Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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McNeill (2006:xvii-xviii) – poiesis originária

sexta-feira 21 de abril de 2017

Tradução

Recordamos a primeira revelação do mundo pelo fenômeno da tonalidade afetiva, bem como o que o curso de 1929-30 já identificava como o momento poiético da formação do mundo, entendido como um acontecimento antecedente que primeiro fundamenta nosso Ser como morada. Esta formação e acontecimento de um mundo, como manifestação dos entes como um todo em seu Ser, é, sugerimos, o acontecimento de uma poiese originária da qual não somos a origem, mas que, acontecendo em e através de nós, permite primeiro nossa habitação. Uma linguagem e um pensamento sintonizados com essa chegada, com esse acontecimento de um mundo, presumivelmente ainda não seria um discurso que busca determinar algo "como" algo - seja o do discurso apofântico da ciência, o discurso apofântico-hermenêutico de Heidegger a fenomenologia primitiva, ou mesmo aquela da deliberação hermenêutica da própria phronesis   aristotélica, todas dianoéticas, e preocupadas em determinar o que já se manifesta de uma determinada maneira (com vistas a leis constantes que determinam a presença das coisas; com uma visão da situação histórico-existencial e do engajamento do eu filosofante; ou com a visão de determinar o melhor curso de ação em determinadas circunstâncias, a fim de atingir um determinado fim). Seria, presumivelmente, uma "nomeação simples" tonalizada com um deixar-ser revelador do mundo em geral, um deixar-ser que, como a própria presença capacitadora, primeiro possibilita a visão, deixando algo ser visto em seu Ser. É na poetização de Hölderlin   acima de tudo, tentamos indicar, que Heidegger encontra precisamente essa linguagem e tonalidade afetiva. No entanto, a poesia de Hölderlin é distinta para Heidegger na medida em que busca poetizar precisamente o momento inaugural (ou Augenblick  ) dessa revelação poética e chegada do mundo. Poetiza, como diz Heidegger, a "essência" ou acontecimento dessa própria poetização, o tempo de poetizar. E, ao fazê-lo, poetiza a essência da morada humana como uma exposição a essa dimensão daquilo que, em sua própria retirada, excede essa morada ao mesmo tempo que a chama ao Ser - a dimensão do que Hölderlin chama de divino. A realização poética da morada humana é assim, tentamos mostrar, chamada a desdobrar-se numa exposição contínua a um não sendo/estando em casa, ao que os gregos chamavam de deinon  , que Heidegger - em consonância com sua compreensão do ser humano como habitação - traduzido como das Unheimliche: o "estranhamento" ou, literalmente, "aquilo que não é da casa". No entanto, esta mesma exposição, a situação trágica da ação humana e do êthos  , é o que antes foi trazido à tona e celebrado na tragédia grega.

Original

We recall the primary disclosure of world through the phenomenon of attunement, as well as what the 1929-30 course already identified as the poietic moment of world-formation, understood as an antecedent event that first grounds our Being as dwelling. This formation and happening of a world, as the manifestation of beings as a whole in their Being, is, we suggest, the event of an originary poiesis   of which we are not   the origin, yet which, happening in and through us, first enables our dwelling. A language and thought attuned to this arrival, to this coming to pass of a world, would presumably not yet be a discourse seeking to determine something "as" something — whether that of the apophantic discourse of science, the apophantic-hermeneutic discourse of Heidegger’s early phenomenology, or indeed that of the hermeneutic deliberation of Aristotelian phronesis itself, all of which are dianoetic, and concerned with determining that which already manifests itself in a certain way (with a view to constant laws determining the presence at hand   of things; with a view to the existential-historical situatedness and engagement of the philosophizing self; or with a view to determining the best course of action under given circumstances in order to attain a certain end). It would, presumably, be a "simple naming" attuned to a letting-be disclosive of world in general, a letting-be that, as enabling presence itself, first enables vision, letting something be seen in its Being. It is in Hölderlin’s poetizing above all, we try to indicate, that Heidegger finds precisely such a language and attunement. Yet Hölderlin’s poetry is distinctive for Heidegger in that it seeks to poetize precisely the inaugural moment (or Augenblick) of this poietic disclosure and arrival of world. It poetizes, as Heidegger puts it, the "essence" or event of this poetizing itself, the time of poetizing. And in so doing, it poetizes the essence of human dwelling as an exposure to this dimension of that which, in its very withdrawal, exceeds such dwelling even as it calls it into Being — the dimension of what Hölderlin names the divine. The poietic accomplishment of human dwelling is thus, we try to show, called upon to unfold itself in a continual exposure to a not being at home, to what the Greeks called to deinon, which Heidegger — in keeping with his understanding of human Being as dwelling — translates as das Unheimliche: the "uncanny," or literally "that which is not of the home." Yet this very [xviii] exposure, the tragic predicament of human action and êthos, is what was once brought to the fore and celebrated in Greek tragedy. (p. xvii-xviii)

[MCNEILL  , William. The Time of Life. Heidegger and Êthos. New York: State University of New York Press, 2006, p. xvii-xviii]


Ver online : THE TIME OF LIFE