Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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MacDowell: A compreensão grega do ser como "estar-aí"

quarta-feira 12 de abril de 2017

Foi Parmênides   quem lançou as bases da interpretação tradicional do sentido de ser. Platão e Aristóteles a desenvolveram e transmitiram ao Ocidente. Para eles, o sentido de ser não foi algo sem mais evidente, que dispensa qualquer investigação. Eles reconheceram já a necessidade de perguntar o que significa "ser". Aristóteles, sobretudo, dedicou-se à tarefa de descobrir, a partir dos fenômenos, a unidade do sentido de ser subjacente à multiplicidade vária de suas aplicações. O que foi conquistado então, num supremo esforço do pensar, não pretendia construir um conjunto de teses definitivas e completas, mas apenas balizas no caminho para o desconhecido.

A natureza, i. e., o modo de ser dos entes que constituem originalmente o mundo, foi tomada pelos gregos como protótipo na interpretação do sentido de ser. O ser foi entendido a partir do mundo, considerado como o conjunto ordenado das coisas, que se apresentam à nossa vista, na sua diversidade e nas suas conexões. A água do mar, a planta, o animal, o homem são destas coisas, cuja soma compõe a totalidade da natureza. Deste primado da coisa (pragma  , res, Ding  ), como fio condutor da interpretação ontológica, resulta que o traço fundamental do ser é a realidade. O ente é, antes de tudo, o ens reale, i. e., aquele que é apto a constar como coisa entre as coisas. Entretanto, o que já foi, ou ainda será, não é propriamente. As coisas são, enquanto estão atualmente presentes no mundo. Aquilo que não é atual é considerado como sendo apenas em ordem à sua atuação, na medida em que esta é possível. Ser significa portanto, primariamente, atualidade (Wirklichkeit  ), como plena realização da coisa. Daí resulta outra nota própria do ser do ente na sua interpretação clássica. O ente em ato apresenta-se como o realizado, produzido, efetuado. Este ser-efetuado (Geschaffenheit), característico do ser das coisas da natureza, será radicalizado, segundo Heidegger, na concepção cristã do ente como ens creatum  . As coisas constituem, enfim, aquilo que permanece invariável, o substrato constante, através do movimento e da alteração da natureza. Assim, uma árvore, através das diversas etapas do seu desenvolvimento é sempre a mesma árvore. A identidade consigo mesma, subjacente às variações da coisa, torna-se assim um elemento determinante do seu ser. O ser do ente é interpretado como substancialidade. O mesmo termo grego ousia   significa substância, como suppositum individual permanente, e essência, como a forma ou quididade, que define e circunscreve cada ente. De fato, a essência ou ideia da coisa é aquela determinação fundamental comum seja aos indivíduos da espécie, seja ao mesmo indivíduo nos seus diversos estados. E ela que constitui a substância, i. e., o ser propriamente dito da coisa, em oposição aos atributos que podem afetar o sujeito, sem, no entanto, o constituírem radicalmente como tal.

Uma palavra, "existência", consagrada também pela tradição, resume estes diversos traços da interpretação clássica do ser. Como este termo serve, porém, para exprimir, num sentido inteiramente diverso, o modo de ser peculiar ao homem, Heidegger o traduz por "estar-aí" (Vorhandensein  ).


Ver online : A GÊNESE DA ONTOLOGIA FUNDAMENTAL DE M. HEIDEGGER