6. O nacionalismo linguístico de Fichte traduz um sentimento comum aos românticos. Reflete-se, por exemplo, em Arndt, contemporâneo de Fichte, e considerado um dos maiores poetas do sentimento nacional; em Görres, romântico católico; em Wilhelm von Humboldt, filólogo e historiador, que, como já dissemos, considerava a linguagem como a forma externa do espírito dos povos e afirmava que nunca se poderá exprimir com bastante força a identidade da língua e do espírito do povo. A língua corresponde externamente ao que o romântico inglês Shaftesbury denominava a “forma interna” da cultura. A teoria linguística de Fichte amplia singularmente o princípio da originalidade do Volk, cujas raízes estão imersas na floresta primeva. Liga intimamente a identidade nacional com certos caracteres somatológicos do povo: Dentre estes, o mais importante para Fichte era a língua; para outros românticos será, além da língua, a música, que é a língua falada em outra dimensão. [3]
Assim sendo, não há nada menos internacional do que a língua e a música. As obras de arte plástica, a literatura e a música, são obras de indivíduos dotados para assumir a capacidade de exprimir a cultura de que são portadores. Schubert e Beethoven, Brahms e Wagner são compositores universais, mas são compositores especificamente alemães. Sem Wagner não poderia haver a música wagneriana; mas sem a cultura que se corporifica em Wagner, sem os motivos arquetípicos que assumem em Wagner a consciência da sua expressão, essa música não poderia ter existido.
Na perspectiva romântica, só não tem fronteiras a arte que se transformou em técnica e virtuosismo, tendo perdido a alma que a técnica deveria exprimir. A arte nasce de territórios culturais definidos, manifesta conjuntos de sentidos — e de sentidos de sentidos — que não têm validade fora da cultura a que pertencem. O valor universal da arte vem da sua vinculação profunda à própria cultura, nunca do seu internacionalismo. A arte é universal quando toca as raízes mais secretas da sua cultura, numa região onde todas as culturas se encontram, podendo falar assim a todas as sensibilidades. — As artes são manifestações de entes históricos, realizadas por indivíduos portadores da cultura histórica, assim como o são também todas as expressões culturais, tudo quanto cabe no mundo dos valores e das Ciências do Espírito.