Gaboriau (1962:277) – "ponto de partida" é uma verdade fundamental?

Um conhecido tomista, E. Gilson, considera que o ponto de partida indemonstrável da metafísica é uma verdade apreendida desde o início e como no interior da razão:

“Toda metafísica pressupõe uma noção do ser dada à meditação do metafísico” (Introduction à la philosophie chrétienne, Vrin, 1960, p. 124).

Que noção? “Essa noção propriamente tomista de esse” (p. 103) é ”a noção de ser entendida no sentido, não de ser (ens, habens esse, o que é), mas do ato de ser (esse), que compondo-se com a essência o torna precisamente um ser, um habens esse.” (ib., p. 103)

Em outras palavras, uma noção de ser na qual é dada — e tomada como tal em princípio — a distinção em ens, esse e essentia.

E. Gilson considera que “muitas razões sugerem a composição de essência e ser em estados de ser, mas nenhuma demonstra isso rigorosamente” (ib., p. 55). Supõe-se que devemos considerá-la “como uma verdade dessa visão simples que Aristóteles justifica pela excelência transcendente do intelecto nos próprios princípios que ele postula” (ib., p. 124).

Consequentemente, “não há ciência da causa da ciência” (ib., p. 124). E embora seja de fato verdade que é importante, para evitar que as controvérsias entre os grandes metafísicos permaneçam em vão, que eles se confrontem no nível dos princípios e não no das consequências, Gilson considera que “confrontar suas interpretações dos princípios é o que eles não gostam de fazer, porque seu primeiro princípio é o mesmo; apenas eles o entendem de forma diferente” (ib., p. 124).

[GABORIAU  , F. L’Entrée en métaphysique: orientations. Paris: Casterman, 1962]