Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA29-30:254-255 – libertação do ser-aí no homem

segunda-feira 5 de agosto de 2019

Casanova

Voltemos ainda uma vez o olhar para o percurso que fizemos até aqui. Nós tentamos elucidar uma tonalidade afetiva fundamental de nosso ser-aí, um tédio profundo do ser-aí, sob o fio condutor e em meio à claridade do fenômeno clarificado do tédio, em especial do tédio profundo. Esta elucidação movimentou-se sob a forma de um questionamento. Partimos aí de um momento do tédio profundo, da serenidade vazia no sentido do recusar-se do ente na totalidade. No tédio profundo pelo qual perguntamos, a esta recusa corresponde a permanência de fora da opressão, a falta do segredo em nosso ser-aí, que só conhece penúrias e mecanismos de defesa. Estas penúrias e estes mecanismos movimentam-se, por sua vez, imediatamente na mesma superficialidade ou talvez em uma superficialidade ainda mais supérflua do ser-aí. Ao traço interno da serenidade vazia, à permanência de fora da opressão, corresponde uma retenção insigne no sentido do instante indiretamente coanunciado. De acordo com a permanência de fora da opressão na totalidade está coanunciada a necessidade para esta situação, a necessidade da exigência mais extrema que pode ser feita ao homem: a exigência para que ele assuma expressa e explicitamente uma vez mais seu próprio ser-aí, para que ele precise tomá-lo sobre os ombros. O homem precisa realmente decidir-se ou primeiro aprender a decidir-se uma vez mais para esta exigência. Não porque é dito em uma preleção qualquer, mas apenas se a exigência ocorrer a partir de uma real opressão do ser-aí na totalidade. Em meio a esta forma questionadora, o que nos cabe é quando muito a cunhagem da prontidão para esta opressão e para o instante que lhe é pertinente; para o instante que o homem atual interpreta equivocadamente como a velocidade de sua reação e como a subtaneidade de seus programas. Junto a esta exigência não se trata deste ou daquele ideal do homem em um âmbito qualquer de seu agir possível, mas sim da libertação do ser-aí no homem. Esta libertação é ao mesmo tempo a tarefa de dar para si o próprio ser-aí uma vez mais como um fardo real – libertação do ser-aí no homem, do ser-aí que cada um e apenas cada um pode realizar a cada vez a partir do fundamento de sua essência. Mas isto não significa que nesta requisição residiria um retirar-se da realidade atual, desprezando-a ou combatendo-a. Nem tampouco significa – o que seria correlato – encontrar medidas até certo ponto emergenciais para a cultura ameaçada no interior de uma má instantaneidade. Junto à intelecção desta requisição de que o homem precisa hoje assumir efetivamente uma vez mais seu próprio ser-aí, precisamos nos manter afastados desde o início desta incompreensão intrínseca à suposição de que finalmente nos aproximaríamos em algum lugar do essencial através de uma confraternização universal no inessencial. A requisição coloca muito mais em jogo que todo e qualquer ser-aí compreenda sempre a cada vez por si esta necessidade a partir do fundo de sua essência. Se a opressão de nosso ser-aí permanece hoje de fora apesar de todas as penúrias e se falta o segredo, então trata-se inicialmente de conquistar aquela base e aquela dimensão para o homem, no interior das quais algo do gênero de um segredo de seu ser-aí venha novamente ao seu encontro. Está plenamente em ordem o fato de o homem normal de hoje e o janotinha bem-comportado se atemorizarem e terem talvez mesmo por vezes as suas vistas embaçadas em meio a esta exigência e ao empenho por nos aproximarmos do segredo. Está plenamente em ordem o fato de eles se agarrarem através daí tão convulsivamente a seus ídolos. Seria uma incompreensão querer algo diverso. [CFMMFS:199-200]

Panis

Jetons encore une fois un regard rétrospectif sur le bout de chemin qui a été parcouru. Au fil conducteur et à la clarté relative des éclaircissements donnés sur le phénomène de l’ennui, en particulier sur le phénomène de l’ennui profond, nous avons tenté de rendre claire une tonalité fondamentale de notre Dasein, un ennui profond de notre Dasein. Cette tentative s’est opérée sous la forme de l’interrogation. Nous sommes partis de l’une des composantes de l’ennui profond : l’état d’être laissé vide, au sens où l’étant se refuse en entier. A cet état correspond, dans l’ennui profond sur lequel porte notre question, l’absence d’oppression, le manque de secret dans notre Dasein. Celui-ci, en effet, connaît seulement des urgences au pluriel et seulement des parades, lesquelles reconduisent aussitôt à la surface du Dasein ou peut-être à une surface encore plus superficielle. Au trait intérieur de l’état d’être laissé vide (l’absence d’oppression) correspond un insigne état d’être traîné en longueur, au sens de l’instant indirectement annoncé. En correspondance à l’absence d’oppression en entier est annoncée la nécessité qui s’impose à cette situation, la nécessité de l’exigence extrême qui est adressée à l’homme : à savoir qu’il doit à nouveau assumer lui-même, explicitement et expressément, son Dasein, qu’il doit le prendre sur ses épaules. A cette exigence, il faut d’abord que l’homme à nouveau se décide, mieux : apprenne à se décider, non pas parce que cela est dit dans tel ou tel cours, mais seulement en tant que cela a lieu à partir d’une oppression effective du Dasein en entier. Pour nous, il ne peut s’agir, sous cette forme interrogative, que de développer tout au plus la disposition à cette oppression et à l’instant qui lui est corrélatif — instant que l’homme d’aujourd’hui interprète de travers comme vitesse de réaction et immédiateté de ses programmes. Avec cette exigence, il ne s’agit pas de tel ou tel idéal humain dans une région quelconque de l’agir. Il s’agit au contraire de la libération du [259] Dasein en l’homme. Cette libération est du même coup la tâche qui consiste à se redonner soi-même le Dasein comme fardeau effectif — libération du Dasein en l’homme, que chacun ne peut jamais accomplir que pour soi et du fond de son être. Mais cela ne veut pas dire que cette revendication réclamerait de se retirer de la réalité actuelle, de la dédaigner ou de la combattre. Cependant, cela veut tout aussi peu dire, par contraste : dans une mauvaise conjoncture, prendre en quelque sorte des mesures d’urgence pour la civilisation menacée. Pour entendre cette revendication (à savoir que l’homme d’aujourd’hui doit à nouveau assumer lui-même son Dasein), il nous faut a priori éviter cette méprise : à savoir qu’il pourrait arriver que, par une fraternisation générale dans l’inessentiel, nous finirions malgré tout par approcher quelque part l’essentiel. Dans cette revendication, il importe plutôt que chaque Dasein conçoive cette nécessité toujours pour lui-même, du fond de son être. Si, en dépit de toutes les urgences, l’oppression de notre Dasein fait défaut aujourd’hui, et si manque le secret, il s’agit alors pour nous, en premier lieu, d’obtenir pour l’homme cette base et cette dimension au sein desquelles quelque chose comme un secret de son Dasein finalement le rencontre à nouveau. Qu’avec cette revendication et avec cet effort d’approcher le secret, l’homme normal, l’honnête homme d’aujourd’hui prenne peur et que parfois il puisse tourner de l’œil, si bien qu’il se cramponne d’autant plus convulsivement à ses idoles, c’est parfaitement dans l’ordre des choses. Ce serait une méprise de souhaiter autre chose. [CFMMFS:258-259]

McNeill

Let us now look back once more over the path we have followed. Taking as our guideline the elucidated phenomenon of boredom in its relative clarity, and especially that of profound boredom, we have attempted to clarify one fundamental attunement of our Dasein, one experience of profound boredom in our Dasein. This elucidation proceeded as a form of questioning. In this connection we took as our point of departure one structural moment of profound boredom, namely being left empty in the sense of the telling refusal of beings as a whole. In the profound boredom with which we are concerned, this corresponds to the absence of any oppressiveness and the lack of mystery in our Dasein – a Dasein which knows only neediness and the necessary acts of self-defense encountered in this attunement or perhaps on an even more superficial level of our Dasein. To this inner trait of being left empty, the absence of any oppressiveness, there corresponds a unique being held in limbo in the sense of the moment of vision which indirectly announces itself at the same time. Corresponding to the absence of oppressiveness as a whole, the necessity of responding to this situation is simultaneously announced, the necessity of the ultimate demand [Zumutung] upon man. This is the demand that he necessarily shoulder once more his very Dasein, that he explicitly and properly take this Dasein upon himself. Man must first resolutely open himself up to this demand again, or learn how to do so – not indeed because someone tells him to do so in the course of some lecture or other, but solely to the extent that such a demand transpires from out of an actual oppressiveness of Dasein as a whole. The only thing we can try to accomplish in our questioning way is to develop a readiness for this oppressiveness and for the moment of vision which belongs to it – for that moment of vision which contemporary man misinterprets as the speed of his reactions and the sudden haste of his programs. This demand has nothing to do with some human ideal in one or other domain of possible action. It is the liberation of the Dasein in man that is at issue here. At the same time this liberation is the task laid upon us to assume once more our very Dasein as an actual burden. The liberation of the Dasein in man is one which human beings can only ever accomplish in and for themselves in each case from out of the ground of their essence. This does not mean that the challenge in question demands that we withdraw from contemporary reality, that we despise or attack it. But similarly – and this would merely be the correlative reaction – it does not demand that we adopt emergency measures for the protection of culture in a kind of spurious instant response. In attempting to understand the challenge to contemporary man to assume his Dasein once again, we must from the outset guard against the misunderstanding that we can ever hope to approach what is essential through some general collective enthusiasm for what is in fact inessential. What is at issue in this challenge is rather that each and every Dasein should comprehend this necessity for itself out of the ground of its essence. And if, in spite of all our neediness, the oppressiveness of our Dasein still remains absent today and the mystery still lacking, then we must principally concern ourselves with preparing for man the very basis and dimension upon which and within which something like a mystery of his Dasein could once again be encountered. We should not be at all surprised if the contemporary man in the street feels disturbed or perhaps sometimes dazed and clutches all the more stubbornly at his idols when confronted with this challenge and with the effort required to approach this mystery. It would be a mistake to expect anything else. [FCMWFS:171-172]

Original

Blicken wir auf die durchlaufene Wegstrecke noch einmal zurück. Wir versuchten, am Leitfaden und in der relativen Helle des geklärten Phänomens der Langeweile und insbesondere der tiefen Langeweile eine Grundstimmung unseres Daseins, eine tiefe Langeweile unseres Daseins, zu verdeutlichen. Diese Verdeutlichung bewegte sich in der Form des Fragens. Wir gingen dabei aus von dem einen Moment der tiefen Langeweile, der Leergelassenheit im Sinne des Sichversagens des Seienden im Ganzen. Dem entspricht in der tiefen Langeweile, nach der wir fragen, das Ausbleiben der Bedrängnis, das Fehlen des Geheimnisses in unserem Dasein, das nur Nöte kennt und nur Notwehren, die sich alsbald in derselben oder vielleicht in einer noch oberflächlicheren Oberfläche des Daseins bewegen. Dem inneren Zug der Leergelassenheit, dem Ausbleiben der Bedrängnis, entspricht eine ausgezeichnete Hingehaltenheit im Sinne des indirekt mitangesagten Augenblickes. Entsprechend dem Ausbleiben der Bedrängnis im Ganzen ist mitangesagt die Notwendigkeit für diese Situation, die Notwendigkeit der äußersten Zumutung an den Menschen, daß er sein Dasein selbst wieder ausdrücklich und eigens übernehmen, auf die Schulter nehmen muß. Zu dieser Zumutung muß sich der Mensch erst wieder entschließen bzw. entschließen lernen, nicht deshalb, weil das in irgendeiner Vorlesung gesagt wird, sondern nur, sofern es aus einer wirklichen Bedrängnis des Daseins im Ganzen geschieht. Für uns kann es sich in dieser fragenden Form nur darum handeln, allenfalls die Bereitschaft für diese Bedrängnis und den ihr zugehörigen Augenblick [255] auszubilden; für den Augenblick, den der heutige Mensch als die Eiligkeit seines Reagierens und als die Plötzlichkeit seiner Programme mißdeutet. Bei dieser Zumutung handelt es sich nicht um dieses oder jenes Ideal des Menschen in irgendeinem Gebiet seines möglichen Handelns, sondern um die Befreiung des Daseins im Menschen. Diese Befreiung ist zugleich die Aufgabe, sich das Dasein selbst wieder als wirkliche Bürde zu geben — Befreiung des Daseins im Menschen, die jeder nur je für sich aus dem Grunde seines Wesens vollziehen kann. Das heißt aber nicht, daß in dieser Forderung läge, sich von der heutigen Wirklichkeit zurückzuziehen, sie zu verachten oder sie zu befehden. Es heißt aber ebensowenig — was dem korrelativ wäre —, in einer schlechten Augenblicklichkeit gewissermaßen Notstandsmaßnahmen für die bedrohte Kultur zu treffen. Wir müssen uns von vornherein beim Verständnis dieser Forderung, daß der Mensch heute sein Dasein selbst wieder übernehmen muß, von diesem Mißverständnis femhalten, als könnte es geschehen, daß wir durch eine allgemeine Verbrüderung im Unwesentlichen schließlich doch irgendwo dem Wesentlichen näherkommen. In der Forderung geht es vielmehr darum, daß jedes Dasein je für sich diese Notwendigkeit aus dem Grunde seines Wesens begreift. Wenn die Bedrängnis unseres Daseins trotz aller Nöte heute ausbleibt, und wenn das Geheimnis fehlt, dann handelt es sich für uns zuerst darum, diejenige Basis und diejenige Dimension für den Menschen zu gewinnen, innerhalb derer ihm überhaupt wieder dergleichen wie ein Geheimnis seines Daseins begegnet. Daß bei dieser Forderung und bei der Anstrengung, ihm näherzukommen, dem heutigen Normalmenschen und Biedermann bange wird und zuweilen vielleicht schwarz vor den Augen, so daß er sich um so krampfhafter an seine Götzen klammert, ist vollkommen in der Ordnung. Es wäre ein Mißverständnis, etwas anderes zu wünschen. [GA29-30  :254-255]


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