Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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abandono do seer

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Seynsverlassenheit

ABANDONO DO SEER é, no fundo, uma de-generescência do seer. A essência é perturbada e só ganha a verdade como correção da re-presentação – noein   – dianoein – idea  . O ente permanece o que se presenta, e propriamente ente é o constantemente presente e, assim, o que a tudo con-diciona, o in-condicionado, o ab-soluto, ens entium, Deus etc. Todavia, que acontecimento de que história é esse abandono? Há uma história do seer? E o quão raramente e quase nunca ela vem encoberta à luz? [tr. Casanova  ; GA65  : 55]

O ABANDONO DO SEER acontece para o ente e, em verdade, para o ente na totalidade e, com isso, também e precisamente para aquele ente, que se encontra enquanto homem em meio ao ente e que se esquece aí de seu seer. [tr. Casanova; GA65: 55]

O fundamento mais íntimo do desenraizamento histórico é um fundamento essencial, que se funda na essência do seer: o fato de o seer se subtrair ao ente e, aí, deixá-lo aparecer como “sendo” e, até mesmo, como “sendo mais”. Como essa decadência da verdade do seer é levada a termo antes de tudo sob a figura mais palpável possível da mediação da verdade, no conhecimento e no saber, é preciso inversamente, caso o desenraizamento deva ser superado, ganhar o domínio a partir de um novo enraizamento, aqui o saber autêntico e, em verdade, o saber do próprio seer. E nesse caso, por sua vez, é preciso conhecer fundamentalmente, isto é, inquirir de início o elemento primeiro, justamente aquela essência do seer, o ABANDONO DO SEER. [tr. Casanova; GA65: 56]

Ressonância e conexão de jogo, salto e fundação têm sempre a cada vez a sua tonalidade afetiva diretriz, que afina conjuntamente de maneira originária a partir da tonalidade afetiva fundamental. Essa tonalidade afetiva fundamental, porém, não tem tanto como ser descrita. Ela precisa ser mais provocada no todo do pensar inicial. Em uma palavra, porém, não há quase como nomeá-la, a não ser por meio do nome de retenção. Mas, então, essa palavra precisa ser tomada em toda a plenitude originária, que cresce historicamente para a sua significação a partir do repensar do acontecimento apropriador. A tonalidade afetiva fundamental contém a exigibilidade, o ânimo da coragem como a vontade sapiente e afinada do acontecimento apropriador. As tonalidades afetivas diretrizes são afinadas e afinadoras na ressonância uma com a outra. A tonalidade afetiva diretriz da ressonância é o horrorem meio ao ABANDONO DO SEER que se desvela e, ao mesmo tempo, o pudor diante do acontecimento apropriador ressonante. Horror e pudor conjuntamente a princípio deixam levar a termo de maneira pensante a ressonância. A consonância originária das tonalidades afetivas diretrizes só é completamente afinada por meio da tonalidade afetiva fundamental. Nela, os que estão por vir são, e, como aqueles que são assim afinados, são de-terminados afinadamente pelo último deus. (Sobre tonalidade afetiva cf algo essencial nas preleções sobre Hölderlin  ). [tr. Casanova; GA65: 249]

Nós voltamos para o tempo-espaço da decisão sobre a fuga e a chegada dos deuses. Mas como é que isso se dá? Será que uma coisa ou outra se tornará um acontecimento por vir? Será que uma coisa ou outra precisa determinar a expectativa construtiva? Ou será que a decisão é a abertura de um tempo-espaço completamente diverso para uma verdade, sim, para a verdade pela primeira vez fundada do seer, o acontecimento apropriador? O que aconteceria se aquele âmbito da decisão na totalidade, fuga ou chegada dos deuses, fosse justamente o próprio fim? O que aconteceria se, para além disso, o seer precisasse ser concebido pela primeira vez em sua verdade como o acontecimento da apropriação, acontecimento esse como o qual acontece apropriadoramente aquilo que denominamos a recusa? Isso não é nem fuga nem chegada, nem tampouco tanto fuga quanto chegada, mas algo originário, a plenitude da concessão do seer na recusa. Aqui se funda a origem do estilo por vir, isto é, na retenção na verdade do seer. A recusa é a nobreza mais elevada da doação e o traço fundamental do encobrir-se, cuja abertura constitui a essência originária da verdade do seer. Assim apenas o seer se torna o próprio estranhamento, a tranquilidade do passar ao largo do último deus. O ser-aí, porém, é apropriado em meio ao acontecimento no seer como a fundação da guarda dessa tranquilidade. Fuga e chegada dos deuses reúnem agora no sido e são subtraídas ao passado. O porvir, porém, a verdade do seer como recusa, tem em si a garantia da grandeza, não da eternidade vazia e gigantesca, mas da via mais breve. Mas pertence a essa verdade do seer, à recusa, o velamento do não ente enquanto tal, o desprendimento e a dissipação do seer. Agora pela primeira vez, o ABANDONO DO SEER precisa permanecer. O desprendimento, contudo, não se mostra como um arbítrio e uma desordem vazios, mas, ao contrário: tudo é agora inserido na direcionalidade planejada e na exatidão do transcurso seguro e do domínio “sem restos”. A maquinação toma sob sua proteção o não ente sob a aparência do ente, e a desertificação do homem imposta incontornavelmente com isso é compensada por meio da “vivência”. Tudo isso precisa se tornar mais necessário do que antes enquanto inessência porque o que há de mais estranho também precisa disso que há de mais corrente e porque a abertura do fosso abissal do seer não pode ser soterrada pela aparência fictícia do equilíbrio, da “felicidade” e da falsa consumação; pois tudo isso é odiado em primeiro lugar pelo último deus. Mas o último deus não é uma degradação de deus, sim, a blasfêmia pura e simples? O que aconteceria, porém, se o último deus precisasse ser chamado assim porque traz pela última vez a decisão sobre os deuses para um domínio sob e entre os deuses, elevando, com isso, a essência da unicidade do ser de deus ao extremo? O último deus, se pensarmos aqui de maneira calculadora e tomarmos esse “último” apenas como interrupção e fim, ao invés de como decisão extrema e maximamente breve sobre o que há de mais elevado, então naturalmente todo saber sobre ele será impossível. Todavia, como é que se deveria querer calcular no pensamento do ser de deus, ao invés de meditar de maneira radicalmente oposta sobre o perigo de algo estranho e incalculável? [tr. Casanova; GA65: 254]