Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Figal (FL:218-219) – Grundsein - ser-fundamento

quarta-feira 19 de maio de 2021

O que Heidegger diz aqui só é compreensível se se consegue clarificar a significação da expressão “ser-fundamento” – uma expressão que não foi explicitada mais detidamente por ele. É natural compreender aí “fundamento” como uma tradução de ἀρχή e dizer de maneira consonante com a determinação aristotélica do homem como princípio e fundamento de ações (ἀρχή τῶν πράξεων) que o “ser-fundamento de uma falta na existência do outro” é uma determinação que só diz respeito ao ser-com e ao co-ser-aí. Isso talvez pareça, à primeira vista, trivial. Mas exatamente como Aristóteles não quer dizer que o homem é a causa por si determinável para uma classe de movimentos que se denominam “ações”, Heidegger não quer dizer que o fato de se ser, na medida em que se é culpado, causa de uma falta no ser-aí de um outro precisaria ser equiparado às outras causas, às quais podem ser reconduzidas uma falta. O homem é muito mais princípio e fundamento de ações no sentido de que somente movimentos que são cognoscíveis como combinação entre διάνοια e ὄρεξις podem se chamar “ações”. Essa combinação só há no homem, de modo que se define em uma determinação adequada das ações ao mesmo tempo aquilo que é princípio e fundamento das ações. [1] O mesmo estado de coisas tem lugar com o ser-culpado: a falta aqui não é reconduzida simplesmente a uma causa, mas sempre já compreendida como “insuficiência ante uma requisição”, e o ser-aí como ser-com e como co-ser-aí é, então, o fundamento da culpa no sentido de que só junto ao co-ser-aí são feitas requisições que podem permanecer sem serem cumpridas e de que nós [219] sempre assumimos uma atitude no ser-com em relação às requisições dos outros. “Ser fundamento de uma culpa” e “ser causa de uma culpa” não são o mesmo. Senão também seria incompreensível em que medida a determinação formal   que Heidegger dá pode, ao mesmo tempo, abarcar uma culpa que não foi “causada” por alguém mesmo. Além disso, o termo “causa” não é aqui visado no sentido de uma teoria causalista da ação, mas ele mesmo só pode se tornar inteligível a partir do fenômeno da culpa: se consideramos alguém como “causa” de um determinado estado de coisas que diz respeito a alguém, não perguntamos por em que medida ele foi o princípio de um movimento que conduziu então a esse estado de coisas; nós o tomamos muito mais imediatamente como responsável por esse estado de coisas. [FIGAL  , Günter. Martin Heidegger: Fenomenologia da Liberdade. Tr. Marco Antonio Casanova  . Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 218-219]


Ver online : Günter Figal


[1Cf., quanto a isso, Wieland (1970), p. 60.