Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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des-encobrimento

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Para que possamos estar numa posição de nos transpormos para dentro do âmbito da palavra grega aletheia   e, assim, dizer essa palavra no rigor do pensar, necessitamos despertar e seguir a indicação que a palavra “desencobrimento” [Unverborgenheit  ], inicialmente escolhida para a tradução, nos dá. A indicação mostra a direção da transposição. Ela conduz para quatro momentos, se nos delimitarmos a seus traços principais.

Por um lado, a palavra “DES-ENCOBRIMENTO” [Un-verborgenheit] nos dirige para algo como “encobrimento” [Verborgenheit]. O que, antes de tudo, é encoberto com respeito ao “desencobrimento”, quem encobre, como o encobrimento acontece, quando, onde e para quem é encobrimento, tudo isso permanece indeterminado. Não somente agora, nem somente para nós, que estamos tentando refletir acerca da aletheia sob a indicação de sua tradução como “desencobrimento”, mas, também, precisamente entre os gregos, o que é indicado acerca do encobrimento permanece indeterminado e até inquestionado. Os gregos experimentam o desencobrimento de modo peculiar e o nomeiam somente na palavra. No entanto, a indicação na direção do encobrimento e do encobrir nos dá agora um âmbito de experiência mais claro. De algum modo, conhecemos algo como encobrir e encobrimento. Nós o conhecemos como ocultamento [Verhüllung  ], velamento [Verschleierung], como sobreposição [Verdeckung  ], mas, também, nas formas da conservação [Aufbewahrung], proteção [Behütung], retraimento [Zurückhaltens], confiança [Anvertrauens] e entrega [Übereignung]. Conhecemos o encobrimento nas múltiplas formas de fechamento e entravamento [Verschließung und Verschlossenheit]. Com base nessas formas de encobrimento e latência [Verborgenheit e Verbergung  ], o “desencobrimento” recebe traços mais nítidos. Quando abandonamos toda a presunção, o âmbito do “escondido-descoberto” [Verborgen-Unverborgen] nos é até imediatamente mais familiar e acessível do que o que os títulos, em geral familiares, como veritas e “verdade” [Wahrheit  ], dizem. Rigorosamente falando, esta palavra “verdade” não nos dá algo a pensar e, menos ainda, a representar de modo “intuitivo”. Necessitamos, imediatamente, pedir a ajuda de uma “definição” da verdade, emprestada de algum lugar, para dar uma significação à palavra. É necessária uma especial consideração para nos introduzir no âmbito do significado da palavra “verdade”. Ao contrário, “descobrimento” [Unverborgenheit] é diferente no seu apelo imediato, mesmo se aqui também, inicialmente, sentimos incerteza em relação ao que é propriamente pensado.

Por outro lado, a palavra “desencobrimento” indica algo que pertence ao que os gregos experimentam como a essência da verdade [Wesen   der Wahrheit erfahren  ], como uma suspensão e cancelamento do encobrimento [Aufhebung   und Beseitigung der Verborgenheit]. O prefixo “des-” corresponde ao alpha- grego, que é chamado gramaticalmente de “alpha privativo”. Que espécie de privatio  , isto é, de privação e subtração [Beraubung und Wegnahme] está em jogo mediante uma formação privativa de palavras, isso só poderá ser delimitado cada vez em relação ao que está exposto à privação e limitação [Beeinträchtigung]. “Des-encobrimento” pode significar que o encobrimento é removido [weggenommen], cancelado [beseitigt], superado [überwunden] ou banido [gebannt], no que remover, cancelar, superar e banir, essencialmente, se diferenciam. “Desencobrimento” pode também significar que encobrimento, simplesmente, não é admissível, que este, embora sendo possível e constantemente uma ameaça, não existe e pode não surgir. Da multiplicidade dos significados do prefixo “des” é fácil ver que já nesta perspectiva o DES-ENCOBRIMENTO é difícil de ser determinado. Entretanto, justamente aqui aparece um traço fundamental da essência do DES-ENCOBRIMENTO, o qual devemos, especialmente, manter à vista para experimentar a essência primordial grega da “verdade”. Esta oposição reside no próprio DES-ENCOBRIMENTO. Na essência da verdade como do DES-ENCOBRIMENTO vige uma espécie de luta com o encobrimento e com o retraimento [Im Wesen der Wahrheit als der Un-verborgenheit waltet
irgendeine Art von Streit   mit der Verborgenheit und der Verbergung]. [GA54SMW:29-30]