Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Fogel (2015:187-188) – o que é, como é, o homem?

terça-feira 5 de março de 2024

3. Dizer que o homem é o lugar e a hora de todo real possível não é afirmar que o homem seja o autor, a causa, o sujeito ou o dono do real. Em sendo lugar e hora, a sua relação com o real não é de construção, de constituição, de objetivação subjetivo-transcendental   ou idealista. Não se trata, também, de forma alguma, de antropocentrismo ou antropomorfismo.

Visto desde e como inserção (círculo, circularidade), salto (súbito, abrupto, i-mediatidade) e, então, afeto, não se pode, não se tem o direito de afirmar/compreender o homem como o que quer que seja, como algum algo dado, feito, no sentido de algo fixado ou pré-fixado (constituído) [187] como, p.ex., um eu, uma alma, uma consciência, ou espírito, ou pessoa. Também não como algo que pudesse ser o contrário de tudo isso, a saber, matéria, energia, corpo, entendido e subentendido, principalmente, como algo biológico, orgânico, psico-físico ou psicossomático.

Volta, porém, a pergunta: o que é, como é, então, o homem, se ele não é nenhum que, nenhuma quidditas  ? De imediato, originariamente, não sendo nenhum ente, nenhuma coisa, o homem começa sendo… nada. Nada?! Como?! Antes, um buraco, um oco, um vazio – ontológico?! Um buraco ou um oco cheio de coisa nenhuma, à medida que é um oco ou um vazio que é só e tão só poder-ser, possibilidade – este o oco, o buraco ontológico. Possibilidade, isto é, disposição, melhor, aptidão de ou para ser à medida e só à medida que é tocado ou tomado (afetado) por possibilidade de ser, de vir a ser, ou seja, tocado ou tomado (quer dizer, apropriado, apoderado!) por um possível modo de ser do/no viver (um verbo no/do viver ou existir), que, assim, apropriando-se ou apoderando-se desta possibilidade de ser, que é o homem, dele vai fazer uso para, assim, igual e simultaneamente, fazer vir a ser o homem como este ou aquele homem determinado, singularizado – p.ex., este João-carpinteiro, aquele Pedro-pintor, esta ou aquela Maria-escritora ou bordadeira. Assim, deste modo, in hoc signo, portanto, do ponto de vista da gênese ontológica ou originariamente, só tardia ou epigonalmente o homem torna-se ou faz-se um eu, uma consciência, um organismo ou um algo psico-físico-somático.

[FOGEL  , Gilvan. Homem, Realidade, Interpretação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015]


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