responsabilidade

Verantwortlichkeit, überantwortet (entregue à responsabilidade)

O impessoal encontra-se em toda parte, mas no modo de sempre ter escapulido quando a presença [Dasein] exige uma decisão. Porque prescreve todo julgamento e decisão, o impessoal retira a RESPONSABILIDADE [Verantwortlichkeit] de cada presença [Dasein]. O impessoal pode, por assim dizer, permitir que se apoie impessoalmente nele. Pode assumir tudo com a maior facilidade e responder por tudo, já que não há ninguém que precise responsabilizar-se por alguma coisa. O impessoal sempre “foi” quem… e, no entanto, pode-se dizer que não foi “ninguém”. Na cotidianidade da presença [Dasein], a maioria das coisas é feita por alguém de quem se deve dizer que não é ninguém. STMSC: §27


Tanto a equanimidade impassível quanto o desânimo reprimido na ocupação cotidiana, a passagem de um para outro, o resvalar no mau humor não são, do ponto de vista ontológico, um nada, por mais que esses fenômenos passem despercebidos para a presença [Dasein], sendo considerados como os mais indiferentes e os mais passageiros. Que os humores possam deteriorar-se e transformar-se, isto diz somente que a presença [Dasein] já está sempre sintonizada e afinada num humor. Também a falta de humor contínua, regular e insípida, que não deve ser confundida com o mau humor, não é um nada, pois nela a própria presença [Dasein] se torna enfadonha para si mesma. Nesse mau humor, o ser do pre [das Da] mostra-se como peso {CH: “peso”: o que deve ser carregado; o homem está entregue à RESPONSABILIDADE [überantwortet] e à apropriação da presença [Dasein]. Carregar: assumir-se a partir da pertinência ao próprio ser}. Por que, não se sabe. E a presença [Dasein] não pode saber, visto que as possibilidades de abertura do conhecimento são restritas se comparadas com a abertura originária dos humores em que a presença [Dasein] se depara com seu ser enquanto pre [das Da]. Também o humor exacerbado pode aliviar o peso revelado pelo ser; mesmo essa possibilidade de humor revela, embora como alívio, o caráter de peso da presença [Dasein]. O humor revela “como alguém está e se torna”. É nesse “como alguém está” que a afinação do humor conduz o ser para o seu “pre” [das Da]. STMSC: §29

Na afinação do humor, a presença [Dasein] já sempre se abriu em sintonia com o humor como o ente a cuja RESPONSABILIDADE a presença [Dasein] se entregou em seu ser e que, existindo, ela tem de ser. Aberto não significa conhecido como tal. E justamente na cotidianidade mais indiferente e inocente, o ser da presença [Dasein] pode irromper na nudez de “que é e ter de ser”. O puro “que é” mostra-se, enquanto o de onde (Woher) e o para onde (Wohin) permanecem obscuros. Constatar que a presença [Dasein] não “cede” a tais humores na cotidianidade, isto é, que não persegue a abertura por eles realizada e não se deixa levar pelo que assim se abre, não constitui uma prova contra a fatualidade fenomenal de o humor abrir o ser do pre [das Da] em seu “que é” (Dass), mas sim um testemunho. Na maior parte das situações ôntico-existenciárias, a presença [Dasein] se esquiva ao ser que se abre nessa afinação do humor; do ponto de vista ontológico-existencial, isto significa: naquilo de que o humor faz pouco caso, a presença [Dasein] se descobre entregue a RESPONSABILIDADE do pre [das Da]. É no próprio esquivar-se que o pre [das Da] se abre em seu ser. STMSC: §29

Esse “que é” constitui um caráter ontológico da presença [Dasein], encoberto em seu de onde e para onde, que, no entanto, tanto mais se abre em si mesmo quanto mais encoberto permanece. Chamamos esse “que é” de estar-lançado em seu pre [das Da], no sentido de, enquanto ser-no-mundo, este ente ser sempre o seu pre [das Da]. A expressão estar-lançado deve indicar a facticidade da RESPONSABILIDADE. Esse “que é e ter de ser”, aberto na disposição da presença [Dasein], não é aquele “que”, o qual do ponto de vista ontológico-categorial exprime a fatualidade pertencente ao ser simplesmente dado. Esse só se faz acessível numa constatação observadora. Em contrapartida, deve-se conceber esse que aberto na disposição, como determinação existencial deste ente que é no modo de ser-no-mundo. Facticidade não é a fatualidade do factum brutum de um ser simplesmente dado, mas um caráter ontológico da presença [Dasein] assumido na existência, embora, desde o início, reprimido. Esse que da facticidade jamais pode ser encontrado numa intuição. STMSC: §29

O ente que possui o caráter da presença [Dasein] é o seu pre [das Da], no sentido de dispor-se implícita ou explicitamente em seu estar-lançado. Na disposição, a presença [Dasein] já se colocou sempre diante de si mesma e já sempre se encontrou, não como percepção, mas como um dispor-se numa afinação de humor. Enquanto ente entregue à RESPONSABILIDADE de seu ser, ela também se entrega à RESPONSABILIDADE de já se ter sempre encontrado – encontro que não é tanto fruto de uma procura direta mas de uma fuga. A afinação do humor não realiza uma abertura no sentido de observar o estar-lançado e sim de enviar-se e desviar-se. Na maior parte das vezes, ele faz pouco caso do caráter pesado da presença [Dasein] que nele se revela e, muito menos ainda, quando se alivia de um humor. Esse desvio é o que é, no modo da disposição. STMSC: §29

Isso diz, no entanto, que para si mesma a presença [Dasein] é a possibilidade de ser que está entregue a sua RESPONSABILIDADE, é a possibilidade que lhe foi inteiramente lançada. STMSC: §31

Esse estar em toda parte e em parte alguma da curiosidade entrega-se à RESPONSABILIDADE da falação. STMSC: §36

A presença [Dasein] como ser-no-mundo entrega-se, ao mesmo tempo, à RESPONSABILIDADE desse ser. STMSC: §40

Pertence a esse ser-no-mundo, contudo, que, entregando-se à RESPONSABILIDADE de si mesmo, já se tenha lançado em um mundo. STMSC: §41

Que disposição o estar entregue à RESPONSABILIDADE da morte abre para o impessoal e de que modo? STMSC: §51

Angustiando-se com a morte, a presença [Dasein] coloca-se diante da possibilidade insuperável, a cuja RESPONSABILIDADE ela está entregue. STMSC: §51

Enquanto ser-lançado no mundo, a presença [Dasein] já está entregue à RESPONSABILIDADE de sua morte. STMSC: §52

Ela não é um projetar-se solto no ar, mas, como o estar-lançado determina-se como o fato desse ente que ele é, ela sempre já está e permanece entregue à RESPONSABILIDADE da existência. STMSC: §57

Existindo, a presença [Dasein] é o fundamento de seu poder-ser porque só pode existir como o ente que está entregue à RESPONSABILIDADE de ser o ente que ela é. STMSC: §58

Existindo, ela está lançada e, enquanto lançada, entregue à RESPONSABILIDADE de entes dos quais ela necessita para poder ser como ela é, ou seja, em virtude de si mesma. STMSC: §69

Lançada, a presença [Dasein] está, sem dúvida, entregue à RESPONSABILIDADE de si mesma e de seu poder-ser, mas como ser-no-mundo. STMSC: §74

Enquanto vigor de ter sido, a presença [Dasein] é e está entregue à RESPONSABILIDADE de seu estar-lançado. STMSC: §76