Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Fuchs (2018:31-32) – intencionalidade afetiva

quarta-feira 31 de janeiro de 2024

Existe uma concordância ampla entre filósofos e psicólogos quanto ao fato de que emoções são caracterizadas pela intencionalidade — elas se referem a pessoas, objetos, acontecimentos e situações no mundo. Em certo sentido, sentimentos são formas da percepção, a saber, formas da atenção para características qualitativas de uma situação, que lhes dá uma significatividade e uma importância, que elas não teriam sem a emoção. […] Em suma: sem emoções, o mundo seria sem sentido ou sem significatividade; nada nos atrairia ou nos repeliria, nada nos motivaria tampouco a agir.

Naturalmente, essa dotação de sentido inclui um componente valorativo ou apreciativo, que não pode ser certamente concebido no sentido de convicções preposicionais (a convicção de que p é o caso, por exemplo, de que uma aranha é perigosa); de outro modo, emoções não poderiam ser vivenciadas por crianças pequenas ou por animais superiores, que não dispõem de nenhuma linguagem. Além disto, essa avaliação não pode ser vista como um julgamento meramente cognitivo, pois somos nós mesmos que somos afetados nas emoções. Por meio de emoções, eu experimento como é me encontrar nesta ou naquela situação. Sou eu mesmo que sou surpreendido, ferido, irritado, alegre etc. Intencionalidade afetiva possui, com isto, uma dupla natureza: ela abre uma qualidade afetiva ou uma qualidade valorativa de uma dada situação, assim como a própria constituição da pessoa sensiente [31] em face dessa situação. Temer um leão que se aproxima (referência ao mundo) significa ao mesmo tempo ter medo por si mesmo (autorreferência). Em face de outra pessoa sentir inveja significa do mesmo modo não suportar que ela tenha uma vantagem ou um sucesso e se sentir inferior ou insatisfeito consigo mesmo. Toda emoção envolve, portanto, dois polos, que estão ligados de maneira indissolúvel, a saber, sentir algo tanto quanto sentir a si mesmo.

[FUCHS  , Thomas. Para uma psiquiatria fenomenológica: ensaios e conferências sobre as bases antropológicos da doença psíquica, memória corporal e si mesmo ecológico. Tr. Marco Antonio Casanova  . Rio de Janeiro: Via Verita, 2018]


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