Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Ferreira da Silva (2010:84-85) – os deuses

quarta-feira 7 de agosto de 2019

Admitindo-se que a animalitas   do homem é um domínio projetado ou iluminado, devemos modificar e completar a concepção heideggeriana   do Ser, para um maior aprofundamento nos fenômenos da ontogenia da corporalidade racial. Referimo-nos a uma possível experiência trópica do Ser, ou do Ser como poder essencialmente trópico. A linguagem do pensamento essencial de Heidegger apoia-se preferencialmente em metáforas de luz e de conhecimento, que não possibilitam um mergulho na zona transcendental   pulsional da consciência. Compreendendo, pelo contrário, o fenômeno da abertura projetiva como “fascinação”, como irrupção de um espaço de apetecibilidade, como o ser arrebatado por um campo de forças atrativas, estaremos em condições de elucidar, não só a estrutura ontológica do nosso ser, como também de penetrar nos arcanos do processo mitológico. A desocultação do Ser como fascinação traduz-se, nesse caso, na instituição polimórfica de centros pulsionais, em correspondência com a epifania da presença fascinante-numinosa dos deuses. Os deuses não devem ser pensados como representações teoréticas, como espetáculos de uma fruição intelectual, mas como ocorrências trópicas, como suscitação de marés passionais, cuja essência se esgota nessas aberturas fascinantes. O estatuto humano seria, portanto, o reverso, o Gegenwurf, [1] o negativo desse positivo que é a potência passional dos deuses, em suas manifestações epocais variáveis. Endossando a concepção de Frobenius, que vê na estrutura do homem uma capacidade vazia de recepção de atuações, isto é, que considera o homem como um “receptor de realidade”, deveríamos entender a realidade recebida como um ciclo pulsional. A emissão desse complexo de impulsos é obra do Fascinator ou do poder aórgico dos deuses.

[Excerto de FERREIRA DA SILVA  , Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 84-85]


Ver online : Vicente Ferreira da Silva


[1Contrapartida. (N. O.)