Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Raffoul (2010:243-244) – responder

Raffoul (2010:243-244) – responder

quinta-feira 7 de dezembro de 2023

tradução

[…] a responsabilidade não é pensada como uma consequência decorrente de um sujeito "possuir" as suas acções, mas é antes abordada em termos de uma resposta a um acontecimento que é também um chamamento, tematizado em Ser e Tempo   como o chamamento da consciência e, em escritos posteriores, como chamada ou encaminhamento (Anspruch  ) do ser. A responsabilidade não se baseia na sujeição (accountability), mas constitui o Dasein   como o chamado (responsiveness). De cada vez, o Dasein é chamado a si próprio; esta é uma chamada a que tenho de responder. E aí reside a fonte oculta e o recurso da responsabilidade - ser responsável significa, antes de mais nada, responder, respondere. Em tal resposta, o Dasein vem a si mesmo. O Dasein "tem de ser" o ser que é. Ter de ser ele mesmo é a responsabilidade originária do Dasein, que pode ser ouvida no "Torna-te o que és!" evocado por Heidegger em Ser e Tempo (SZ, 145). E isto não deve ser entendido onticamente como "Realiza o teu potencial!" mas ontologicamente, como: O que tu és, só podes vir a ser, porque o ser do Dasein é "vir a ser", porque "é o que se torna ou não se torna" (SZ, 145). O Dasein define-se pela possibilidade, que, como sabemos, "está acima da atualidade" (SZ, 38). Neste "vir a ser" reside o sentido ontológico da responsabilidade como apelo ao ser, apelo do ser. É, pois, uma responsabilidade que define o Dasein, na medida em que ele tem de ser o seu ser num "ter-de-ser" originário. O Dasein vem a si mesmo a partir do chamado.

original

[…] responsibility is not   thought as a consequence of a subject “owning” his or her actions, but is instead approached in terms of a response to an event that is also a call, thematized in Being and Time as the call of conscience and in later writings as the call or address (Anspruch) of being. Responsibility is not based on subjectness (accountability) but constitutes Dasein as the called one (responsiveness). Each time, Dasein is called to itself; this is a call that I have to answer. And therein lies the hidden source and resource of responsibility—to be responsible means, before anything else, to respond, respondere. In such a response, Dasein comes to itself. Dasein “has to be” the being that it is. Having to be oneself—such is the originary responsibility of Dasein, which can be heard in the “Become what you are!” evoked by Heidegger in Being and Time (SZ, 145). And this is not to be understood ontically as “Realize your potential!” but ontologically, as: What you are, you can only become it, because Dasein’s being is “to-be,” because “it is what it becomes or does not become” (SZ, 145). Dasein is defined by possibility, which as we know, “stands higher than actuality” (SZ, 38). In this “to-be” resides the ontological sense of responsibility as call to be, call of being. It is thus a responsibility that defines Dasein, insofar as it has to be its being in an originary “having-to-be.” Dasein comes to itself from the call.

[RAFFOUL  , F. The origins of responsibility. Bloomington: Indiana University Press, 2010, p. 243-244]


Ver online : François Raffoul