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Loreau (1989:292-293) – poder-ser
sexta-feira 27 de setembro de 2024
Na compreensão, é uma questão do ser do Dasein, e esse ser não é nenhum ente: é um poder-ser. Assim, afirma-se que o ser do Dasein é, antes de tudo, um ser-possível e que, quando compreende, o Dasein se comporta em relação ao seu poder-ser. Compreender significa: projetar-se em direção ao seu poder-ser, estar aberto às suas possibilidades, ser livre para elas e, assim, permanecer nelas. O poder-ser do Dasein consiste, portanto, em possibilidades projetadas a partir do ser-em, para o qual o ser-em se projeta. Como tal, o Dasein é “uma possibilidade de parte a parte lançada” (SZ :144) e, consequentemente, um ser possível transparente a si mesmo. Compreendê-lo é projetar um poder-ser em vista de si mesmo. Quais são seus efeitos?
A compreensão faz do Dasein um poder-ser-no-mundo que está aberto ao mundo e para o qual o mundo está aberto. O fato de o mundo ser aberto significa: ele é aberto como uma possível significatividade (ou totalidade de relações referenciais); e, além disso, a partir dessa significatividade, sua abertura libera o ente intramundano na medida em que ele pertence a essa rede de relações referenciais, portanto, na medida em que é um ente utilizável em relação ao mundo. O mundo aberto não apenas abre a significatividade, mas, a partir de seu cerne, também permite que o ente intramundano emerja em direção ao conjunto de possibilidades que lhe são próprias (em direção ao seu possível uso em um complexo de possíveis relações referenciais). Por sua vez, o Dasein é projetado em direção a um afluxo de possibilidades. Mas este pro-jeto nada tem de “projetado” no sentido onde obedeceria a um plano preconcebido: é a abertura plena de ser-no-mundo em sua plenitude. Assim, o Dasein em pro-jeto não tem o domínio sas possibilidades em direção das quais é projetado; ele não as possui nem as mantém em vista. Quando dizemos que o Dasein compreende, queremos dizer que ele é suas possibilidades sem compreendê-las tematicamente. A partir de então, resta a ele descobri-las, apreendê-las expressamente e, assim, tornar-se o que ele é (145) — em uma palavra, torná-las explícitas. No final, não é a compreensão em si que capta expressamente as possibilidades para as quais se projeta, mas a explicitação compreensiva e original à qual será necessário chegar, não sem antes ter esclarecido e transposto para termos mais tradicionais o que acabou de ser analisado. Essa transposição deve nos levar de volta à questão fundamental dos vínculos entre ver e ser e, além disso, entre ver e logos.
Ver online : Max Loreau