Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Jean-Louis Chrétien (2014) – “Tornei-me uma pergunta para mim mesmo”

domingo 24 de novembro de 2024

Na meditação sobre a memória do livro X das Confissões, Santo Agostinho   mostra, em expressões que Heidegger considerou decisivas, que aquele que interroga os poderes do homem se transforma para si mesmo em pergunta: “Tornei-me uma pergunta para mim mesmo” [1]. E esta pergunta põe-no realmente à prova: “Tornei-me para mim uma terra de dificuldade e de suor abundante”, porque “eu próprio não compreendo tudo o que sou” [2]. Esta prova quase insuportável em que o homem se torna para si mesmo não tem nada a ver aqui com o mal ou o pecado, mas com o excesso do homem sobre si mesmo, o excesso do que ele é e do que ele pode sobre o que ele pensa e compreende. É neste sentido que Santo Agostinho   descreve o poder da memória como “algo de terrível” (nescio quid horrendum), embora não haja certamente nada de mau nele [3]. A que se deve este excesso, este transbordamento ou transgressão do si sobre si mesmo?

[CHRÉTIEN, Jean-Louis. L’inoubliable et l’inespéré. Nouvelle éd. augmentée ed. Paris: Desclée de Brouwer, 2014]


Ver online : Jean-Louis Chrétien


[1Saint Augustin, Confessions, X, XXXIII, 50.

[2Op. cit., X, XVI, 25, et X, VII, 15.

[3Op. cit., X, XVII, 26.