é originária e essencialmente a verdade do seer (acontecimento apropriador). Todavia, resta a questão de saber se experimentamos de maneira suficientemente essencial essa essência da verdade, se assumimos esse encobrir-se em toda e qualquer ligação com o ente, e, com isso, a renúncia hesitante, a cada vez à sua própria maneira como o acontecimento da apropriação, nos sobre-apropriando dela. Sobreapropriar-se apenas de tal modo que alcancemos, produzamos, criemos, protejamos e deixemos atuar o próprio ente respectivo segundo a ordem pertencente a ele, a fim de fundar, assim, a clareira, para que ela não se transforme no vazio, no qual tudo ocorre de maneira igualmente “compreensível” e controlável. [tr. Casanova; GA65: 225]

A CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE clareia-se no projeto. A jogada do projeto acontece como ser-aí, e o jogador dessa jogada é respectivamente aquele ser-si-mesmo, no qual o homem tem sua jurisdição. [tr. Casanova; GA65: 229]

1) Por que essa interpretação é historicamente essencial? Porque ainda se torna visível aqui em uma meditação levada a termo como é que ao mesmo tempo a aletheia suporta e conduz essencialmente a questão grega acerca do ón   e como é que precisamente por meio desse questionamento, do estabelecimento da idea, ela experimenta a sua derrocada. 2) Ao mesmo tempo, se mostra muito lá atrás: a derrocada não é a derrocada de algo instituído e mesmo de algo expressamente fundado. Nem uma coisa nem outra chegaram a ser realizadas no pensamento grego inicial; e isso apesar da sentença de Heráclito   sobre o polemos   e do poema de Parmênides  . E, contudo, a aletheia é essencial por toda parte no pensar e no poetar (tragédia e Píndaro  ). 3) Somente se isso for experimentado e exposto é que se tornará possível mostrar de que maneira, então, um resíduo e uma aparência da aletheia precisaram em certo sentido se manter, uma vez que mesmo a verdade como correção e precisamente ela precisa se abrigar em um já aberto (cf sobre a correção). Precisa estar aberto aquilo, pelo que o re-presentar se orienta (se retifica), e precisa estar aberto também aquilo ao que se deve atribuir a justeza (cf correção e relação sujeito-objeto; ser-aí e re-presentar). 4) Se considerarmos panoramicamente a história da aletheia a partir da alegoria da caverna, que tem uma posição chave tanto em relação ao que vem antes quanto em relação ao que vem depois, então é possível mensurar de maneira mediata o que significa erigir em primeiro lugar a verdade como aletheia de maneira pensante, desdobrá-la e fundamentá-la na essência. Que isso não apenas não aconteceu na metafísica até aqui e também no primeiro início, mas não podia acontecer. 5) A fundação essencial da verdade como desentranhamento da primeira reluzência na aletheia não é, então, simplesmente a assunção da palavra e de sua tradução adequada como “desvelamento”, mas importante é experimentar a essência da verdade como CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE. O encobrimento clareador precisa se fundar como ser-aí. O encobrir-se precisa ganhar o espaço do saber como essenciação do próprio seer enquanto acontecimento apropriador. A ligação mais íntima possível entre seer e ser-aí em sua viragem torna-se visível como aquilo que impõe a questão fundamental e obriga a ir além da questão diretriz, e, com isso, de toda metafísica; para além de fato em direção ao cerne da tempo-espacialidade do aí. 6) Como, porém, “a verdade” mesma e seu conceito, de acordo com uma longa história e com uma confusa tradição, para a qual muitas coisas confluíram, não se encontram mais em questão em nenhum modo de formulação claro e necessário, mesmo as interpretações da história do conceito de verdade tanto quanto as interpretações da alegoria da caverna se mostram em particular como precárias e dependentes daquilo que mesmo antes foi retirado do platonismo e da doutrina do juízo. Faltam as posições fundamentais para um projeto daquilo que é dito na alegoria da caverna e daquilo que se dá nesse dizer. Por isto, é necessário apresentar algum dia pela primeira vez uma interpretação coesa, proveniente da questão da verdade, da alegoria da caverna e tornar essa interpretação eficaz como uma introdução ao âmbito da questão da verdade e como uma condução à necessidade dessa questão, com todas as reservas que permanecem presas a tais tentativas imediatas; pois o fundamento e a perspectiva do projeto da interpretação e de seus passos permanecem pressupostos como não discutidos e aparecem como violentos e arbitrários. [tr. Casanova; GA65: 233]

Se a essência da verdade é: a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE do seer, então saber é: o manter-se nessa clareira do encobrimento e, com isso, a ligação fundamental com o encobrir-se do seer e com esse seer mesmo. Esse saber não é, então, nenhum mero tomar-por-verdadeiro de um verdadeiro qualquer ou de um verdadeiro insigne, mas originariamente: o manter-se na essência da verdade. Esse saber, o saber essencial, é, então, mais originário do que qualquer crença, que sempre se remete apenas a algo verdadeiro e, por isso, quando em geral quer sair da cegueira completa, precisa de qualquer modo necessariamente saber o que para ela significa verdadeiro e algo verdadeiro! [tr. Casanova; GA65: 237]

O abrigo não é a acomodação ulterior da verdade em si presente à vista no ente, abstraindo-se completamente do fato de que a verdade nunca se acha presente à vista. Abrigo pertence à essenciação da verdade. Essa não é essenciação, se ela nunca se essencia no abrigo. Se, por isso, indicativamente, a “essência” da verdade for denominada como a CLAREIRA PARA O ENCOBRIR-SE, então isso só acontece para desdobrar pela primeira vez a essenciação da verdade. A clareira precisa se fundar em seu aberto. Ela carece daquilo que ela obtém na abertura, e isso é a cada vez de maneira diversa um ente (coisa – utensílio – obra). Mas esse abrigo do aberto precisa ser ao mesmo tempo e de antemão de tal modo que a abertura se torna essente de tal maneira que, nela, o encobrir-se e, com isso, o seer se essencie. De acordo com isso, precisa ser possível – com o salto prévio correspondente no seer com certeza –, a partir do “ente”, encontrar o caminho até a essenciação da verdade e, por essa via, tornar visível o abrigo como pertencente à verdade. Onde é, porém, que esse caminho deve começar? Não precisamos conceber para tanto em primeiro lugar as referências atuais em relação ao ente, tal como nós nos encontramos aí, ou seja, não precisamos ter diante dos olhos algo extremamente corrente? E justamente isso é o mais difícil, uma vez que ele não é nunca realizável sem um abalo, o que significa: sem um tresloucamento da ligação fundamental com o seer mesmo e com a verdade. É preciso indicar em que verdade e como é que o ente se encontra respectivamente nela. Precisa se tornar claro como é que aqui mundo e terra se encontram em contenda e, com isso, como é que eles mesmos se desencobrem e se encobrem. Esse encobrir-se mais imediato, contudo, é apenas a aparência prévia do a-bismo e, com isso, da verdade do acontecimento apropriador. Mas a verdade só se essencia na clareira mais plena do mais distante encobrir-se sob o modo do abrigo segundo todos os caminhos e maneiras, que pertencem a esse abrigo, que suportam e conduzem historicamente a exposição jurisdicional do ser-aí e que constitui, assim, o ser do povo. [tr. Casanova; GA65: 243]