Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Mitchell (2015:Intro) – mediação e racionalidade

terça-feira 1º de outubro de 2024

[…] ao falar de um “meio”, estamos falando de algo que estaria entre dois polos fixos. Para começar, as coisas em questão não são tão fixas ou autocontidas. O que aparece neste mundo o faz em conjunto com tudo ao seu redor. Não há nada que não exista dessa forma relacional. Aparecer é estar exposto e estar exposto é estar aberto para um além, até mesmo para acolher esse além (convidá-lo). Isso é o que poderíamos chamar de “hospitalidade” das coisas. Dessa perspectiva, então, as coisas já estão além de si mesmas e não estão fora da relação como polos isolados uns dos outros. Em segundo lugar, isso também significa que o próprio meio não é uma terceira parte presente que intervém entre duas outras independentes, igualmente presentes. O meio não está simplesmente “entre” as coisas; ao contrário, em algum sentido geométrico abstrato, ele as envolve. As coisas estão imersas nele. É o campo de sua interação, através do qual fluem as relações que elas mantêm. As páginas seguintes desenvolverão esse pensamento com mais detalhes e seguirão as várias formulações dele nos textos de Heidegger do período. Por enquanto, vale a pena observar que um “meio” não é nada entre dois objetos que, de outra forma, estariam presentes, mas, em vez disso, é o participante essencial de qualquer modo finito de existência. Ser finito é implicar esse além. Daí a importância crescente e a proliferação de nomes que Heidegger concede ao meio em seu pensamento, cada um dos quais será discutido a seguir: o “entre” (das Zwischen), o “alegre” (das Heitere), o “sagrado” (das Heilige), o “éter” (der Äther), o “meio” (die Mitte), a “dimensão” (die Dimension), o “elemento” (das Element), a “claridade” (die Lichtung) e, por fim, até mesmo a “morte” (der Tod). No que se segue, defendo que o quádruplo [Geviert] nomeia os mínimos estruturais para a existência mediada e finita das coisas. Como tal, o quádruplo nos dá uma visão do que considero ser o centro do pensamento posterior de Heidegger, um pensamento de mediação e relacionalidade.

[MITCHELL  , Andrew J. The fourfold: reading the late Heidegger. Evanston (Ill.): Northwestern university press, 2015]


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